quarta-feira, 31 de março de 2010

Como treinar o seu dragão


Começo transcrevendo um trecho da resenha de Isabela Boscov (Veja):

"... o menino Soluço, magrinho e meio medroso, é um fracasso como viking e uma decepção para seu pai, o chefe do clã. Nunca vai ser um caçador de dragões. E matar dragões é o que de mais essencial se pode fazer na ilha de Berk, assolada por ferocíssimos cuspidores de fogo. Uma coincidência, um momento de compaixão e a curiosidade típica da idade o colocam em um caminho diferente. Soluço vai se transformar, em segredo, em um domador de dragões."

Fiz questão de iniciar com a sinopse de Isabela porque, em um momento de tensão entre Soluço e seu pai (Estoico), lembrei de um vídeo em que Osho dizia - e ressalvo que estas não são suas exatas palavras - que os filhos sempre decepcionarão os pais, porque não cumprirão as metas que seus progenitores lhes traçaram. Diz Osho que nem Jesus Cristo conseguiu evitar isso. Provavelmente José esperava que seu filho se tornasse carpinteiro como ele, mas lá estava Cristo a doutrinar sobre o Reino de Deus.

No caso de Como treinar o seu dragão, acho que o conflito ultrapassa a relação pai e filho. Não era só Estoico que esperava ver Soluço se tornar um caçador de dragões; toda a comunidade nutria a mesma expectativa. O senso comum dos habitantes de Berk dizia que esse era o destino dos jovens da ilha.

A beleza do longa está em mostrar que nem sempre o que a maioria prega é o melhor para você. O melhor para você é aquilo que se quer quando se está livre de condicionamentos ditados pela vaidade, pela necessidade de aceitação pelo grupo, pela insegurança. O melhor para você é aquilo que lhe é verdadeiro, e é claro que raramente alguma "sabedoria convencional" contém o que lhe é autêntico em uma instância tão íntima. Então por que mesmo fazer o que todos fazem?

Ainda bem que Soluço decide ser fiel a si. Aí a aventura começa.

E que aventura.

Gostei muito dos gráficos e da história do filme (baseado, eu não sabia, na obra homônima de Cressida Cowell). A DreamWorks deu uma de Pixar. Por mais que Shrek, Kung Fu Panda e Madagascar me agradem, sempre achei as animações da DreamWorks um pouquinho banais. Como treinar... virou exceção. Adorei o filme.

E o Banguela.

terça-feira, 30 de março de 2010

Ainda não tenho caçapete

Criança é muito fofa mesmo, né?

Um dia desses estava lembrando das pérolas do meu irmão Rafael do tempo em que era criança. Aquela de que me recordo com frequência é a do sabonete. Um dia, papai chegou com as compras do supermercado e começou a retirá-las das sacolas, colocando os itens em cima da mesa. Aí o Rafa se aproximou, pegou um sabonete Protex Balance, leu a embalagem e, intrigado, perguntou:

- Ué, balance? Por quê?

Enquanto sacudia o sabonete de um lado para outro, e eu me acabava de rir da cena.

Agora me vêm à mente outras pérolas que ouvi por aí. Adoro as astutas e inusitadas observações que criança faz, considerações que somente são possíveis porque criança olha o mundo com olhos novos, olhos de quem acabou de chegar aqui.

É o caso da minha amigona P. Ela conta que, quando mais nova, pediu à mãe que lhe comprasse um novo bumbum. É que o dela estava quebrado, já que havia uma enorme rachadura no meio.

Criança tem dessas grandes sacadas, tiradas que são geniais justamente porque tão inocentes. A amiga K. tinha no celular um papel de parede em que uma figura divina aparecia envolta por raios de luz. Certa vez, especulava com suas duas sobrinhas, B. (oito anos) e M. (quatro anos), do que se tratava aquela imagem. A K. perguntou:

- Vocês acham que é Deus?

A B. arriscou:

- Pode ser Jesus Cristo. Ou o Espírito Santo.

E então a M. lançou sua hipótese:

- Ah, vai ver é o Amém.

Hoje em dia coleciono as perguntas, palavras e atos da L., filha da amiga Bb., que é a criança mais próxima do meu convívio atualmente. A L. tem três anos, e adoro vê-la crescer. Mal falava há algum tempo, e agora já se afirma, questiona, conclui e tenta entender o que lhe dizem.

Ontem mesmo a Bb. contou que, na hora de rezar antes de dormir, quis ensinar à L. o que é Deus:

- L., Deus é uma energia boa. É uma sensação gostosa dentro do coração.

A L., que escutava atenta, perguntou prontamente:

- Eu comi ele?

Outro dia, Márden, L. e eu conversávamos sobre bicicletas, coisa que ela adora. Ganhou uma do avô no ano passado e já anda direitinho nela, de capacete e tudo. Márden perguntou "Sabia, L., que a tia Quel ainda não tem capacete? O que você diz disso?" E ela falou algo que não consegui entender, mas só ouvi o Márden rindo e repetindo "caçapete". A Bb. diz que acha tão lindo que nem corrige e ainda fala caçapete também.

Criança é muito fofa mesmo, né?

domingo, 28 de março de 2010

O que têm os armários?


Hoje revisitei o apartamento onde morei de 1991 a 1998. Na realidade, já é quarta vez em três semanas que passo lá. Está desocupado, meio decaído, muito empoeirado.

Entrei no quarto que costumava ser meu e do meu irmão. Como minha analista advertiu que brevemente trabalharemos minhas lembranças do tempo em que residi lá, tentei observar o que recordava ou sentia ao estar ali. Não veio muita coisa. Lembrei de novo a irritação que sentia em tentar estudar enquanto os filhos da vizinha escutavam forró nas alturas. Lembrei o lugar onde ficavam minha penteadeira e as duas camas, separadas por um criado mudo.

Daí abri o armário.

Realmente parei para observá-lo.

E senti alguma coisa. E foi alguma coisa ruim, que ainda não sei o que é.

Mais tarde, pensando sobre o que tinha acontecido, me dei conta de que armários estão presentes em nossa cultura como depositários, na minha opinião, meio sombrios. A primeira expressão de que me lembrei foi a skeleton in the closet/cupboard, tão literalmente traduzida por aí como um esqueleto no armário, e que significa ter segredos, sobretudo se embaraçosos. Depois me ocorreu que temos, em português, o tal sair do armário, que se aplica aos homossexuais que assumiram abertamente sua orientação sexual. Pelo menos nesses dois casos, o armário deve ser um lugar bem desagradável. No primeiro, guarda algo de que se tem vergonha. No segundo, é um espaço de repressão e medo de aceitar-se.

O que têm os armários, que comportam grandes segredos e lembranças encobertas? Por que os escolhemos para essa tarefa? Porque são grandes o suficiente? Porque os baús entraram em desuso?

Fico aqui me perguntando...

Agora me ocorre que, quando recebo visitas, a bagunça permanente que é meu quarto se disfarça graças ao armário, que, de uma vez só, recebe tudo que estava jogado na cama e na cadeira há um tempinho. Nesse momento, o armário guarda um segredo meu: sou desorganizada.

Só não consigo até agora desvendar o que aquele armário do apartamento guarda. Lembranças encobertas ainda.

Afinal, o que têm os armários?

terça-feira, 9 de março de 2010

Agora a bailarina tem

Este foi mais ou menos o diálogo que tive com o Márden, meu amorzinho, quando falava de uma letra do Chico Buarque:

Eu disse:

- Ah, lembrei de outra parte da música:

"Confessando bem todo mundo faz pecado
depois (sic) que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem"

Ele se compadeceu:

- Coitada da bailarina.

Então expliquei por que a bailarina não tem:

- Também pudera. Ela é toda perfeitinha. Não vive, não arrisca.

(Para saber como a bailarina é, ver a letra aqui.)

Gosto de pensar que não sou mais essa bailarina. Utilizando umas metáforas presentes nas minhas sessões de análise, vou dizer que comecei a deixar de ser essa bailarina quando saí da redoma e abri mão do elusivo (porque inexistente) manual "Leia-me que te ensinarei a viver sem dor".

É claro que ainda tenho muito em que progredir. Ainda dá nó na garganta quando caio da bicicleta (occupational hazzard de quem quer acompanhar o namorado ciclista), e a vontade de chorar surge não por causa da dor, mas porque - droga, como é que eu caio! Ainda fico pê da vida quando o meu chefe sugere uma estratégia melhor do que a minha porque - droga, como é que eu não pensei nisso antes? E ainda tenho vergonha de não saber fazer um procedimento no banco ou de desconhecer os passos de uma compra de apartamento porque - droga, como é que eu não sei disso?!

Pois é. Mas permanece o fato de que mudanças estão ocorrendo, e eu, eu que era tão avessa a elas, agora as acolho. Agora a bailarina tem.

E aproveito o ensejo para mostrar a Ciranda da Bailarina na voz do Chico Buarque:



Minha versão favorita é a da Adriana Partimpim (Adriana Calcanhoto para crianças), que não consegui incorporar no post, mas vocês podem conferir em http://www.youtube.com/watch?v=zlY9q2Ctz746.

Deixo ainda registrado que, na minha opinião, a Sandy assassinou a música quando cantou assim:
http://www.youtube.com/watch?v=Ey_tBkYp9ik. "CreolinaAAAA"! Credo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Workshop de Renascimento na água neste fim de semana em Fortaleza

Último aviso:

O Clube de Renascimento de Fortaleza está promovendo um workshop de Renascimento na água no Osheanic neste final de semana (dias 5, 6 e 7 de março). Até ontem, só restavam quatro vagas.

Contatos: Gustavo (9921-9797), Mairta (9619-3050) e Ricardo (8821-2870).

Workshop em Renascimento

Falei do Treinamento Básico em Renascimento aí embaixo, mas esqueci de divulgar a oficina que vai ocorrer aqui em Fortaleza:

Workshop em Renascimento
Dias 23, 24 e 25 de abril
Comfort Hotel
Contatos: Gustavo (9921-9797), Mairta (9619-3050) e Ricardo (8821-2870)

Há sempre uma palestra da Ramyata, a terapeuta responsável, na noite anterior ao início do workshop. Quem tiver dúvidas, pode aparecer lá no Comfort Hotel sem compromisso algum. No dia 23, uma sexta feira, as atividades são somente à noite. Nos dias 24 e 25, sábado e domingo, o trabalho começa pela manhã e termina à tardinha, com intervalo folgado para a hora do almoço.

Oficina e Treinamento são eventos independentes, então você pode escolher fazer os dois (foi o que fiz), um ou outro, os dois e inscrever-se no workshop de novo (foi o que o amigo H. fez e faz).

E podem confiar que vale muito a pena.