sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Câncer, médicos e o propósito das coisas

Estou no hospital neste exato momento, à espera de quaisquer notícias da tia V. Tia V. foi diagnosticada com câncer de ovário no ano passado. Depois de sessões de quimioterapia e cirurgias bem sucedidas, achamos que havíamos vencido a guerra...

Não foi o caso. Por mais que uma recidiva fosse esperada (e eu nem sabia disso), o câncer voltou em bem menos tempo do que o normal. Foram apenas seis meses de uma trégua desconfiada. Dessa vez, o alvo foi o peritônio, e não se podia mais precisar a quantidade de sessões de quimio ou a viabilidade de uma cirurgia. Aparentemente, havíamos vencido somente uma batalha.

Aconteceu que uma determinada cirurgia foi possível. Desconhecia o risco e as consequências do procedimento até esta semana, quando vim ajudar a cuidar da tia V. Convivi com uma realidade braba. Tia V. sempre foi o pilar da família, e vê-la debilitada numa cama impressiona. Hoje, por causa de uma infecção, ela retornou para a UTI.

E conto o que aconteceu ontem. que ela havia apresentado febre na noite anterior, verificou que uns pontos estavam inflamados. Disse que retornaria para drená-los. Fui embora antes que ele voltasse. O problema foi que ele não voltou em tempo hábil. Quem tomou as rédeas foi o Dr. Marcelo Lopes, amigo de trabalho da tia V. Acionado pela tia J., ele veio em nosso auxílio e determinou a internação na UTI para debelar a infecção o quanto antes.

O que observei nesta semana me sugere que vários médicos estão se perdendo do propósito de sua profissão, especialmente os mais novos. Parece que se importam em se especializar ao máximo para ganhar o máximo. O marido da minha tia desembolsou mais de R$ 30.000,00 por essa cirurgia. A equipe do médico é excelente, ele foi competentíssimo durante o procedimento, mas falta algo. Falta entender o compromisso que ele assumiu com a preservação da vida. Falta humanização. Se esses profissionais escolheram medicina por vocação, esqueceram-se dela.

Escrevi este post inteiro no iPhone. Foi minha terapia de hoje.