segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Escolhendo as laranjas

Estou de volta ao mundo virtual. Por motivos desorganizacionais meus e administrativos da NET, fiquei mais de uma semana sem acesso à internet no meu apartamento.

Ah, sim... finalmente me mudei.

O que não quer dizer que a mudança mais longa da história terminou. Pensando bem, ela também é a mudança mais mal planejada de que tenho conhecimento. Meu modus operandis é andar com uma caixa dentro do carro. Toda vez que passo na casa dos meus pais, trago alguma coisa pra cá. Assim, divido o todo em partes, e não parece mais tão desanimador mover tudo de um lugar para outro sozinha.

E o que dizer de morar só?

Bem, até agora está sendo uma mistura de sentimentos. Na primeira noite em que dormi no apartamento, até que me senti contente. Era um passo que adiava desnecessariamente, e vencer a resistência que ainda existia tinha ares de uma vitória. Comemorei fazendo uma meditação Kundalini no meio da minha sala, coisa que, se você seguir o link, entenderá que era impossível fazer na casa dos meus pais sem ser chamada de doida.

Mas, quando acordei no dia seguinte, bateu uma tristezazinha. Ela ainda me visita de vez em quando. Não sei bem dizer por que vem, mas aparenta ser referente a um sentimento de solidão. Isso chega até a ser engraçado. Analisando minha rotina com relação aos meus pais e ao meu irmão, nada mudou significativamente. Não éramos uma família que sentava à mesa unida, porque cada um tem seus horários. Não víamos TV juntos porque cada um tem seu gosto e seu aparelho no quarto. De certa forma, éramos sozinhos em grupo. No fim das contas, o que fiz foi apenas mudar de local. Conversar com eles só requer uma ligação ou descer a Carlos Vasconcelos ou a Barão de Studart em direção à praia. Mas, mesmo assim, às vezes olho os cômodos e algo parece faltar. Acho que é porque já moramos aqui juntos.

E aí a mistura continua, e digo que morar só também é muito bom. É um prazer inédito na minha vida encontrar as coisas no exato lugar em que as deixei, por mais (in)apropriado que seja o local. Adoro fazer as minhas compras de casa, inobstante o tamanho da fila no Carrefour. É libertador poder ouvir a música que quero sem ser questionada, cantar e desafinar sem ser criticada, meditar sem ser interrompida. Sem falar que poderei receber meus amigos para papear, assistir a filmes ou tomar banho de piscina. E, paradoxalmente, a mesma solidão que me entristece me agrada às vezes. Ah, já falei do prazer inédito de encontrar as coisas no exato lugar em que as deixei? Não tem preço.

Por fim, explico o título. Quando pensava em me mudar, uma pergunta que vinha constantemente à minha mente era: como é que vou saber escolher as laranjas? É que nunca havia comprado as laranjas do meu suco no café da manhã. Meu pai sempre fazia a feira e eu nunca prestava atenção quando ele as comprava. Então essa indagação resumia todo o meu medo e insegurança de caminhar com as próprias pernas. Aliás, era mesmo uma metáfora para esse processo.

Devo dizer que agora estou escolhendo essas laranjas metafóricas.

Só falta fazer isso com as de verdade. ;o)

sábado, 21 de agosto de 2010

Se enamora

Quando vi esse post do Bruno lá no WAKE UP AND LIVE, fiquei emocionada. Adorava essa música, e ouvi-la na voz de Tiê (que não conhecia) foi um presente.

Caso você esteja se perguntando, sim, é Se enamora do Balão Mágico, mas juro que essa versão está muito linda.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Stand By Me - Playing For Change

O projeto Playing For Change acredita que, através da música, podemos convidar todos à missão de conviver em paz. O trabalho deles é muito legal e pode ser conferido no documentário Songs Around The World. Nesse DVD, há clipes musicais e depoimentos de pessoas que enxergam a música como um intrumento de transformação. É o caso de um professor que organizou um coral de adolescentes católicos e protestantes na Irlanda do Norte.

Se não me falha a memória, tudo começou quando o cara que fundou o projeto ouviu um artista de rua chamado Roger Ridley cantar Stand By Me. Encantado com a performance do cantor, teve a ideia de levar essa mesma música a outros artistas para que somassem vozes e intrumentos à versão de Roger. O resultado é este aqui:



O site do Playing For Change pode ser acessado aqui. Recomendo ainda Don't Worry, em que vocês podem ouvir a voz linda da Tula.

domingo, 15 de agosto de 2010

SAH Restaurante


Ele ocupou o lugar do meu querido Gergelim. Foi por isso que o notei quando passei pelo número 1043 da Av. Barão de Studart. Prometi a mim mesma que daria uma passadinha lá para conhecer e só o que fiz foi adiar e adiar a visita.

Aí recebi um email da G. divulgando o SAH Restaurante. Fui com as amigas S., P. e H. no sábado passado e retornei hoje. Simplesmente adorei a comida. Enquanto saboreava meu lindo e saboroso prato, tive a ideia de indicar o SAH Restaurante aqui no Reflexos. Se algum amigo confiar na minha opinião, resolver ir, e curtir uma deliciosa refeição, estarei espalhando bem-estar em Fortaleza. :o)

O SAH oferece entrada + prato executivo por R$ 25,00 de segunda a sábado. Vocês podem saber mais no blog do restaurante.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O carro está vazio

Há mais de dois anos, rompi a amizade com um colega de trabalho. É claro que foi uma situação muito difícil. Sentia a falta da pessoa, mas parecia imperativo que não nos falássemos mais. Um dia, chegando ao estacionamento da JF, passei pelo carro desse colega. Estacionei o meu, colei a testa no volante e esperei. Esperei pelo amigo. Ele nunca chegava ao trabalho naquela hora, então poderia ser que estivesse dentro do seu veículo me aguardando para que consertássemos as coisas entre nós. Continuei esperando. Chorei esperando.

Nada.

Não aconteceu nada, porque o carro estava vazio. Eu que havia construído uma ilusão. Naquele instante, somente eu fui responsável por meu sofrimento. O problema é que não percebi.

O problema é que não percebemos. Quantas vezes criamos expectativas infundadas? Quantas vezes sonhamos sem resultados? Às vezes, esperamos por fantasmas ou heróis. Outras vezes, esperamos pelo mundo ou pelo destino. No fim, sofremos porque não conseguimos o que desejávamos. Expectativas são frustradas, sonhos se evaporam sem ações para executá-los, fantasmas e heróis não existem de verdade e mundo e destino não nos dão coisa alguma se não sairmos do lugar (e olhe lá).

Estou dizendo para pararmos de sonhar? Minha vontade é dizer que sim, mas esse "sim" envolve toda uma teoria de "aqui e agora" de que não quero falar hoje, porque estou com medo de o blog virar zen demais para o meu gosto. Então não vou dizer que devemos parar de sonhar, mas que nunca ignoremos a realidade. Se tiramos o pé do chão e nos perdemos no emaranhado que é a nossa cabeça, sempre com desejos de ser mais, de ser especial, de querer mais, somente conseguimos frustração e sofrimento. Tudo debitado na nossa conta por nossa conta.

Hoje a situação que narrei quase se repetiu. A diferença foi que, dessa vez, lembrei:

O carro está vazio.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um novo mundo: o despertar de uma nova consciência

Terminei esse livro neste sábado e estou me preparando para relê-lo. O motivo para isso é que se trata de um livro profundo e transformador na proporção em que se está aberto para ele. Como temos várias camadas, quero estabelecer um novo diálogo com a obra. Gostaria de ver se ela fala mais fundo para mim.

Recomendo muitíssimo essa leitura a todos, mas aceito a possibilidade de que nem todos serão tocados por ela. É que o autor Eckhart Tolle fala de coisas que podem ser estranhas para quem não tem contato com essa forma de viver o mundo de que tratam os chamados "mestres espirituais". Por exemplo, reconhecer que eu não sou meu pensamento, que sou a consciência que serve de pano de fundo para ele, é uma noção no mínimo inédita para muitas pessoas. E pode ser que não seja visível para elas o benefício que se colhe ao se ter o reconhecimento desse fato. No entanto, se alguém sente a necessidade de mudar de paradigma, deve começar de algum lugar, e esse O despertar de uma nova consciência pode ser o ponto de partida, nem que depois seja também um ponto de retorno.

No livro, Eckhart Tolle trata do ego (o "eu mental"), dos papéis que representamos inclusive quando somos pais, da necessidade de estarmos conscientes do ego para diminuí-lo, do exercício em aceitar essa diminuição do "eu-mental", do sofrimento como porta para essa redução (desde que seja sofrimento consciente), da importância de estarmos presentes no momento e como essa condição de presença nos permite estar alinhados com o que somos verdadeiramente. Na realidade, ele fala de muito, muito mais coisas, inclusive sobre ego coletivo e corpo de dor, mas escolhi dar destaque aos tópicos que me foram mais importantes atualmente.

Devo confessar apenas que prefiro o subtítulo ao título da obra. Por mais que Um novo mundo seja contextualizado no capítulo inicial e entendamos por que o autor se utiliza desses termos, o nome confere um ar meio profético ao livro. Acrescente-se o fato de que é vendido sob a categoria autoajuda e pronto! o ceticismo de muitos é ativado, inclusive o meu. Não se deixem desestimular. A leitura é realmente mais profunda do que a de livros tradicionais de autoajuda, e, se seu intelecto precisa de convencimento, Eckhart Tolle foi formado pela Universidade de Londres e foi pesquisador e supervisor de pesquisas da Universidade de Cambridge antes de se tornar mestre espiritual. Em outras palavras, ele não era qualquer um, rs.

A sinopse de O despertar de uma nova consciência pode ser acessada aqui.

p.s.: A Lu criou o apelido, e eu aderi. Chamamos carinhosamente o Eckhart Tolle de duendinho. Se vocês virem a foto dele ou assistirem a algum vídeo no YouTube, entenderão o motivo. ;o)

domingo, 8 de agosto de 2010

Meu adeus

É um fato inédito postar três vezes em um dia, mas este é o post essencial de hoje e destoa completamente dos outros dois. Recebi agora à noite a notícia de que uma ex-aluna cometeu suicídio. O amigo que me contou soube enquanto eu estava viajando e esperou para me ver pessoalmente para relatar o acontecido.

É um momento de choque e de compaixão, infelizmente tardia e inefetiva, porque não posso sequer tentar ajudar a M. A lembrança que tenho dela é de uma pessoa sempre alegre e ativa, que não condiz com todo o processo de autoisolamento que culminou em sua morte. Ela não deixou nota ou explicação. Não fez alarde, não acusou alguém ou uma situação. Deixou um mistério para nós e a dor para os mais próximos.

Como meu amigo disse, somente uma dor existencial muito grande justificaria esse ato. Concordo com ele. Uma dor desse tamanho pede nossa compaixão e nosso amor.

Não sei o que pensar sobre a morte. Não sei se ela é passagem, fim ou recomeço. Por hoje, vou escolher acreditar que a M. encontrou a paz.

Os meus favoritos no twitter

Entrei no twitter na semana passada. Já descobri que adoro ler os tweets da marianamarques, que é colega dos tempos de Colégio Irmã Maria Montenegro, e do Dudu_Tavares, com quem estudei na faculdade de Direito.

A marianamarques tem tiradas como:
qualquer dia escrevo um poema regionalista intitulado "o que é uma muié sem um vrido de acetona"

"quem não aguentar que corra", já dizia aquele filósofo XANDD, daquela escola literária aviões do forró.

queria mandar um beijo especial para você que escreveu com o dedo indicador na poeira do meu carro: "TAÍ TEU BRINDE".

E os meus tweets favoritos do Dudu_Tavares até agora são:

Estude bem o passado do seu candidato. Como vou votar no Plínio, ainda estou na parte em que ele foi contra o Tratato de Tordesilhas.

Prefeitura divulga dados da Gestão Fortaleza Bela. Foram abertos 12 Postos de Saúde, 15 Escolas e 5328 buracos.

Como sou um cara plural, aceitarei que preguem no meu carro todos os adesivos de político oferecidos nos sinais. Serei tão coerente qto eles

Pode batizar o filho de Ledo Engano?

E mais, conversando a 140 caracteres com a Mari, soube que ela lançou um livro em 2009! Transatlântico é o nome.

Que legal!

Só para vocês terem uma ideia de como é lá

O post Aconteceu na vida real - A pergunta inusitada no balcão da Justiça Federal me deu a ideia de postar esta foto, só para vocês terem uma ideia de como é lá.

A foto é de 2008, mas nada mudou muito. Com exceção da quantidade de processos, que está relativamente menor, meu ambiente de trabalho é este aqui:


Pena que eu não tenha uma foto do balcão...

:o)

p.s.: Minha mesa é essa desorganização mesmo. Não é culpa da JF, não; eu que ainda não aprendi a não acumular processos na mesa enquanto os encaminho.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Aconteceu na vida real - A pergunta inusitada no balcão da Justiça Federal

Essa é só para quebrar o clima sério que anda imperando aqui no blog ultimamente.
Trabalho em uma secretaria de vara da Justiça Federal. Lá correm vários processos. Pode acontecer que, se você tiver um processo na Justiça Federal, ele esteja em minhas mãos. Às vezes, você pode se impacientar com a famosa morosidade do Judiciário e comparecer lá na vara, querendo que, por favor, agilizem seu processo. Outras vezes, você só quer entender seu processo sem estar na companhia do seu advogado (em quem afinal você não confia mesmo). Aí você também pinta lá na vara.

Para atender você e tantas outras pessoas, temos "o balcão". "O balcão" é mesmo só um balcão, uma bancada com tampo de mármore preto, com janelas de vidro que abrimos para sinalizar que o atendimento ao jurisdicionado (que é mais uma palavra bonita que inventaram para quem espera o Judiciário) está em funcionamento. "O balcão" teve seu sentido ampliado para designar também o dia em que cada servidor está responsável por atender as pessoas que buscam informações. "Fulano está no balcão" significa que hoje aquele servidor descascará todos os abacaxis ou pepinos relacionados ao atendimento ao público.

Um dia, estava no balcão. Devo confessar que não me encontrava de bom humor. O trabalho cansa um pouco, porque, como às vezes tenho de falar com pessoas que não possuem formação em Direito, fico procurando formas de explicar que tornem aquele processo compreensível para elas.

Nesse dia, estava esperando por esclarecimentos meus um senhor miudinho de talvez quarenta anos. Parecia o que se costuma chamar "pessoa humilde". O jeito ansioso com que ele me olhou me deixou um pouco apreensiva. Será que esse vai dar trabalho?, perguntei aos meus botões. Depois constatei que ele só era, em bom cearês, muito agoniado.

Abri o volumoso processo. Tentei entender o que aquele senhor me perguntava para poder dirimir suas dúvidas. Folheei e folheei, compreendi em que pé a ação estava, explanei:

- Olhe, infelizmente não é só o senhor que está pedindo aqui para ficar no processo no lugar do seu pai, já que ele faleceu. Tá vendo essa outra pessoa aqui? Isso, essa Filirmina Feitosa dos Santos. Não, não, ela não está querendo o seu dinheiro, ela quer também substituir o pai dela, que faleceu, e receber o crédito que é devido a ele. O dinheiro devido ao pai do senhor é outra coisa... Não, não se preocupe, é outra coisa... Pois bem, é preciso, o Código exige, que o INSS tenha vista desse pedido dela aqui. É por isso que vamos mandar o processo para lá. Depois, quando ele voltar, o juiz despacha o seu pedido e o dela.

O tal senhor não só era agoniado como precisava de muitas confirmações. Repeti a mesma explicação mais três vezes. Finalmente ele sorriu, agradeceu, e respondi "de nada", já me preparando para levar o processo de volta. Mas eis que ele me interpelou:

- Posso fazer só mais uma pergunta?

Senti um desânimo. Ainda não acabou? Depois de dizer quatro vezes a mesma coisa?

- Pois não.

Então ele se afastou do balcão, me deu as costas, e, olhando por cima dos ombros, enquanto puxava sua camisa, perguntou:

- Eu tô cagado?

Minha reação eloquente a uma indagação dessas foi:

- Hã?

Ele repetiu:

- Eu tô cagado?

Ah, então as coisas se resumem a isso, pensei. Eu, Ana Raquel Montenegro Assunção, graduada em Direito e Letras e pós-graduada em Linguística, ex-professora de inglês e agora técnico judiciário da Justiça Federal, eu, no exercício de minhas funções junto ao Judiciário, estou sendo indagada em pleno balcão se o cidadão que se encontra na minha frente borrou suas calças.

Relutantemente, baixei o olhar para a área que ele apontava. Respondi ainda hesitante, porque enfim não queria de fato aferir a situação daquele senhor, mas, por outro lado, se ele realmente estivesse cagado e não soubesse, era bom avisá-lo:

- Não.

Ele suspirou aliviado.

- Ufa!

E emendou:

- É que, quando vim no elevador, o pessoal tava me olhando meio estranho, e pensei, "puxa vida, será que tô cagado?"

Sorri sem graça, peguei o processo que iria para o INSS, e assegurei-lhe:

- Não, não está.

Ele saiu todo serelepe. Só então comecei a rir.
É, dessa vez, a história aconteceu comigo. Assim mesmo, tintim por tintim.

:o)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Fechem os olhos


Foi o que o professor de teoria musical nos disse ontem na aula, para que pudéssemos nos concentrar melhor nas notas.

Zapt. Fechei os olhos, assim ó, rapidinho, sem reservas e sem medo. Me diverti com minha prontidão.

Por quê?, você pode perguntar. Por que conseguir fechar os olhos é uma coisa digna de nota?

Porque estávamos em um lugar público. Porque eu sempre tive dificuldade em fechar os olhos em lugar público. Batia um receio de que tivesse entendido errado, e aí só eu estaria com as pálpebras cerradas, pagando mico. Dava vontade de espiar para ver se estava todo mundo mesmo de olhos fechados. Sem falar que me achava levemente ridícula.

O evento de ontem se encaixa com a vontade que senti de escrever um post sobre quem eu era e sobre quem sou. Essa ideia me ocorreu ainda no Kyol Che, no entanto, como um dos princípios desse trabalho é não se perder no mundo dos pensamentos, deixei para lá. Quando voltei ao mundo aqui fora, com acesso a celular e internet, encontrei no meu Orkut um recado de um amigo do tempo de colégio, dizendo que dois outros amigos me procuravam no twitter e que ele havia passado o endereço do meu blog para eles.

Me perguntei se meus amigos estranhariam o que encontraram aqui. A Ana Raquel fazendo retiro de meditação? Fazendo Renascimento?

Houve um tempo em que descartei tudo o que abraço hoje. O engraçado é que nem me lembro mais como era. Só sei que não fazia parte dos meus hábitos meditar, acreditar que há uma Unicidade subjacente em nós e em tudo que existe, parar para sentir a manifestação das emoções no meu corpo.

Mas sabe o que é mais engraçado? Não disse que tinha pensado em escrever um post sobre quem eu era e quem eu sou? O engraçado é que esses "eu era" e "eu sou" não correspondem a quem sou de verdade, porque quem sou de verdade (minha essência) nunca mudou nem mudará. Esses "eu era" e "eu sou" constituem apenas ideias que construí sobre mim mesma, ideias que minha mente edificou para formar uma identidade, mas que, na verdade, são somente a soma de conceitos que só existem na dimensão mental. O problema de todos nós é que confundimos esse "eu" mental (ego - em um conceito que suponho ser diferente do da psicanálise) com quem realmente somos.

Quer ver? Pergunte-se a si mesmo quem você é. Se você disser seu nome, você não respondeu quem é, você só disse seu nome. Se você disser eu sou professor, sou advogado, você estatui sua profissão, e isso ainda não é você*. Se você se sair com sou pai, sou mãe, sou filho, você está relatando papéis que representa em relação a outras pessoas. Se você falar sou uma pessoa rancorosa, sou uma pessoa amorosa, você está repetindo conceitos de si mesmo, que provavelmente foram criados a partir da forma como você lida com as coisas no mundo, mas ainda sim são só conceitos.

Faça esse exercício. Vá dizendo tudo o que a mente lhe diz quando você se pergunta quem você é. Leve o tempo que levar. Quando você não encontrar mais nada a não ser um vazio, um silêncio na cabeça, por incrível que pareça, você terá encontrado quem você é. Quem nós somos de verdade não é exprimível em palavras. Quem somos de verdade apenas é.

Tudo isso pode parecer meio viagem, mas basta começar a praticar e a experienciar isso que as coisas parecem fazer sentido. O grande segredo é se desidentificar com todos esses pensamentos que mentem sobre quem você é ou com a "história de você mesmo" que seu ego criou. A resposta é fechar os olhos para essas autoimagens.

Viram?

Fechem os olhos.

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*Essa explicação pode ser vista em um DVD chamado From Science to God, de Peter Russel.

domingo, 1 de agosto de 2010

Fim do namoro

Quando comecei a namorar o Márden, sempre sentia um receio de falar dele aqui no blog porque pairava a dúvida: e se acabar? Invarialvemente os apaixonados me parecem tolos depois que a relação termina. Lembro de uma colega que, quando começou a namorar um cara, atualizou tudo no Orkut com o nome dela e dele, colocou foto, juras de amor. Então houve o término e, para mim, aquilo tudo parecia rir da cara dela.

Aí resolvi me entregar e deixar pra lá, principalmente quando vi que o próprio Márden não tinha essa reserva. Na verdade, quem estava errada era eu. Meu medo de exposição estava atuando e impedindo de fazer algo que era natural.

Só que o namoro acabou. Apagar fotos no Orkut foi relativamente simples, mas aqui... aqui estanquei. Não achei que devia deixar as coisas como estão, porque isso não dá o real retrato da situação, e lidar com a realidade é a única solução para qualquer problema. Daí pensei em editar os posts. Pensei em apagá-los.

Mas percebi uma coisa.

Olhei de relance os posts em que menciono meu ex-namorado. Eles não parecem rir de mim. Eles só contam uma história. Como tudo acaba, essa história também terminou. Assim, decidi escrever este post para sinalizar esse fim aqui no Reflexos.

Agora resta a nós dois virar a página.

Mais uma vez.

Sempre.

Impermanência e inevitabilidade

Essas são duas palavras que me acompanham desde que voltei do Kyol Che.

Tudo é impermanente, tudo acaba. É inevitável.

Então por que resistir?