quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O carnaval que virou Carnaval



Vou confessar: a perspectiva de passar o Carnaval em Fortaleza não me animava. Para mim, viajar nesses feriadões é de lei, mas ironicamente a viagem que preparo para a Semana Santa me privou de alçar voo da capital neste mês.

Eis que me surpreendi. Adorei ficar em Fortaleza, apesar da minha rabugice com o mau tempo. Foi porque fiquei que meu carnaval virou Carnaval. Redescobri as partículas carnavalescas em mim, meu gosto pelas marchinhas e pelas músicas, meu encanto pelo povo que investe na alegria e sai fantasiado. Encontrei tudo isso no Benfica, nos blocos do Luxo da Aldeia e do Sanatório Geral. E o melhor foi que encontrei ao lado de amigos que nem esperava encontrar.

O Carnaval se foi. Ficou o pensamento de que a vida acontece mesmo é quando a gente sai do casulo, e vale a pena pelas pessoas que a gente encontra no meio do caminho.

E não sei por que motivo, mas estes versos do Fernando Pessoa estão martelando desde ontem: 
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Esses versos e estes, da música "Carneiro" (Ednardo e Augusto Pontes), que impregnou legal e está sendo minha trilha sonora constante:
Amanhã se der o carneiro
O carneiro
Vou m'imbora daqui pro Rio de Janeiro
Tudo culpa do Luxo da Aldeia, ;o).  

p.s.: O Luxo, na realidade, eu já conhecia do pré-carnaval. Vou sentir falta nestas sextas feiras que virão...



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Coragem de estar um ou estar dois

"Porque ficar sozinho é pra quem tem coragem"

A frase era um post no Facebook de uma colega de faculdade. Pelos comentários, intuí que a atualização deveria ser resultado de alguma conversa entre amigas. Daí prestei atenção nas aspas, procurei no Google e vi que era letra de música. Perdoem minha pouca cultura musical.

O fato é que o enunciado em questão, descontextualizado como estava, me chamou um pensamento imediato. Duvidei da coragem de quem está sozinho. Lembrei que, na verdade, há muitos que assim estão porque não venceram seus medos e jamais enxergam isso. É que medo se traveste de tanta coisa... Às vezes, ele vem como um bom gosto apurado: "não é qualquer um que satisfaz meu controle de qualidade." Mentira. Você só está é com medo de dar a cara a tapa. Outras vezes, o medo surge como uma rotina frenética de compromissos: "não tenho tempo para isso agora por causa do doutorado." Outra farsa. Você não quer arriscar encontrar alguém, porque ele não vai satisfazer seu controle de qualidade, e vai ser perda do tempo que você já não tem.

Já estive nesse exato lugar. Talvez nem tenha saído dele totalmente. Descobri recentemente que minha zona de conforto é estar sozinha. Assim a vida segue bem mais fácil. Como sempre permito a vontade do outro ofuscar a minha, viver sozinha tem gosto de liberdade porque há bem menos concessões. Sem falar que some aquele medo de puxarem meu tapete, porque não há mais tapete sob meus pés. É tudo inaptidão minha, eu sei. Mas está aí por enquanto, e por enquanto lido com ela, buscando derrotá-la.

Por outro lado, o convívio com amigos me mostra que a zona de conforto de outras pessoas é estar acompanhado. Há quem não saiba ficar só. Sobre esse oposto, não sei discorrer muito, porque não o vivencio. Penso, no entanto, que essas pessoas correm o risco de fazer más escolhas. E, como bem disse o Ivan Martins neste texto, as consequências dessas escolhas podem ser irreversíveis.

No fim, a conclusão a que minha cabeça chegou depois de ter dado algumas voltas em torno daquela frase é a de que é preciso ter coragem para estar sozinho ou acompanhado. A questão é saber o que se quer de verdade; decidir, sem ter o medo como motivo, de que formato nossa vida pode ser neste momento. Vida de solteiro e vida a dois são apenas diferentes, por mais que já esteja incutido em nossa cabeça que a felicidade só se encontra em par. E, peloamordedeus, não faço aqui apologia alguma à solteirice, que tenho pavor dessas coisas. Mas chamo atenção para o que a Pessoa Inteligente me disse certa vez: a única bandeira que as pessoas deveriam levantar era a da felicidade.

E foi sem aspas a frase acima porque vez e outra entendo torto a Pessoa Inteligente e não quero responsabilizá-la por essa, rs.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Aconteceu na vida real - A defensora dos peixes

(pra imaginar que é uma tela de cinema):

O blog Reflexos
orgulhosamente apresenta
Luciana Aguiar
em
Aconteceu na vida real - A defensora dos peixes

(e aí a gente volta pra realidade virtual e você lê o seguinte texto):

Em fins de 2008, aproveitando uma promoção de passagens por 50 reais da Gol, fui com uma amiga passar um fim-de-semana prolongado em Santa Catarina. Foi uma viagem deliciosamente não planejada, com direito a uma segunda-feira enforcada e tudo. Compramos a passagem em um fim-de-semana e já viajamos no seguinte.

No terceiro dia da viagem, estávamos tomando banho de sol sobre as pedras que dividem a Praia Da Vila da Praia do Porto, em Imbituba-SC, só curtindo o dia, depreocupadamente... quando a minha amiga avistou um peixinho debatendo-se nas pedras.

Ela apontou e disse: "Ah, Lu, coitadinho, ele vai morrer!!" Morri de pena também. Estávamos meio longe do peixinho, mas aí o espírito de super-heroína baixou e decidi ir lá salva-lo. Levei bem uns 5 minutos pra chegar lá, pois o caminho era acidentado e escorreguento. Então cheguei, peguei o peixinho e joguei-o no mar. Já ia voltando para perto da minha amiga, quando vi outro peixinho, debatendo-se também. Fiquei intrigada com aquilo. "Valha, bando de peixinhos burros, ficam saltando do mar para a pedra pra morrerem, é??" Fui lá, peguei o outro peixinho e joguei-o no mar...

Só aí entendi. Pouco à minha frente havia um pescador. O "póbi" pescava aqueles peixinhos minúsculos e colocava na pedra, de onde eu os tinha tirado e jogado de volta no mar!!

Logo que percebi a besteira que tinha feito e me virei pra sair de fininho, o cara veio com mais um peixinho. Deparando-se com o lugar mais limpo, perguntou-me se eu tinha visto algum peixe por ali.

Eu, é claro, disse que não.

Ele coçou a cabeça, procurou nas piscininhas que se formavam nas pedras...

E eu, é claro, ajudei. E ainda procurei consolá-lo com a teoria de que talvez eles tivessem pulado de volta na água...

Depois de mais algum teatrinho, despedi-me com a cara mais lisa que eu tinha e fui embora. Voltei pra a pousada pensando nas crianças dele em casa, morrendo de fome e comendo farinha com água porque uma louca tinha resolvido salvar peixinhos do almoço.

Ai, que mico!!


Rsrsrs. Pois é, hoje a gente teve a participação especial da Lu, dona do blog mais que lindo Just Breathe. Palmas, por favor! :o)

Beijo, Lu!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Aconteceu na vida real - As almofadas e o mico

Imagine.

Imagine a Valeska. Valeska é dessas pessoas bem finas, que nunca descem do salto, e, se descer, é porque calçou o pé numa sapatilha Jorge Bischoff. Jamais está menos do que bem vestida, nunca é mais do que comedida em seus atos e comentários. Preocupa-se imensamente com a arte do bem conduzir-se e ocupa-se em seguir suas regras com fidelidade. O mundo é sua passarela e seu palco.

Imagine o Marcos. Marcos, como dizem, perde o amigo, mas não perde a piada. Conta com um repertório de histórias surreais, em que figuram deputados e suas esposas de mandíbulas deslocadas, dondocas que não pagam a consulta, casais flagrados em hospitais. Relata os causos com o timing de um humorista, e por isso já pensei que ele está na profissão errada. Acrescente-se a isso um prazer enorme em fazer graça com a cara dos outros, e conclua comigo seu talento para o mundo do entretenimento.

Imagine a Joana. Joana, uma doçura de pessoa, ama rir de si mesma tanto quanto ama rir. À toa. Sério. Joana ri muito, mas é isso, dentre tantas outras coisas, que a torna tão querida. Possui um jeito simples de se portar, que deve ter passado despercebido pelo Marcos, mas adianto a carroça na frente dos bois. Sigamos com a história.

Essas três pessoas, imagine, têm em comum a amizade com uma quarta, que é a Isadora. Isa adora fazer festas em sua casa, com ou sem motivo. Oportunidade de agregar gente e tornar a vida mais bonita. Nos seus festejos, a ordem da noite é curtir sem preocupação com códigos de etiqueta ou de moda. Os comes e bebes ficam à disposição de quem queira servir-se. Os convidados se misturam nas conversas e nas risadas. A anfitriã circula sem compromisso. Modelo relax de confraternização.

Num desses saraus, Marcos e Joana se conheceram. Casou a veia humorística dele com a boa vontade dela em não se levar a sério. Foi uma noite de piadas, muitas às expensas de Joana, mas ela só ria. Foi tanta gargalhada que Marcos chegou a questionar a sanidade mental de Joana. Em voz alta e na frente dela. Outra piada.

Aí o tempo passou. Isadora ficou ocupada demais para organizar outras festinhas. Só que, em janeiro de 2010, chegou a data dos seus trinta anos, e isso merecia ser celebrado. Planejou uma comemoração ao seu jeito, em que todos os cômodos da casa fossem ambiente de festa, onde todos deveriam estar de pés descalços e sentar confortavelmente em almofadas. No convite, ficava a dica: traga a sua.

Como se tratava de uma ocasião especial, essa festa Valeska não pensou em dispensar. É bem verdade que seu estilo colidia com o de Isadora, no entanto, em consideração à amiga, desceria do salto e da sapatilha Jorge Bischoff. A bem da verdade, naquela noite, caprichava no seu pé um Manolo Blahnik, que ela deixou ornamentando outro pé, o da porta da sala, local onde os convidados deixavam seus sapatos.

Meia hora mais tarde, Marcos chegou com suas almofadas, seguindo à risca a orientação do convite. Após tirar os mocassins e entrar, vasculhou a sala em busca da aniversariante, mas não a encontrou. Viu, porém, um rosto que julgou conhecido, dirigiu-se à mulher e anunciou-lhe as almofadas que trazia, levantando-as no ar como se fossem a prova do que falava. A resposta que obteve de sua interlocutora foi um silêncio amarelo. Ele, que não é de se preocupar com coisa alguma, notou o sorriso sem graça, mas seguiu em frente em direção ao quintal.

Alcançando o último cômodo da casa, surpreendeu-se ao ver Joana, já sentandinha em seu assento acolchoado. Naquele momento, percebeu que havia cometido um erro. Após cumprimentar todos e sentar-se, perguntou a um conhecido quem era aquela mulher loura que estava lá na sala.

"Ah, é a Valeska."

Ele riu, divertindo-se imensamente com a situação.

"Pensei que ela fosse a Joana", disse.

Continuou sorrindo como o gato que engoliu o canário.

"Pensei que ela fosse a Joana, mostrei minhas almofadas pra ela e disse:

Olha o que eu trouxe pras tuas hemorroidas!"

O riso mais alto foi o da Joana.



Outra história que a licença poética enfeitou. ;o) Exagerei muito na Valeska, que, até onde sei, não tem Jorge Bischoff e muito menos Manolo Blahnik, mas era necessário para que vocês compreendessem o tamanho da gafe do Marcos.