sexta-feira, 10 de abril de 2009

Refletir - segunda parte

Todas as imagens utilizadas para ilustrar este conto são obras de Eric Zener. Descobri o artista no Mundo de K.


Em certa tarde límpida e indiferente, sentou-se à margem do lago em busca de uma resposta. Talvez a chave para saber como olhar para o firmamento seria entender por que não conseguia fazê-lo. Era tempo de voltar a tentar compreender. Era necessário retornar às primeiras indagações acerca de si. Era o momento de ver-se. Inclinou-se para a água tranquila do seu lago-espelho e, pela primeira vez, permitiu que sua própria imagem se refletisse no lago. Perante seus olhos, ali estava ela e o céu como pano de fundo.

Sem motivo explícito, estendeu a mão para tocar a superfície da água. O leve contato pertubou momentaneamente os contornos de seu reflexo, mas o céu permaneceu refletido azul e constante. Sentiu inveja da solidez que era o firmamento - nada afetava sua imagem porque estava presente em toda a superfície lacustre. E ela continuava sem poder testemunhar a grandeza do céu. Irritou-se com isso, e então surgiu um ímpeto de ver romper-se a placidez do lago. Assim atingiria o que do céu podia alcançar: seu reflexo somente.

Tirou os sapatos e entrou na água. Sentiu a lama nos pés até o momento em que foi preciso nadar para prosseguir em sua trajetória sem rumo. Tomou fôlego e mergulhou.


Apreciou a sensação da água no corpo, do atrito com a roupa. Imaginou que talvez fosse bom chegar ao fundo do lago e morar ali. Lá se esqueceria do céu. Decidiu que queria tocar o chão da lagoa e tomou essa direção.

Um comentário:

Otávio Farias disse...

Lindo conto!
Ela só não pode encontrar o boto =)
abraços