quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Avatar


Enquanto estudava História no colégio, vez e outra me pegava pensando nos meros mortais que testemunharam aqueles eventos. Perguntava se eles haviam percebido que presenciavam algo que seria recontado por anos. Será que quem parou para ver Maria Antonieta ser decapitada se deu conta de que aquele fato entraria para a História?

Foi daí que veio uma sensação de incredulidade quando assisti ao incidente do World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Além do choque natural de ver uma tragédia daquela proporção, naquele momento eu era um dos meros mortais que testemunhava um acontecimento histórico. A propósito, agora me lembro da queda do muro de Berlim e de meu pai falando "É bom guardar essa data. Isso aí vai entrar pros livros de História."

No dia 19 deste mês, presenciei outro fato histórico, mas esse não vai constar nos livros didáticos comuns. E ainda bem que há espaço em nossos registros para coisas outras que não decapitações e desmoronamentos de torres e muros. Ainda bem que somos igualmente capazes de construir. Ainda bem que o poder de criação pode se perpetuar de várias formas, inclusive em um filme.

Avatar é um marco. Basta ler qualquer matéria sobre a nova obra de James Cameron para perceber isso. Aliás, simplesmente assistir ao longa é suficiente para se compreender a inovação que o filme representa.

Cameron criou um mundo novo, e esse realmente é admirável. A invenção de uma nova fauna e flora (que é algo realmente nunca visto), ou a constituição meticulosa do planeta Pandora, onde vivem os Na'vi, é um feito memorável. São paisagens e imagens belíssimas, que impressionam mais ainda por serem geradas por computador. É por isso que falo em poder de criação. É prova do potencial que temos para fazer o bem quando constatamos a capacidade do homem em criar coisas tão belas.

Outro mérito do filme é a perfeita integração entre o virtual e o real. O mundo novo de Cameron se expande para além de Pandora e engloba um mundo fílmico em que a computação gráfica não destoa mais da realidade, e tudo é um todo sem cortes ou costuras.

Efeitos especiais à parte, Avatar mostra conteúdo. Há mensagens políticas, mas são secundárias para mim, que sou reconhecidamente apolítica. Em vez de paralelos com o imperialismo americano, foi mais marcante ver como os Na'vi compreendem que todos provêm de uma Unidade, e como tal consciência se revela no respeito que demonstram a todas as criaturas, a eles próprios e ao mundo em que habitam. Não são melhores ou piores do que animais e plantas; são iguais, e, conforme Neytiri explica, enquanto vivem no mundo físico, apenas tomam emprestada a energia que nutre o Todo, depois devolvendo-a ao morrer. A conexão dos Na'vi com os animais permite-lhes que os bichos sejam extensão de seu corpo, atendendo à sua vontade através de palavras ditas ou pensadas. Nesse ponto, os humanos do filme tornam-se uma pálida paródia dos nativos de Pandora, porque sua conexão somente se dá com máquinas gigantescas, acionadas pelos movimentos de seus usuários.

A própria concepção dos avatares levanta a questão de como somos mais do que o corpo físico. Simplificadamente, isso se reflete na ideia de transportar mente, crenças e sentimentos de um corpo humano para outro produzido em laboratório. Há um quê em nós maior do que a soma de sinapses e reações químicas. Estamos lá. Somos esse quê.

Pela data deste post, Avatar é o último filme que comento neste ano. Acho que não poderia fechar de melhor forma. Não deixem as filas dos cinemas os desanimarem. O longa vale o esforço.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Retornando à blogosfera...

Foi preciso o amigo ICL me avisar: um mês sem atualizações!

Enquanto costuro ideias para um texto postável, mostro apenas um dos motivos por que o blog está meio parado. Estava ensaiando para minha primeira apresentação de flamenco. Olha a prova aí embaixo (todas as imagens são de Alex Hermes):









A apresentação ocorreu no dia 8 deste mês. Sucesso de público e de crítica, dizendo-se, de passagem, que público e crítica eram nossos familiares e amigos. ;o)

Check it out!