quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Avatar


Enquanto estudava História no colégio, vez e outra me pegava pensando nos meros mortais que testemunharam aqueles eventos. Perguntava se eles haviam percebido que presenciavam algo que seria recontado por anos. Será que quem parou para ver Maria Antonieta ser decapitada se deu conta de que aquele fato entraria para a História?

Foi daí que veio uma sensação de incredulidade quando assisti ao incidente do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Além do choque natural de ver uma tragédia daquela proporção, naquele momento eu era um dos meros mortais que testemunhava um acontecimento histórico. A propósito, agora me lembro da queda do muro de Berlim e de meu pai falando "É bom guardar essa data. Isso aí vai entrar pros livros de História."

No dia 19 deste mês, presenciei outro fato histórico, mas esse não vai constar nos livros didáticos comuns. E ainda bem que há espaço em nossos registros para coisas outras que não decapitações e desmoronamentos de torres e muros. Ainda bem que somos igualmente capazes de construir. Ainda bem que o poder de criação pode se perpetuar de várias formas, inclusive em um filme.

Avatar é um marco. Basta ler qualquer matéria sobre a nova obra de James Cameron para perceber isso. Aliás, simplesmente assistir ao longa é suficiente para se compreender a inovação que o filme representa.

Cameron criou um mundo novo, e esse realmente é admirável. A invenção de uma nova fauna e flora (que é algo realmente nunca visto), ou a constituição meticulosa do planeta Pandora, onde vivem os Na'vi, é um feito memorável. São paisagens e imagens belíssimas, que impressionam mais ainda por serem geradas por computador. É por isso que falo em poder de criação. É prova do potencial que temos para fazer o bem quando constatamos a capacidade do homem em criar coisas tão belas.

Outro mérito do filme é a perfeita integração entre o virtual e o real. O mundo novo de Cameron se expande para além de Pandora e engloba um mundo fílmico em que a computação gráfica não destoa mais da realidade, e tudo é um todo sem cortes ou costuras.

Efeitos especiais à parte, Avatar mostra conteúdo. Há mensagens políticas, mas são secundárias para mim, que sou reconhecidamente apolítica. Em vez de paralelos com o imperialismo americano, foi mais marcante ver como os Na'vi compreendem que todos provêm de uma Unidade, e como tal consciência se revela no respeito que demonstram a todas as criaturas, a eles próprios e ao mundo em que habitam. Não são melhores ou piores do que animais e plantas; são iguais, e, conforme Neytiri explica, enquanto vivem no mundo físico, apenas tomam emprestada a energia que nutre o Todo, depois devolvendo-a ao morrer. A conexão dos Na'vi com os animais permite-lhes que os bichos sejam extensão de seu corpo, atendendo à sua vontade através de palavras ditas ou pensadas. Nesse ponto, os humanos do filme tornam-se uma pálida paródia dos nativos de Pandora, porque sua conexão somente se dá com máquinas gigantescas, acionadas pelos movimentos de seus usuários.

A própria concepção dos avatares levanta a questão de como somos mais do que o corpo físico. Simplificadamente, isso se reflete na ideia de transportar mente, crenças e sentimentos de um corpo humano para outro produzido em laboratório. Há um quê em nós maior do que a soma de sinapses e reações químicas. Estamos lá. Somos esse quê.

Pela data deste post, Avatar é o último filme que comento neste ano. Acho que não poderia fechar de melhor forma. Não deixem as filas dos cinemas os desanimarem. O longa vale o esforço.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Retornando à blogosfera...

Foi preciso o amigo ICL me avisar: um mês sem atualizações!

Enquanto costuro ideias para um texto postável, mostro apenas um dos motivos por que o blog está meio parado. Estava ensaiando para minha primeira apresentação de flamenco. Olha a prova aí embaixo (todas as imagens são de Alex Hermes):









A apresentação ocorreu no dia 8 deste mês. Sucesso de público e de crítica, dizendo-se, de passagem, que público e crítica eram nossos familiares e amigos. ;o)

Check it out!


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Viver é como andar de patins



Estreei hoje o par de patins que ganhei. Há anos, muitos anos, que não patinava, então eram previsíveis toda a hesitação dos pés e todo o bamboleio do corpo tentando se equilibrar. Para completar, a amiga que convidei me deixou na mão, e aí foi o jeito me aventurar sozinha. Me, myself and I.

O que acabou sendo bom, porque foi dessa experiência que este post nasceu na minha cabeça, enquanto negociava os patins com o chão ora liso, ora esburacado da praça. O Forest Gump não disse que a vida era como uma caixa de chocolates? Pois digo que a vida é como andar de patins.

Na vida e sobre as rodas dos patins, há aqueles momentos em que você não sabe bem o que fazer. Como sair do lugar somente com seu próprio impulso? Como parar sem se atracar com um poste, com uma coluna, com um pobre desavisado transeunte? Como simplesmente parar?

Aí, se você refletir por uns segundinhos, descobre que só depende de você. Pode ser preciso um pouquinho de treino. Pode ser preciso muito treino. Mas, no fim, tudo se resume a você e à escolha de impulsionar ou frear.

Na vida e sobre as rodas dos patins, há aqueles momentos em que os acontecimentos ocorrem alheios à sua vontade ou expectativa, que nem a descida imensa que você ignorava estar no seu caminho. Como não cair? Como não terminar saindo da praça e indo parar no meio da rua, entre ou contra os carros?

Aí, se você não tiver medo, percebe que o melhor é se entregar. Deixar ir. Dá para chegar ao fim da ladeira e continuar no seu caminho se você estiver atento para fazer exatamente isso: continuar.

Na vida e sobre as rodas dos patins, há aqueles momentos em que você progrediu e não percebeu. Por que andar devagar está mais difícil? Por que ganhar velocidade se ainda estou aprendendo?

Aí, se você confiar em si próprio, entende que é melhor aderir ao movimento. Fica mais fácil se não lutar contra a tendência natural do processo. Basta colocar um pé no chão de cada vez e com fé. Basta não resistir, deixar o corpo todo acompanhar a dinâmica da coisa, compensar o alinhamento numa perna e noutra, abraçar a velocidade.

Na vida e sobre as rodas dos patins, há aqueles momentos em que você cai. É inevitável, por isso nem adianta perguntar como não cair. Todo o mundo sabe: dói pra burro.

Aí, se você se proteger, descobre que, se a queda é certa, pelo menos a dor pode ficar do tamanho que ela deve ser. Usando joelheira, você se machuca, mas não se incapacita. É uma questão de se cuidar. Fazendo isso, decepções são decepções, perdas são perdas, tristezas são tristezas. E só. Você permanece ileso. Ou talvez nem tão ileso, mas o tempo cura certo feridas reais.

Por fim, tanto na vida como sobre as rodas dos patins, depois da queda, você se levanta. Sozinho ou com ajuda de alguém, você se ergue.

E começa de novo.

De novo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Músicas Boas ou O que fazer para não fazer o dever de casa

Estava lendo o texto que vamos discutir amanhã na aula de francês. Quando vou preparar meus argumentos, surge a dúvida: como é que eu digo "lucro" en français? Aí ligo o computador para acessar meu super dicionário online (extremamente útil, por sinal), e aí bate a preguiça, a vontade de fazer qualquer outra coisa, e ouvir música é um ótimo substituto para a atividade de antes.

Alguém aí conhece Run do Snow Patrol? Foi o G. que me apresentou. É uma baita música. Adoro particularmente a parte de 4:30 a 5:22. Viajo nela.



Clipe da banda no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=83ITQsLv8Es

Run teve uma versão cantada por Leona Lewis, que o G. também me apresentou. Por mais que a introdução tenha ficado linda e por mais que a cantora tenha mais voz que o vocalista do Snow Patrol, lá para o fim a canção se torna pop-à-la-mariah-carey demais para o meu gosto. Que até que é pop às vezes, mas é que essa música tem mais alma na versão original. Pelo menos, eu acho.



Clipe dela no YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=pcpWQC9prm0&feature=player_profilepage#. Os homens devem gostar especialmente dos atributos que arfam para fora do corselete apertadíssimo que a Leona veste.

Meses atrás, a C. me mostrou esta aqui do Coldplay. Lost! Muito boa.



E no domingo passado me peguei cantando essa aí. Pena que a Avril fica absurdamente gasguita no final dela. Ou em todas as suas outras músicas.



Pronto! Enrolei o suficiente. O lucro disso é que amanhã poderei acessar todas essas músicas lá no trabalho enquanto realizo minhas atribuições nada divertidas, a despeito do que meu chefe possa querer me convencer. É que o pessoal do setor de informática ainda não bloqueou o goear, um ótimo site de música.

Falando em lucro... pesquisei. É profit, que nem no inglês. Os anglo-saxões devem ter tomado emprestado esse vocábulo também.

sábado, 24 de outubro de 2009

Tá Chovendo Hambúrguer


Taí um filme que fui ver sem expectativa alguma. Talvez por isso ele tenha me agradado tanto.

De início, duvidei de como uma história sobre um inventor que consegue fazer chover comida pudesse ter meio e fim. Pelo trailer, já sabia qual era o começo: Flint, desde pequeno, descobrira sua vocação, e ela envolvia muita criatividade e ciência.

Mas o filme tem enredo, mesmo que não seja nada de excepcional. Tem uma história para contar, e o faz acenando para questões que vivemos cotidianamente, desde a busca de aceitação pelo outro e por si mesmo até o choque entre os mundos de gerações diferentes.

Aliás, para mim esse foi um dos momentos mais engraçados do longa. Se você já fez um esforço enorme para não perder a paciência com um parente mais velho tentando utilizar um computador, saberá do que estou falando.

Falar em graça enseja comentar o que me foi mais marcante em Tá Chovendo Hambúrguer. É um filme peculiarmente engraçado. Seu humor desafia um pouco uma classificação. É meio nonsense, politicamente incorreto, pastelão. É... inusitado. Surge inesperadamente. Pega de surpresa por ser absurdo, tão absurdo quanto encontrar um par de olhos neste rosto:


Como disse, peculiarmente engraçado.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Para se emocionar, aprender, sorrir e divulgar

Imagine ter um homem que lhe escreve emails como este:
Data: 17 de novembro de 2006 16h54min0s GMT-02:00
Para: Cristiana Guerra
Assunto: minha raquete nova

Hoje ganhei uma raquete nova.
Minha raquete nova é bonita, é bonita.
Quem me deu minha raquete nova foi o meu amor.

meu amor de raquete que meu amor me deu de gostosa que ela é

um beijo

outro beijo
um beijo
outro beijo
outro beijo
um beijo
beijo outro


amorzinho, eu te amo, viu?

Hoje é aniversário do Café com Letras. Vai ter festa a partir das 18:00 com a Gabi tocando. Vamos dar uma passadinha por lá? só pra dar uma saidinha.

bjbjbjbjbj

Ou como este:
From: guifraga
Date: Tue, 14 Feb 2006 10:20:05 -0200
To: Cristiana Guerra
Subject: dia lindo

amor, o dia tá lindo lá fora.
quando der, dê uma olhadinha pela janela, eu vou estar olhando também,
aí nos encontramos na beleza de tudo que a gente vê.

um beijo bom, amor. G

Imagine que você se descobre grávida desse homem, quando você já tinha colocado na cabeça que ser mãe não faria parte de seu futuro. Você conta esse dia assim:
[...] Parei o carro no mesmo lugar de sempre e, no caminho a pé até o local do exame, me lembrei de como eu e seu pai disfarçávamos a ansiedade antes de cada ultrassom. O primeiro deles foi o mais difícil. Insegura devido a dois abortos que tive no meu outro casamento e depois de ter tido um sangramento, eu tentava preparar seu pai para o pior. Nem deixei que ele curtisse inteira a delícia de saber que ia ser pai, tamanho era o meu medo de que ele sofresse uma decepção. Esperamos bastante até ser atendidos, mas na hora H vimos uma coisinha de sete milímetros cujo coração batendo se fazia ouvir em alto e bom som. Era você. Eu me lembro que seu pai segurava nos meus pés descalços e apertava meus dedos, enquanto eu chorava por finalmente ter “chegado lá”. Um outro coração batendo dentro de mim, isso era milagre. Ele chorou também, eu sei. E saímos do consultório como dois adolescentes. Nos abraçamos na porta e choramos mais, misturando soluços e risadas. No caminho de volta para o carro, um desses momentos em que a gente sabe direitinho o que é felicidade: aquele espaço rápido entre uma ansiedade e outra, entre um problema e outro, em que tudo parece perfeito. E é.

Então imagine que, restando dois meses para seu filho nascer, esse homem falece repentinamente, de um mal que nunca supôs ter.

Como dar a volta por cima?

É o que Cristiana Guerra faz todos os dias, compartilhando esse processo no blog para Francisco. Francisco é o lindo bebê que vai ganhar da mãe um dos blogs mais emocionantes que já vi. Cris explica o propósito do site dessa forma:
Um homem tem morte súbita, dois meses antes do nascimento do seu único filho. Assim nasce este blog. Tentando entender e explicar dois sentimentos opostos e simultâneos vividos pela viúva e mãe que, no caso, sou eu. Muitos questionamentos. Muitos raciocínios. Muito aprendizado. E uma pressa em falar para o Francisco sobre seu pai, sobre o mundo e sobre mim mesma (só por garantia).
Ainda estou lendo os textos de 2007, mas já descobri neles doçura, amor, dor e vontade de viver. Tudo expresso da forma mais sincera e singela. A cada post lido, fico admirada com a coragem de Cris Guerra. Coragem de assumir pensamentos ou dias ruins, como em Eu, rio de mim, Universo ao meu redor e Afogando. Coragem de viver e ser feliz, como em O ano da minha vida, Como música e em todos os outros posts que estão lá.

Quando escrevi a "resenha" para Up - Altas aventuras, deixei de comentar que o filme tocava um coisa que dói em mim antecipada e desnecessariamente, haja vista que é sentida por algo que nem aconteceu. É que sempre me compadeço da dor da viuvez. Graças a Deus, ainda não experimentei perder pais, irmão, tios ou primos. Tenho medo absoluto dessa dor. Mas a dor de perder marido ou esposa me parece tão... profunda. É dor diferente, é dor de perder alguém com quem você escolheu passar o resto da vida. Você escolheu. Não lhe foi dado, como lhe foi dado o pai, a mãe, o irmão, o tio ou o primo. Você escolheu. E lhe foi tirado. Achei no blog da Cristiana a expressão mais concreta desse sentimento no seguinte post:

O nome da dor

Eu tive pai e mãe. E os perdi cedo, conheço essa dor. Para mim, a perda do seu pai dói muito diferente. Ele não era de onde eu vim. Era para onde eu ia.

Puxa.

Depois de tudo, desnecessário dizer, mas aí vai de qualquer forma: vale muito a pena conferir.

p.s.: Dando crédito a quem o merece: descobri o para Francisco no Blog da Silmara Franco.

domingo, 18 de outubro de 2009

Insanos

Está escrito lá no site do Beach Park:

"O Insano é o mais alto toboágua do mundo com 41 metros de altura, recorde registrado no Guiness Book. Sua altura equivale a dimensão vertical de um prédio de 14 andares.

Em função da sua altura e inclinação, o toboágua proporciona uma descida extremamente rápida - cinco segundos - a uma velocidade de 105 km/h. Por essas características, o Insano é considerado o mais radical dos equipamentos do gênero no planeta. Ao final do percurso, o Insano possibilita um relaxante mergulho na piscina."

Eu fuuuu
hhhhhhhu
hhhhhhhhu
hhhhhhhhhu
hhhhhhhhhhu
hhhhhhhhhhhu
hhhhhhhhhhhhu
hhhhhhhhhhhhhu
hhhhhhhhhhhhhhu
hhhhhhhhhhhhhhhuuuuuuiiiiiiii !!!!!!!!!!!!!!

Juntamente com os amigos Aluízio, G., Bb. e J. Insanidade coletiva é massa!

E mais divertida! ;o)

Saí de perna bamba.

domingo, 11 de outubro de 2009

Passa lá


Post curtinho para recomendar um grande blog. A dona do site é uma publicitária, e a gente pode admirar as palavras e as ideias dela no Blog da Silmara Franco.

Meu texto favorito até hoje é o Brincadeira Séria. A Pessoa Inteligente que recomendou e, na época, caia como uma luva para o que eu estava vivendo (na verdade, ainda cai).

Descobri hoje o lindo Carta genérica para um bebê.

Vale muito a pena conferir.

sábado, 3 de outubro de 2009

Um brinde às páginas viradas

Há umas coisas na vida que, depois de vividas, devem se tornar página virada. É assim mesmo: acaba, dói, sara e acaba. Um ponto final para dar fim a muitas angústias, erros e dúvidas. Um ponto final para clarear a certeza de que agora se fará o que é bom de verdade para cada um. E o cabô que antes causava perplexidade, porque como é que acaba uma coisa que se queria tanto, vira que nem a página, e do outro lado ele é cabô que deve ser comemorado, porque é igual a começar algo melhor.

Em celebração a esse cabô que é página virada, aí vai uma música do Pedro Luís e a Parede, que conheci graças à amiga Bb.:



(Música : Zé Renato / Letra : Pedro Luís)

Acabou o jogo
O dia acabou
Com um copo d’água
O fogo apagou

Desatinei e descobri
Pra ser um rei
É só sorrir
Com a boca
Bocabô
Cabô
Cabô, cabô

Eu quebrei o gelo
O sol esquentou
E todo novelo
Já desenrolou

Novela não
Zelo por mim
No coração
O que era ruim

Cabô
Cabô cabô
E vou seguir cantando, brindando minha página virada.
Cabô cabô.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Olhando para cima

Descobri isso no blog do Hiro, neste post aqui. O site da Nasa disponibiliza imagens do universo todos os dias, postadas com comentários de astrônomos.

Descobri que as minhas favoritas são as fotografias daquilo que se pode ver daqui a olho nu.

Esta é de 12 de setembro:



Esta é de 7 de setembro:



O resto vocês podem conferir aqui.

domingo, 6 de setembro de 2009

Up - Altas aventuras


Que analisamos as coisas de acordo com nossa história de vida e crenças, isso todo o mundo já sabe. Depois de ler algumas resenhas sobre Up - Altas Aventuras, percebi que, com exceção de um trecho, todos os momentos do filme que tiveram significado especial para mim não foram citados pelos críticos. Na verdade, não há como ser diferente. Para isso serve meu Reflexos aqui.

Up conta a história de um velhinho chamado Carl Fredericksen. Um dia, Carl decide que, em homenagem ao sonho que nutria com sua falecida esposa Ellie, chegará às Cachoeiras do Paraíso, na América do Sul. A novidade é o modo como o septuagenário realiza a viagem: sua casa é içada aos céus por milhares de balões. Mal sabe Carl que tem um passageiro acidentalmente a bordo, o falante (mas a coisa mais fofa) Russel. Depois de alguns incidentes, chegam ao destino da viagem. E aí começa a aventura.

Não pressuponham a partir daí que Up se concretiza como um mero filme de criança. Como é tradição da Pixar, seus filmes alcançam adultos e possibilitam reflexões. Neste longa em particular, minha lição foi o desapego. Carl aprendeu a conviver com a ausência de sua esposa apegando-se a tudo que foi deles. Com isso, estacionou no tempo. A partir do momento em que decide voltar a viver, Carl começa a fazer escolhas, e a principal delas é simplesmente deixar ir. Há uma cena em que, para fazer a casa flutuar novamente, Carl se desfaz de sua mobília. Achei isso a metáfora do desapego: para voar, é preciso abrir mão.

Vinculada à ideia do desapego, está a lição de viver. Outro momento tocante do filme é o recado de Ellie para Carl. Podem não ter conhecido as Cachoeiras juntos, mas viveram muitas outras coisas na companhia um do outro. Foi um tipo diferente de aventura, mas que igualmente teve seu valor.

Falando em valor, para vocês terem ideia do prestígio de Up, a animação foi escolhida para abrir o Festival de Cannes 2009. Imaginam isso? Uma animação americana em um festival sério que se passa na França? Posso dizer uma coisa? Não é à toa. O visual é lindo, o conteúdo é emocionante e engraçado e o trabalho é meticuloso. A Pixar se procupou até com a barba de Carl! Ao longo do filme, ela começa a aparecer, já que o velhinho está ocupado demais para fazê-la.

Por fim, falo de dados interessantes que li nesta resenha de Richard Corliss, e que ressaltam o cuidado da Pixar em compor seus trabalhos. Um deles é o fato de que o desenho das personagens foi elaborado para refletir a personalidade delas. Carl velhinho tem o rosto mais quadrado porque é assim que é, quadrado. Russell, por outro lado, é como um balão, provavelmente por ser tão incontrolável quanto. E mais, ao escolherem o ator Ed Asner para dublar Carl, os roteiristas alteraram as falas do protagonista para adequá-las ao padrão de fala do ator, escolhendo palavras que tivessem mais consoantes e encurtando as frases.


Se posso recomendar um filme, recomendo Up. Já entrou na minha categoria de filmes ternos. E o momento que é unânime entre os críticos quando se fala de lirismo, doçura e dor é a passagem que conta a história de Carl e Ellie juntos. Verdadeiramente emocionante. Podem conferir.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

As Fast Girls do Hiro

Quem come McDonald's conhece sua famosa toalhinha de bandeja, aquela com os desenhos e os temas legais. Pois é, o cara que faz esse trabalho tem um blog (que está na minha lista de blogs aí à direita), e chama-se Hiro.

Hiro tem um projeto de desenhar rapidinho mulheres (quase) todos os dias para postar no blog. Daí vem o nome Fast Girls. Faz parte de um exercício de espontaneidade, por mais paradoxal que isso soe. Há vários desenhos em Widoníd Another Hiro, mas as minhas Fast Girls favoritas até agora são estas:

Sem comentários. Afinal, é Amélie.


No Street Fighter, só jogava com a Chun Li.


Só porque a Audrey Hepburn ficou fofa. Ah, e porque ela é um ícone também.

Adoro essa Betty, por mais que não seja a original. É que a America Ferrera tem um carisma que cativa.


E não podia faltar a Scully.

Pratos limpos

Hoje me lembrei de uma coisa. Não é um fato novo, mas tinha me deixado levar pelo turbilhão de coisas que estão acontecendo e havia esquecido uma premissa básica: o valor de pôr tudo em pratos limpos.

Queria até dizer que busquei a pessoa com quem deveria conversar para resolver uma situação que me incomoda, mas aí estaria mentindo. O que fazia era esperar que algum evento ocorresse e tornasse inevitável a conversa. No fim das contas, acabei forçando o evento, porém permaneci inerte. Funcionou porque a pessoa me procurou, no entanto isso ainda ilustra minha postura passiva e covarde.

A boa notícia para mim é que, na hora H, a covardia se foi. Acho que disse o que devia ser dito, e o tempo vai me dizer se fiz realmente o que a vida me pedia naquele momento. Mas o principal motivo para escrever hoje é compartilhar esse vislumbre que tive depois que tudo acabou. Vi de relance, dentro daquela bolinha transparente que é a verdade, o equilíbrio acenar para mim, porque enfim ainda não o encaro diretamente. É que a cabeça anda meio pênsil de tantas noias e inúmeros fantasmas.

E, por mais incrível que pareça, pratos fazem parte de uma metáfora presente na minha vida, tal qual a dos reflexos. Lavar pratos era um subterfúgio para não correr atrás do que quero. Percebi que, se deixo tudo em pratos limpos, eles não podem servir de desculpa para sabotagem de mim mesma.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Inimigos Públicos ou Quando questão de gosto é questão de gosto


Inimigos Públicos virou queridinho da crítica. Sinceramente, para mim não funcionou. Sei reconhecer que é um bom filme, mas dificilmente o verei de novo, e aí admito que é por uma questão de gosto.

Inimigos Públicos é filme de gângster. Só por isso me pareceu um pouco anacrônico. Não quero dizer com isso que acho "velho" qualquer longa que se passe no passado. Adorei O Patriota e geralmente gosto dos épicos. A questão é que filme de gângster me parece quase um gênero, tal qual filme de pirata, de que Piratas no Caribe é exemplo único hoje em dia. E se filme de gângster for mesmo um gênero, não entendo o apelo de metralhadoras disparando e corpos sendo perfurados à semelhança de um queijo suíço.

O curioso foi que nem a maneira ultramoderna de filmar o longa acabou com essa minha sensação de estar assistindo a algo fora do seu tempo. Na realidade, a direção do filme me causou estranheza. Achei destoante aqueles cortes e movimentos de câmera rápidos para contar uma história que se arrasta. Para mim, restou a impressão de algo inadequado, como se visse alguém vestindo roupas que definitivamente não lhe cabem.

Porém, deixando de lado o que não gostei e falando do que efetivamente gostei, resta mencionar o elenco. Não dá para reclamar de Johnny Depp, Marion Cotillard, Billy Crudup e Christian Bale. Adorei todos eles.

Para terminar, friso que Inimigos Públicos é um bom filme. Mas é que, quando a questão é de gosto, não se tem como evitar. A despeito de todas as qualidades do longa, não consegui gostar dele.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Uma violinada no status quo

Nesta terça, comentei com um amigo que alterar o status quo me causa um sentimento de admiração. Mudei um estado de coisas. Ontem não era aprendiz de violino.

Hoje sou!


Aproveitando a empolgação, vou compartilhar aqui as coisas que achei interessantes. Os que entendem do instrumento (o amigo Procurador está incluído aí) podem me corrigir (se bem que o amigo Procurador não se dá ao trabalho de passar por aqui, né?):

- O som do violino é "produzido" não só pelas cordas, mas também pelos tampos superior e inferior do instrumento (a parte da frente e a de trás). É por isso que a qualidade da madeira influi na qualidade do som.

- Dentro do instrumento, há uma pequena estrutura que conecta e transmite o som de um tampo para o outro. Essa peça é chamada alma do violino.

- No arco do violino (aquela "varinha" que o músico usa para tocar o instrumento), a parte que entra em contato com as cordas é feita de crina de cavalo.

- Um bom (leia-se muuuuuito bom) violino produzido à mão custa, no mínimo, R$ 5.000,00!

E há as coisas que não são interessantes, mas que vou compartilhar porque o blog é meu:

- Doeu minha clavícula. A dica é usar um paninho ou comprar um tipo de suporte para dar melhor apoio.

- Minha mão é pequena demais! Não consigo separar suficientemente os dedos para prender as cordas.

- Meu braço esquerdo doeu também. Aí só a prática resolve.

- A mão direita também doeu. Mesma solução acima.

- Descobri que meu dedo mínimo da mão direita é surpreendentemente fraco: preciso dele para equilibrar o arco e ele nem tchum.

Por enquanto é só.

domingo, 26 de julho de 2009

Você está aqui para ser feliz

Mais um vídeo. Esse aí o Aluízio me passou por e-mail.



Quem diria que posso tirar lição de vida de um comercial da Coca Cola?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Porque é lindo

Vi o vídeo abaixo no inigualável blog do fabrício. Porque é lindo, resolvi postar a primeira parte aqui. Essa arte faz crer na humanidade: se há um poder criativo como esse em uma mulher, deve haver soluções para muitos problemas dentro de várias pessoas mundo afora.

Deixando de blá-blá-blá, olhem só que legal:



A segunda parte vocês podem conferir em Tempo é areia.

domingo, 19 de julho de 2009

Harry Potter e o Enigma do Príncipe!


Okay, o filme é Harry Potter, então minha tietagem pode impedir uma análise mais profunda (como se eu fosse a crítica de cinema). Aliás, pela dificuldade que estou tendo em escrever este post (já comecei e apaguei várias vezes), vejo que só posso redigi-lo se for na condição de fã.

Já havia mencionado que Harry Potter e o Enigma do Príncipe é meu livro favorito. Depois de testemunhar o aborrescente que Harry foi em Harry Potter e a Ordem da Fênix (livro anterior), era um alívio vê-lo mais relaxado, mais engraçado, mais maduro. Apesar das diversas incursões ao passado de Tom Riddle (o futuro vilão Voldemort), Enigma do Príncipe é um livro bem mais leve, um retorno ao elemento lúdico do universo criado por J. K. Rowling.

No entanto, a principal razão para adorar o sexto livro é o romance entre Harry e Ginny, aquela irmãzinha do Rony que tinha a maior queda pelo Harry desde pequena, mas que nunca tinha sido correspondida. Foi uma surpresa agradável descobrir juntamente com Harry que ele sentia ciúmes da Ginny, e era um barato vê-lo lutando contra instintos, pensamentos e desejos até poder assumir seus sentimentos em relação a ela.

Esses dois motivos que me fazem gostar tanto do Enigma do Príncipe estão presentes no filme, mas não ganharam o relevo que possuem na obra escrita. O longa, talvez para preparar o terreno para o que está por vir, escolheu focar o lado mais sombrio do enredo. Como é impossível retratar tudo o que há no livro, enfatizaram a relação entre Harry e Dumbledore e sua busca pelas memórias de um professor que podem revelar o segredo de Voldemort. É certo que há vários momentos divertidos, e há romance (uhu!), mas persiste o fato de que Enigma do Príncipe tenta ser um filme mais sério.


Mesmo assim, adorei Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Ele não desbancou o meu favorito até agora (em relação aos filmes, prefiro o quarto da série, Harry Potter e o Cálice de Fogo), mas puxa! como faz jus ao conjunto da obra. O visual continua lindo, os efeitos são impressionantes, e o longa ainda conseguiu me assustar e me comover mesmo quando já sabia o que esperar.


Foi interessante notar as liberdades que Steven Kloves tomou ao adaptar o livro. Kloves havia escrito os roteiros de todos os filmes exceto o do anterior (Harry Potter e a Ordem da Fênix). Neste sexto longa, acrescentou, cortou e modificou muitas coisas, o que me faz refletir sobre a influência da pressão do mercado nas escolhas de um roteirista. Não deve ser à toa que, só agora que a série já está mais do que estabelecida comercialmente, Steven Kloves começa a se desprender dos livros e a ousar. Por mais que isso possa irritar muitos fãs, acho que há espaço para inovar nos filmes desde que não se descaracterize a essência da saga. Até o presente momento, penso que todas as adaptações foram bem sucedidas.

E olha só que legal. Tinha adorado as cores do filme. Há uma cena nA Toca, cujo colorido é lindo (apesar da cena em si ser bem tensa). Eis que, lendo a resenha do Pablo Villaça, descubro que o diretor de fotografia é o mesmo dO Fabuloso Destino de Amélie Poulain! Talento é talento.

Por último, só falta registrar uma impressão personalíssima. Achei estranho ver um estilo de direção se repetir em Harry Potter. Com exceção de Chris Columbus, que não tem estilo algum, nenhum outro diretor havia dirigido mais de um filme da série. David Yates comandou Ordem da Fênix, repetiu a dose agora em Enigma do Príncipe e retornará em Relíquias da Morte, que será dividido em duas partes. Ao contrário de Columbus, tem uma forma bem marcada de conduzir a câmera, então foi inevitável sentir algo parecido com déjà vu em certos momentos.

Termino com um trechinho da resenha do Pablo Villaça, que deu cinco estrelas para o filme (êêê!) e me deixou orgulhosa. Afinal, não é qualquer filme que arranca elogios dele:

Revelando-se um pequeno milagre no esquema de produção industrial de Hollywood em função de sua consistência ao longo de seis filmes, a franquia protagonizada pelo (já não tão) pequeno bruxo finalmente alcança, em O Enigma do Príncipe, um exemplar próximo da perfeição - e torçamos para que os dois últimos longas mantenham o padrão de excelência aqui atingido. Afinal, já são quase dez anos investidos no universo fantasioso e encantador de J.K. Rowling.


sábado, 11 de julho de 2009

Querer quebrar

As coisas vinham caminhando nesse sentido, mas somente na semana passada percebi algo.

Todos nós temos padrões de comportamento, ditados por motivações internas que muitas vezes desconhecemos. Há alguns meses, caí na minha própria armadilha: dei uma resposta automática, repetindo um padrão de esquivar-me de situações de "risco" potencial, e acabei perdendo uma oportunidade de tentar algo novo. Era um mecanismo tão visceralmente embutido em mim, que só me dei conta do que fizera minutos depois. E depois teimei em dizer que não havia conserto, mas a verdade é que queria que não houvesse conserto.

A ficha que caiu na semana passada tem a ver com isso. Meu problema já não é tanto reconhecer o padrão; a questão é querer quebrá-lo. Descobri um em particular, que emperra minha vida, mas que simplesmente não quero quebrá-lo, sei lá por quê. Continuar com essa conduta implica abrir mão de outras coisas que desejo, mas permaneço presa a ela como a criança agarrada à saia da mãe.

Porque, se a criança está agarrada à saia da mãe, não há como ter as mãos livres para pegar qualquer outra coisa. Não há como sair da zona de conforto.

Não há como viver.

E então as pessoas poderiam me perguntar "Você não quer viver?" É claro que quero. Só que infelizmente ainda quero viver no mundinho perfeito em que não há dor e frustração. Um dos meus desafios de agora é encarar a vida real de todos os dias e fazer que ela também seja minha.

Para tanto, tenho de quebrar o tal padrão. Entendo que, se quero mantê-lo, é porque "ganho" algo com ele. Só que esse "ganho" vem assim escrito por um motivo: é falso. Sua falsidade somente já deve ser razão suficiente para querer quebrar.

Tudo isso me trouxe à mente uma cena de um dos episódios mais bonitos de Arquivo X. Era ainda a segunda temporada, e Scully estava em coma depois de sua abdução. Seu testamento era claro em não permitir que prolongassem sua vida por meio de aparelhos. Quando os médicos desligaram as máquinas, os autores usaram a metáfora da cena abaixo:



Minha corda também precisa romper-se.

domingo, 5 de julho de 2009

Dúvida

Este post contém spoilers.


Depois de ver Dúvida, tinha apenas uma certeza: é um bom filme. De resto, prevaleceu a sensação de não saber. Não saber se o padre Flynn era inocente, não saber se a irmã Aloysius estava certa em seu julgamento, não saber se a mãe de Donald Miller agiu corretamente.

Não saber como redigir o post que queria escrever para esse filme.

Após a leitura de algumas resenhas, a ficha caiu. Era tão óbvio. O propósito do filme é este: deixar em dúvida. Não há como ter certeza, porque o longa foi concebido para fazer o espectador duvidar.

Para quem não conhece o enredo, aqui segue uma sinopse pinçada lá do Cinema em Cinema, em mais uma excelente crítica de Pablo Villaça:

A grande questão apresentada pelo texto impecável do também diretor John Patrick Shanley (inspirado em sua própria peça) gira em torno da natureza da relação entre o padre Flynn e o jovem Donald Miller (Foster): depois de ver o sacerdote colocar uma camisa no armário do garoto, a inexperiente freira Irmã James (Adams) alerta sua superiora, a madre Aloysius (Streep), que imediatamente conclui que algo terrível está acontecendo, decidindo impedir que o padre continue a “fazer mal” aos alunos da escola comandada por sua igreja. Ambientada em 1964, a trama remete claramente aos inúmeros escândalos que atingiram os católicos nos últimos 15 ou 20 anos – e ao suspeitar de pedofilia, as duas irmãs agem como se simplesmente constatassem a concretização de um temor antigo.

Agora que escrevo e me lembro das minhas reações durante o filme, fico impressionada com a vacilação em que me percebi. Isso ocorreu porque vários fatos podem ter mais de uma interpretação. A dúvida principal diz respeito à conduta do padre Flynn, é certo. Mas ela existe porque tudo o que é passível de ser considerado como prova de sua culpa pode igualmente ser interpretado a favor de sua inocência. Donald Miller olha com adoração para o padre Flynn porque o sacerdote é o único que o acolhe ou porque o garoto foi seduzido pelo religioso? Padre Flynn fala tão fervorosamente de compaixão pelos erros dos outros porque é compassivo ou porque busca redenção para seus próprios desvios? E mesmo que seja verdade a segunda hipótese, como garantir que sua trangressão é a pedofilia, e não simplesmente uma crise de fé ou um relacionamento com uma mulher? Há vários motivos para justificar a ira de Flynn ao saber que a irmã Aloysius pesquisou seu passado, desrespeitando as regras ao falar diretamente com uma freira e não com o pastor da paróquia em que Flynn servira anteriormente. Há vários motivos, inclusive o medo de ser exposto como o pedófilo que é, mas simplesmente não há como sabermos.

É ainda fascinante constatar toda a ambiguidade que o filme instaura ao desenrolar-se justamente dentro de um universo em que imperam dogmas, em que o maniqueísmo vige. Na Igreja Católica, pelo menos nos moldes em que fui criada, não há muito espaço para tons de cinza e meio-termos. Pelo contrário, existiram muitos brancos ou pretos e extremos. Em Dúvida, porém, há ambiguidade em tudo. Melhor dizendo, há relativização em tudo. Até irmã Aloysius, conservadora, seca, inexorável, é capaz de atos de compaixão com uma colega que está perdendo a visão.

No entanto, a maior relativização é demonstrada na reação da mãe de Donald Miller ao ser comunicada das suspeitas acerca da relação entre seu filho e o padre. Esse assunto já foi muito bem tratado pelo Aluízio nesse post do Galera_D. Vale a pena lê-lo.

Assim como vale a pena assistir a Dúvida, um filme que causa tensão apenas com diálogos, que trata ainda de outras questões da Igreja, da sociedade e do indivíduo e que apresenta um grande elenco e excelentes atuações.

Por fim, para ilustrar o que falo acerca de atuação, transcrevo aqui um segmento da resenha de Pablo Villaça em que elogia o trabalho de Philip Seymour Hoffman:

E é aí que Hoffman, um ator inteligentíssimo, começa a plantar pequenas sementes de dúvida através de sutilezas brilhantes em sua composição [...] E o que dizer do fantástico momento em que, ao negar a acusação, ele sacode levemente a cabeça num gesto afirmativo, como se desmentisse a si mesmo sem reparar?

No filme, isso ocorre neste momento:



Realmente impressionante, não?


domingo, 28 de junho de 2009

Everything

Essa é uma das minhas músicas preferidas no momento. Não é nova, mas sou meio desconectada das novidades mesmo, e o que é bom de fato não tem prazo de validade.

Uma letra dessas só podia ser da Alanis Morissette. Gosto muito de ver o quão humana ela se faz nessa composição, admitindo transitar entre polaridades, reconhecendo ser o que está sendo em cada instante. Há ainda uma aceitação de si por si e pelo outro que acho inspiradora.


Para quem não conhece, a letra é a seguinte:

I can be an asshole of the grandest kind
I can withhold like it's going out of style
I can be the moodiest baby and you've never met anyone
Who is as negative as I am sometimes
I am the wisest woman you've ever met
I am the kindest soul with whom you've connected
I have the bravest heart that you've ever seen
And you've never met anyone
Who is as positive as I am sometimes

You see everything
You see every part
You see all my light
And you love my dark
You dig everything
Of which I'm ashamed
There's not anything to which you can't relate
And you're still here

I blame everyone else not my own partaking
My passive aggressiveness can be devastating
I'm terrified and mistrusting
And you've never met anyone
Who is as closed down as I am sometimes

You see everything
You see every part
You see all my light
And you love my dark
You dig everything
Of which I'm ashamed
There's not anything to which you can't relate
And you're still here

What I resist persists and speaks louder than I know
What I resist you love no matter how low or high I go

I'm the funniest woman that you've ever known
I am the dullest woman that you've ever known
I'm the most gorgeous woman that you've ever known
And you've never met anyone
Who is as everything as I am sometimes

You see everything
You see every part
You see all my light
And you love my dark
You dig everything
Of which I'm ashamed
There's not anything to which you can't relate
And you're still here

And you're still here...

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Entre os Muros da Escola ou Ao bom professor II


Fazia um tempinho que esse filme me esperava, e finalmente o vi. É baseado na obra autobiográfica do professor François Bégaudeau, que interpreta a si mesmo no longa, assim como muitos de seus alunos e colegas o fazem. Em resumo, posso dizer que o filme retrata um ano letivo em uma escola parisiense.

Essa síntese não se encontra à altura do longa porque retratar esse ano letivo em uma escola parisiense englobou tantos eventos, erros e acertos, tantas dificuldades, preocupações e discussões, que o filme parece ser um minifilme a cada momento. Enquanto assistia, pensava em quais trechos escolheria para ilustrá-lo no blog, mas a verdade é que qualquer cena poderia ser postada aqui sem comprometer o conteúdo do filme. É que o todo desse filme representa bem o que cada parte demonstra: estar em sala de aula. Isso mesmo, o filme mostra esse único fato assim nuamente escrito sem qualquer outro advérbio, sem qualquer outra consideração. Estar em sala de aula.

O valor desse relato fílmico se encontra no fato de que não é qualquer pessoa que está em sala de aula. François Bégaudeau é um educador, e isso faz a diferença. Poderia cruzar os braços, desmotivar-se em virtude da indisciplina dos alunos (e acreditem que é enorme), fingir estar ali. Aliás, mesmo que ensinasse apenas tempos verbais, gêneros textuais e vocabulário ainda seria um certo fingir estar ali, pois, em face do caráter que François aparenta ter, essa conduta ainda não seria de todo coerente com ele próprio. François está em sala de aula por completo, porque instiga os alunos a debater, a desenvolver ideias, a argumentar, a ter disciplina e respeito. Por causa dele somente é que existe o título alternativo deste post (que faz referência a este aqui).

Ops. Reli o parágrafo acima e parece que estou sofrendo de uma pequena paixonite. :o)
Mas é que, como já fui professora, fiquei impressionada com o modo como François consegue transitar no campo minado que a sala de aula pode ser. Lembrei do medo que tinha de perder o controle total da classe assim que vi François entrar em sala pela primeira vez. E foi assim durante a maior parte do filme. E também durante a maior parte do filme, François me surpreendeu por aproveitar as falas dos alunos e não deixá-las em vão, mesmo que fossem insultos. É uma mostra de inteligência e coragem.

Só que François é também humano, e veremos que comete erros. Um em particular desencadeia uma série de eventos bem tensos. Em outros momentos, seu sarcasmo com os alunos me incomodou um pouco, mas ali também havia a lição de lidar com as consequências do que se fala, já que geralmente seu deboche é motivado pelas brincadeirinhas dos estudantes. Apesar disso, a conclusão não pode ser outra: François Bégaudeau é um bom professor.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Chiquitas - Ilona Mitrecey

Eu sei, eu sei, eu sei.

É música de criança, eu sei.

Mas é tão bonitinho.

E dá até pra dizer: é música de criança francesa.

Tem coisa mais chique que isso?



Vi hoje na aula de francês. Achei melhor do que ouvir Aline e uma outra música lá, que era sobre amor, obstáculos, e uma porrada de coisa para a qual não tenho a mínima paciência no momento.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Reflexos

Essa é uma das muitas fotos que o Aron fez. Como ela tem a ver com a ideia do blog e com o conto Refletir, deixei de lado minha cautela em postar fotos e a compartilho com vocês.

domingo, 3 de maio de 2009

Descompasso

Depois de ver o vídeo da Susan Boyle, Britain's Got Talent virou minha nova mania. No YouTube, vi todos os episódios deste ano e os mais marcantes de 2007 e 2008. É engraçado perceber que, até em um show de calouros, há o que se aprender e pensar.

Neste post, quero abordar um tema que me intriga. Ilustro primeiro com esse vídeo do trio adolescente Singing Souls, que se julga melhor que as Pussycat Dolls e Sugababes.



Meu segundo exemplo é Kay, dono de uma performance que alega ser única, pois é capaz de imitar um saxofone apenas com sua voz.



Okay. Dá para adivinhar o que me intriga?

Desde que comecei a ver esse programa, fiquei impressionada com a imagem que certas pessoas têm de si e o descompasso desse autoconceito com a realidade. Não existe aqui nem espaço para dizer que é uma questão de gosto ou opinião. É fato que as três adolescentes não são cantoras melhores que as Pussycat Dolls e que Kay está longe de imitar um saxofone.

Como não sou psicóloga, não disponho de conhecimento especializado para entender isso, então só me resta especular. Que mecanismo é esse que existe dentro de nós que nos impede de nos vermos verdadeiramente?

Essa pergunta ganhou peso maior quando vi este último vídeo, extraído do programa de 2 de maio. Coloco-o na íntegra porque merece ser visto. Jamie Pugh é um trabalhador cujo sonho é cantar no Royal Variety Performance. Seu grande obstáculo é o medo do palco, que diz ser paralisante. Porém, decidido a vencer essa limitação, ele se inscreveu no programa. O resultado foi o seguinte:



Talvez o medo do palco não seja o maior desafio de Jamie. Quando se emocionou ao ouvir de Simon que é hora de acreditar em si, a reação de Jamie me fez pensar que ele também tem uma imagem errada de si mesmo, desta vez não condizente com a realidade porque inferior ao que Jamie é de verdade.

Depois desse vídeo, vi que a questão é uma via de mão dupla: podemos nos achar melhores do que realmente somos, mas também podemos ser incapazes de perceber o quão bom somos. Aproveitando a metáfora que subjaz ao nome deste blog, nos dois casos o reflexo não condiz com o objeto refletido, com a realidade. Ora a imagem é maior do que deve ser, ora é menor.

Que espelhos são esses que usamos? Por que foram forjados?

Como nos livramos deles?

Ao vencer o seu medo, ao ter seu valor afirmado e restituído, Jamie se disse completo. Nem maior, nem menor. Na medida certa.

Sem descompasso.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Estreei os 27 anos com um papoco!

Podia trocar o título deste post por "Falta do que fazer". Tremendamente entediada, andei fuçando meu próprio blog (será que isso se chama narcisismo?), e decidi terminar o mês de abril com dez posts para bater meu recorde mensal.

Vi meu primeiro post e o compromisso que fiz comigo de ter um 2009 diferente. Até agora, pelo menos em relação a certas datas, parece que consegui. Minha maior vitória foi comemorar meu aniversário (sexta-feira passada, dia 24) de bem com a vida. Depois de muito tempo, foi o primeiro em que não me incomodaram as coisas que não tenho. Pelo contrário, celebrei intimamente as coisas que tenho. Celebrei até o fato de ter conseguido pegar o bolo na casa da boleira-que-mora-no-fim-do-mundo sem me perder no caminho.




Aliás, meu presente de mim para mim mesma foi uma experiência e tanto. Resolvi conservar meu momento de bem-estar com um ensaio fotográfico. Meu propósito foi preservar um momento inédito de saudável autoestima. Foram mais de setecentas fotos, nas quais apareço em mais da metade:

a) fazendo careta;
b) em estado de visível tensão;
c) com os olhos quase fechados por causa da combinação luz solar + astigmatismo;
d) fazendo careta, em estado vísivel de tensão, com os olhos quase fechados por causa da combinação luz solar + astigmatismo.

(Isso me lembra esse post engraçadíssimo da Maddie.)

Mas no fim, o produto ficou legal graças principalmente ao Aron Rocha, O Fotógrafo. Quem quiser ver o trabalho dele, pode seguir este link aqui. Ressalto que foi mesmo uma experiência e tanto. Saímos sete da matina rumo à Prainha, parando em locais bonitos no meio do roteiro para aproveitar paisagens enquanto o banco traseiro do meu carro ficava pior do que meu quarto, com todas as trocas de roupas espalhadas por cima dele.

Falando em carro...

Aí veio o papoco (ou segundo o Houaiss, o estrondo). Em um domingo ensolarado, dia 26 de abril - para ser mais exata, saio sorridente para uma caminhada na praia. Mas eis que havia um ciclista suicida circulando pela Av. Santos Dumont. Eis que ele acha de atravessar a avenida no momento em que um carro se aproxima. E então o carro freia bruscamente para frustrar o desejo suicida do ciclista filho-da-puta.

Aí bato no carro que freou bruscamente.

E então? Estreei os 27 anos com um papoco ou não? A boa nova é que estou bem, tenho seguro e gostei da minha reação na hora do acidente. Em vez de pensar "Não acredito que isso aconteceu comigo" (será que isso se chama egocentrismo?), disse mentalmente:

"Porra, bati o carro."

Ponto final.

E o ciclista suicida? Sequer olhou para trás. Deve estar causando mais prejuízos por aí, o filho-da-puta.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O valor de Susan Boyle

Vi este vídeo no Cactus Cola (na realidade, o de lá é completo):



Vídeo extraído de http://www.youtube.com/watch?v=uk2yIqBfb_I. (Observação em relação à legenda: acho que Susan quis dizer que gostaria de ser tão famosa quanto Elaine Paige, "The First Lady of British Musical Theatre". Ellen Page é a atriz de Juno).

Desnecessário dizer que chorei. Lembram do meu ponto fraco revelado no post do filme Quem quer ser um milionário? Ei-lo aqui. Percebam a crueldade de alguns da plateia (a dos jurados nem se fala). Notem o pequeno sorriso de Susan antes de começar a cantar, o sorriso de quem sabe que surpreenderá todos. Testemunhem essa mulher desconstruir os valores que a mídia propaga, principalmente o da supremacia da beleza física.

Emocionem-se.

Depois reflitam.

Infelizmente, se não tivesse inferido do título do post no Cactus Cola que a performance seria extraordinária, eu também teria baixas expectativas em relação ao que Susan apresentaria no palco.

Para dar continuidade ao parágrafo acima, havia escrito a frase "Eu, que me revolto contra a ditadura da estética, que tenho ojeriza às patricinhas, também julgaria a capacidade daquela mulher pela sua aparência". Apaguei-a. Se fosse uma pessoa livre desses valores estéticos, estaria sendo sincera ao dizer isso. Mas não é o caso. Minha revolta contra o culto à beleza física ainda não é verdadeira. Resulta muito mais da minha incapacidade de me encaixar nos padrões ditados pela sociedade do que de minha consciência de que eles são superficiais. Até bem pouco tempo, ainda me julgava inferior a certas pessoas porque estava longe de ter a beleza externa que elas possuem. Não é à toa que também julgaria Susan Boyle. Ao me proporcionar material para escrever este post, Susan me fez ver o quanto minha autenticidade é pseudoautenticidade, e o quanto ainda devo amadurecer para aderir integralmente à consciência de que beleza não importa.

Daqui para frente, Susan Boyle será meu lembrete. Para enxergar o valor de cada um, inclusive o meu, o primeiro passo é ver através do físico e palpável.

Para quem quiser saber mais sobre essa grande mulher, basta seguir o link do Cactus Cola. A Bijou fez a pesquisa e conta um pouco da história de Susan Boyle.

sábado, 11 de abril de 2009

Refletir - última parte

Todas as imagens utilizadas para ilustrar este conto são obras de Eric Zener. Descobri o artista no Mundo de K.


Apenas um pequeno detalhe atrapalhou seus planos: sua condição humana. Os pulmões avisaram-lhe que precisavam de oxigênio, e percebeu a tolice de suas intenções. Subir era necessário. Respirar era vital. Viver era inevitável. Começou a nadar de volta para a superfície. Bateu as pernas com mais força, impelida pela necessidade de ar e pelo instinto de sobrevivência. Viu a água se tornar menos turva e, para constatar que atingia a superfície, olhou para cima.



Quando emergiu, ainda mirava a mesma direção e, depois de piscar repetidamente, viu o céu pela primeira vez. Contemplou-o enquanto flutuava. Sentiu a sensação gratificante de ter vencido a si mesma. Experimentou a satisfação de saber o céu como ele era. Alcançou a plenitude de tê-lo consigo, agora refletido em seus olhos.


Sorriu.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Refletir - segunda parte

Todas as imagens utilizadas para ilustrar este conto são obras de Eric Zener. Descobri o artista no Mundo de K.


Em certa tarde límpida e indiferente, sentou-se à margem do lago em busca de uma resposta. Talvez a chave para saber como olhar para o firmamento seria entender por que não conseguia fazê-lo. Era tempo de voltar a tentar compreender. Era necessário retornar às primeiras indagações acerca de si. Era o momento de ver-se. Inclinou-se para a água tranquila do seu lago-espelho e, pela primeira vez, permitiu que sua própria imagem se refletisse no lago. Perante seus olhos, ali estava ela e o céu como pano de fundo.

Sem motivo explícito, estendeu a mão para tocar a superfície da água. O leve contato pertubou momentaneamente os contornos de seu reflexo, mas o céu permaneceu refletido azul e constante. Sentiu inveja da solidez que era o firmamento - nada afetava sua imagem porque estava presente em toda a superfície lacustre. E ela continuava sem poder testemunhar a grandeza do céu. Irritou-se com isso, e então surgiu um ímpeto de ver romper-se a placidez do lago. Assim atingiria o que do céu podia alcançar: seu reflexo somente.

Tirou os sapatos e entrou na água. Sentiu a lama nos pés até o momento em que foi preciso nadar para prosseguir em sua trajetória sem rumo. Tomou fôlego e mergulhou.


Apreciou a sensação da água no corpo, do atrito com a roupa. Imaginou que talvez fosse bom chegar ao fundo do lago e morar ali. Lá se esqueceria do céu. Decidiu que queria tocar o chão da lagoa e tomou essa direção.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Olha só que honra!

A Garota_D nos deu de presente o selo 100% Intradutível!


Muito obrigada, Garota_D!!

Seguindo as instruções, devo agora dizer seis coisas aleatórias sobre mim:

1. Quero conhecer Nova York um dia.
2. Falo sozinha e xingo os outros (baixinho) quando dirijo.
3. Canto no chuveiro.
4. Adoro acordar no sábado de manhã e ler o livro que estiver na mesa de cabeceira.
5. Terminei o curso de alemão e não sei falar nada.
6. Quando meu trabalho está muito estressante, saio da secretaria e sento nas escadas por cinco minutos.

O passo seguinte é indicar seis blogs que merecem o selo (o Galera_D pode se sentir incluído aí também):

1. Mundo de K
2. blog do fabricio
3. Orgônio
4. Palavras de Osho
5. nós todos lemos
6. todo o lixo que eu amo digerir

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Refletir - primeira parte

Todas as imagens utilizadas para ilustrar este conto são obras de Eric Zener. Descobri o artista no Mundo de K.



Se perguntassem, ela não saberia responder. Enxergar o céu em poças era-lhe rotina. Jamais erguer os olhos da linha do horizonte era-lhe natural. Ver o resto do mundo no chão era-lhe destino.

O que havia com ela que não a permitia olhar para cima, apenas para baixo? Sua face jamais se voltava ao côncavo azul. Seus olhos somente alcançavam do solo à imagem deles próprios em um espelho na parede. Ela não compreendia e deixou de tentar compreender.



Assim, habituou-se a ter a magnitude acima de si espelhada nos caminhos por onde andava. As chuvas de verão eram as preferidas, preenchendo depressões e sulcos da terra com água que refletia azul celeste e amarelo solar. À noite, abria a janela e espiava o negro apinhado de astros num espelhinho de maquiagem. O maior tesouro, no entanto, era o lago, porque equivalia a uma infinitude de poças ou de espelhos, mas ela não decidia se o lago era uma grande poça ou um grande espelho. Não importava, o que contava era o reflexo.

Um dia, porém, o reflexo se fez insuficiente. Ela queria ser como as outras pessoas, cujos olhos não se restringiam a captar imagens refletidas. Desejava ver o céu sem intermediários (as poças, o espelhinho, até mesmo o lago). Atormentava-a, no entanto, a aparente impossibilidade de vencer sua condição intrínseca. Como olhar para o céu?