terça-feira, 31 de março de 2009

Rise and Shine

O livro gira em torno da vida de duas irmãs de personalidades radicalmente distintas. Bridget, a mais nova, é assistente social e tem um desses namoros despojados com um cara bem mais velho. Meghan é uma apresentadora de TV influente, casada e mãe de um filho. As duas estão presas em papéis que elas próprias escolheram e deixaram que as circunstâncias os perpetuassem.

Em uma manhã de segunda-feira, Meghan comete um erro grave enquanto apresenta seu programa Rise and Shine. A partir daí, eventos se desencadeiam e ameaçam o mundo das duas irmãs.



Posso dizer que gostei muito desse livro, cuja autora é Anna Quindlen. Ele é anunciado como um bestseller, mas aparentemente todos os livros são bestsellers nos Estados Unidos, então isso não assegura uma boa leitura. Meus motivos para arriscar a recomendar esse romance são os que seguem abaixo.

Primeiramente, acho que Anna Quindlen é uma escritora inteligente. Adorei seu trabalho não porque a autora experimenta com a linguagem ou algo do gênero. Apreciei-o porque sua prosa é enxuta, e principalmente porque Quindlen tem ideias originais ao descrever uma personagem ou ao comentar um costume e utiliza-se de uma linguagem sem adornos para isso.

Outro aspecto de valor no livro é que as personagens parecem ser de carne e osso em razão da maneira honesta como são retratadas. A maioria delas é cativante.

Penso que esse é o primeiro livro que li de uma autora americana não-canônica que realmente apresenta crítica social. Claro que isso não quer dizer nada em face dos poucos outros livros que li até hoje, mas é que se tornou comum nesse gênero de romance ver algum resenhista declarar algo do tipo "fulana critica a sociedade nova iorquina com humor impiedoso e blá blá blá". Há comentários assim acerca de The Devil Wears Prada e Sex and the City. Se existe crítica nessas obras, então Rise and Shine é um tratado sobre a sociedade de Nova York. Isso configura um exagero de minha parte, é claro. Mas assim o faço para ressaltar que, em Rise and Shine, há o que considero crítica social. Foi por meio desse livro que descobri a desigualdade social em Nova York, que confirmei, a partir de uma autora norteamericana, a hipocrisia da sociedade, das emissoras de TV e do órgão que as supervisiona.

No entanto, como nada é perfeito, Rise and Shine teve lá suas falhas no meu humilíssimo ponto de vista que, a despeito de uma formação em Letras, é leigo. Enquanto lia, percebi que minha leitura simplesmente não fluía. Atribuo isso a uma certa prolixidade da autora. Não é que Quindlen utilize mais palavras do que deve, mas é que apresenta ao leitor mais do que se espera. A escritora empregou uma estrutura que se repete em muitos capítulos: há frequentemente uma rememoração de um evento ou uma exposição de um posicionamento da narradora (Bridget) antes de os fatos pertinentes àquele capítulo se desenrolarem em meio a mais algumas digressões. Da metade do livro para o final, eu já pensava "Ai, que saco."

Defeito à parte, acho que Rise and Shine vale a pena. Tentei encontrar alguma frase que mostrasse a criatividade de Quindlen, mas é claro que agora folheio e folheio e não acho. Por outro lado, havia dobrado a pontinha da página 203 (Garota_D não me mate!) porque há uma verdade contundente que Bridget anuncia neste diálogo com Meghan:
"There's something so satisfying," Meghan said, "about living a life like this. You get up and you run a couple of miles. You come home and you eat. There are three bathing suits, and you put one on. There are three pairs of shorts, and you change into one of them. There are ten books, and you choose one. You read, you swim, you eat, you drink. You sleep. No one needs you to do more. Maybe that was her [mãe da Meghan e da Bridget] deal."
"Except for one thing. She had children. Two daughters."

"Maybe she thought we didn't need her. Maybe she thought we had lives of our own and we didn't need her."

"Are you nuts? We were little kids. Of course we needed her."
"Did we? We were at school. Nelly made our meals. What did we need her to do?"

"You don't need a mother to do anything.
A mother doesn't prove anything by being there. She proves something by not being there!" (grifei)

segunda-feira, 30 de março de 2009

Os frutos de um engarrafamento

Enquanto me arrastava em um engarrafamento enooooooooorme rumo à palestra que fui ver hoje, fiquei pensando na proverbial morte da bezerra. Lembrei dos meus problemas e pseudoproblemas, dos dilemas de uma amiga, dos conflitos de outra, das conversas com outras pessoas. Daí veio uma frase de um livro de autoajuda que não terminei, mas que dizia algo do tipo "Experiência é aquilo que se obtém quando não se obtém o que se quer." Aí o ciclo se fechou: quais frases e ensinamentos colho dessas conversas do dia-a-dia? Abaixo seguem algumas:

1) Não se leve tão a sério.

2) De vez em quando acontecem umas merdas na nossa vida. Aceite o fato.

3) Aliás, se você não se levar muito a sério, fica menos difícil aceitar a merda no meio do caminho (não, Drummond, não é uma pedra, é uma merda mesmo).

3) A vida tem realmente altos e baixos. Quando estiver nos baixos, não se esqueça de que a subida virá logo e tenha paciência. Quando estiver nos altos, curta bem muito e seja feliz.

4) Na mesma linha do item acima, sendo essa de autoria da Bb.: o bom de se chegar no fundo do poço é que não há outra saída a não ser subir.

5) Nunca esqueça o valor terapêutico de dizer "foda-se" (essa é da D.I.). Variante que a G. me apresentou: aperta o botão do "foda-se".

6) Escolhas baseadas em motivos errados ou falsos são sempre más escolhas e não adianta se decepcionar com as consequências.

7) Primeiro aceite o que você é, depois mude para melhor.

Vou terminar aqui, não porque sete é um número cabalístico, mas porque não me lembro mais de nada, estou cansada, e ainda tenho um texto para decorar e apresentar amanhã na aula de francês.

domingo, 29 de março de 2009

Arquivo X - Eu Quero Acreditar



O filme estreou no segundo semestre do ano passado. A verdade é que demorou tempo demais para ser filmado e lançado. Até dois anos após a série ter acabado, ainda sonhava em ver Fox Mulder e Dana Scully em um cenário inédito. Depois, depois, muitos anos depois... bem, até que tentei vestir a camisa de fã e ver o filme na estreia, mas aí as semanas passaram, e assisti quando já havia apenas um horário de exibição do longa. Não me empolguei.

Ontem, em virtude da minha única compulsão conscientemente reconhecida, comprei o DVD. Agora pude comparar com as resenhas que havia lido. A maioria detonou acertadamente o roteiro. Explico por quê.

Durante toda a série, Chris Carter, o criador, oscilou vertiginosamente nos episódios que escreveu, o que me faz especular se possui talento ou somente sorte/azar quando escreve alguma coisa. Se se tratar da segunda hipótese, ele teve muito azar quando compôs o enredo do filme ainda que contasse com a ajuda de Frank Spotnitz, outro roteirista do seriado. Aliás, talvez o problema se encontre justamente aí: as escolhas que Carter fez desde o início. Todo fã de carteirinha sabe que, dos roteiristas, Vince Gilligan em regra escrevia os episódios mais tocantes porque sempre referentes à relação entre Mulder e Scully e à natureza humana. No filme, aquele lance todo de vidente enlaçado com cientistas russos e troca de corpos... Isso cheira mesmo à dupla Carter & Spotnitz.

Chega o momento: se alguém ainda quiser ver o filme, aconselhável parar por aqui. Alerta dado, vamos em frente com a criatividade(?) rídicula(!) de Carter & Spotnitz. Em Eu Quero Acreditar, Mulder é procurado pelo FBI para averiguar a credibilidade de um vidente que alega ter visões acerca do rapto de uma agente federal ocorrido dias antes. Aparentemente, o vidente é a solução mais rápida e, por causa disso, a própria salvação já que o FBI corre contra o tempo para resgatar um dos seus. O grande impasse é que o vidente é um padre pedófilo, que instântanea e compreensivelmente desperta repulsa em Scully. O resto da trama principal se resume em um cara russo cuja ocupação extraoficial consiste em raptar mulheres com sangue AB negativo, entregá-las a um doutor também russo que mata as vítimas para dar partes de seu corpo ao marido do cara que sequestra as mulheres. É que o cônjuge do raptor se encontra à beira da morte em virtude de um câncer de pulmão. Coincidência das coincidências, foi um dos coroinhas molestados pelo padre vidente. É por isso que o padre tem as tais visões: por causa de seu crime, criou uma conexão com o coroinha, desenvolvendo até o mesmo tipo de câncer que o matará no final.

Dá pra acreditar?

Gente... Fico imaginando o que passou pela cabeça dos roteiristas. Em primeiro lugar, o vidente ser um padre pedófilo é quase sem propósito. Se os autores achavam que isso enriqueceria o drama de Scully, enganaram-se (na minha humilde opinião). Ele a incomoda porque é um pedófilo. Poderia ser um pastor, um budista, um ateu - Scully sentiria o mesmo repúdio. O conflito entre fé e ciência que sempre houve em Scully é mais bem retratado na trama secundária do filme, no embate que se estabelece entre ela e o padre que administra o hospital onde Scully agora trabalha. Disse acima "quase sem propósito" porque pode haver a finalidade de atacar a Igreja Católica. Ainda que isso seja verdade, não é o que filme se propõe, então a crítica sai mais do que pela tangente porque superficial e desnecessária.

Em segundo lugar, por que os russos são os inimigos? O que é isso? Saudades dos tempos da Guerra Fria? Só os russos poderiam ser capazes de realizar experimentos como aqueles? Ah, por que não jogaram uns alemãezinhos só para dar mais tempero também?

Em terceiro lugar, que coisa absurdamente grotesca essa ideia de costurar cabeça em um outro corpo. O risível é que parece ser sempre corpos de mulheres. O cara tem um amante homem, mas quando vai salvá-lo dando-lhe outro corpo, escolhe o de mulheres. Anda tendo dúvidas acerca de sua sexualidade, camarada Dacyshyn?

Em quarto lugar, tudo isso é RIDÍCULO!

Esses são os defeitos gritantes do roteiro. Há os menores, que se tornam inconsequentes em face dos que acabei de elencar, mas que também são irritantes. Vamos a eles.

Primeiro, Scully é quem convence Mulder a ajudar o FBI. Apela para a solidariedade dele, dizendo que, há alguns anos, poderia ser um deles que estivesse desaparecido e precisando de auxílio. Depois, ela se enerva com o que encontra (o padre pedófilo e toda a sordidez de seus crimes) para, mais tarde, simplesmente desistir. O caráter de Scully e a compaixão pelo próximo que é uma de suas características não permitem isso. Aliás, esse desejo de parar enseja o rompimento da relação com Mulder, o que acaba por revelar o verdadeiro intuito dos autores: criar um conflito entre as personagens.

Segundo, o que são aquelas insinuações de um interesse velado da agente Whitney por Mulder? Elas não acrescentam coisa alguma. Todos nós sabemos que Mulder ama Scully.

Terceiro, Scully é uma patologista. Desde quando começou a realizar operações como se fosse uma neurocirurgiã?

Quarto, há coincidências e mais coincidências. Scully acha por acaso as explicações para os raptos enquanto pesquisa o tratamento para um paciente, Mulder acha por acaso o local onde o cara russo compra o tranquilizante, Scully e Skinner acham por acaso umas caixas de correio onde estará a correspondência do médico russo. Em outras palavras, não são coincidências, mas soluções cômodas.



O que se salva no filme é o que sempre foi meu motivo de ver a série: o relacionamento de Mulder e Scully. Eu Quero Acreditar nos mostra que continuaram juntos, mas que nada é um mar de rosas. De qualquer forma, foi bom vê-los dividindo a mesma cama, conversando como o casal que são. Por mais que Pablo Villaça do Cinema em Cena questione o fato de ainda se referirem um ao outro pelo sobrenome, isso não me incomodou. É mais uma idiossincrasia que os define.

Apesar dos pesares, Carter & Spotnitz ainda deram alguns presentes aos fãs. Foi divertido ou doloroso ver certos acenos à história da série: os lápis enfiados no teto do escritório de Mulder (passatempo dele quando está entediado), a menção à Samantha (irmã de Mulder) e ao William (o filho de quem Mulder e Scully tiveram de abdicar). A cena que vem após os créditos é uma boa surpresa.

No fim, restou a mensagem: deixem Mulder e Scully em paz. As coisas têm um fim mesmo. E é melhor quando o fim é digno.



p.s.: Uma surpresa agradável foi a resenha de Roger Ebert, outro crítico de cinema do qual gosto muito. Não é que ele gostou do filme? Adorei o comentário dele sobre Mulder e Scully. Traduzindo sem compromisso, disse que "eles ainda se amam, mas ainda continuam sem acreditar que dão certo como um casal. Ou devo dizer que querem acreditar?"

quarta-feira, 25 de março de 2009

Boa Ação

A Maddie falou, tá falado. Estou incumbida de passar adiante esta corrente:

Em tempos tão difíceis não podemos fechar os olhos para o próximo. Precisamos ajudar a quem menos tem e mais necessita de doações!

Uni-vos em uma grande corrente para que pessoas como Wanderson, brasileiro, honesto, trabalhador, parem de sofrer tantas provações!

Nosso amigo tá precisando de uma pessoa linda, especial e essa pessoa pode ser... você leitor(a) deste blog. Tá solteiro? Tá fazendo NADA? Então dá mole pro Wanderson, coitado!

Se não for você a pessoa pra vida do moço fassavor de passar isso pra frente, até ele desencalhar.
Blogueiro amigo, publique este post (control cê control vê) e indique esta corrente pra cinco blogs de gente com coração mole e que se comoverá com nossa causa!

Prestenção no sex appeal




Quem se condoeu com nossa causa o link do moçoilo é:


http://www.desencalhawanderson.com.br/


Tenho de indicar cinco blogs para levar adiante a corrente. São eles:

Aurora de Pensamentos: http://auroradepensamentos.blogspot.com/
Galera_D: http://garotad.blogspot.com/
Marcos in SP: http://marcosinsp.blogspot.com/
Os jogos e minha vida: http://rmajogos.blogspot.com/
Papo Nosense: http://paponosense.blogspot.com/

Vamos ajudar o Wanderson, que explica: "No meu nome, a letra 'W' (dáblio) tem o mesmo som que a letra 'u'."

sábado, 21 de março de 2009

A Version of the Truth


O comentário estampado na capa do livro (que não apareceu aí na foto) define: "It's the Devil Wears Prada meets Walden Pond." Li o Diabo veste Prada quando o filme foi lançado. Walden Pond é o lugar que inspirou Thoreau a escrever Walden (o que seria de mim sem Google e Wikipedia), que não li. Walden, porém, é citado várias vezes em A Version of the Truth e, mesmo sem Google ou Wikipedia, descobrimos que a obra tem a ver com a natureza e o homem.

Há, de fato, um ponto em comum entre A Version of the Truth e The Devil Wears Prada. Ambos se baseiam na fábula do patinho feio que vira cisne. No entanto, a grande diferença que existe e que contribui para a superioridade de A Version of the Truth diz respeito à natureza da transformação que se opera em sua protagonista. A Cassie Shaw de A Version... se transforma de dentro para fora à medida que começa a investir em sua vida. A Andy Sachs de The Devil... se transmuta de fora para dentro ao trocar de visual e permitir que a insana rotina de trabalho dite sua vida.

O mais legal em Cassie Shaw é que ela é tudo o que sempre quis ser, mas sua baixa autoestima a impede de ver isso. Infelizmente, deixou os olhares e opiniões dos outros definirem sua imagem e chegou aos 30 correspondendo às expectativas dos terceiros em sua vida - expectativas que resultam em zero. Porém, a partir de um pequeno ato desonesto, Cassie desencadeia uma série de eventos que lhe permitirão descobrir o quanto é capaz.

O mais legal no livro é que as autoras, Jennifer Kaufman e Karen Mack, mantêm Cassie um ser falível mesmo quando a personagem está florescendo ou, em outras palavras, virando um cisne. Cassie segue em frente debatendo-se com a baixa autoestima e a autopiedade. E às vezes erra feio. Seu refúgio durante todo o livro e todas as crises se encontra na natureza que cerca sua casa.

Para mim, A Version of the Truth foi um ótimo passatempo. Gostei do senso de humor das autoras, de Cassie, do galã um pouquinho charmoso demais para ser real mas igualmente falível. É divertido ler uma obra contemporânea quando há referências ao nosso mundo. Ri ao ler o seguinte trecho:

"I take a two-minute shower and throw the clothes laid out last night - a plaid pleated skirt, a white blouse, a cardigan, a pair of Easy Spirit black loafers, and a leather purse I borrowed from my mother. I glance in the mirror. I look like I go to school with Harry Potter. But it's too late to change."

A sinopse da obra disponível no site é a seguinte:

Much like Eliza Doolittle in Pygmalion, Cassie has an unhappy past and is relegated to a life beneath her, but her spirit is uplifted in the outdoors. The eerie, ghostlike call of presumed extinct birds in a secret clearing, the sound of wind in the trees, the harmony of a world without people, all give Cassie a sense of calm. But everywhere else, life is tough. Her mother believes in Big Foot. Her wisecracking but beloved African Grey parrot is a drama queen. And at age thirty, a widow without a college degree, Cassie desperately needs to earn a living, which is why, against all her principles, she lies on her resumé for an office job at an elite university, making up facts about herself, creating the person she wants to be.

Her new boss is the magnetic Professor William Conner, an expert in animal behavior who recognizes the intelligence behind Cassie’s bogus resumé. Soon, under his charismatic tutelage, Cassie carefully begins her personal transformation, all the while still visiting her secret clearing and her strange, iconic birds. But her future is teetering on one unbearable truth, and Cassie’s masquerade is about to come undone--in a chain of events that will transform her life and the lives of those around her--forever.




terça-feira, 17 de março de 2009

L'amour

Sou péssima para criar títulos. Aí em cima está o título do vídeo aqui de baixo.



Tive a ideia quando vi esse clipe no You Tube enquanto procurava trechos de Amélie Poulain. No meu vídeo, usei os filmes que me marcaram de alguma forma. O Picolino foi o primeiro musical a que assisti. Cantando na Chuva consolidou minha paixão pelo gênero. A Noviça Rebelde me encanta até hoje. Peter Pan e Harry Potter não são musicais, mas revelam-se tão mágicos quanto. High School Musical é uma fraqueza (ô vergonha, ihi), mas ah... eles são tão jovens e dançam tão bem...

Escolhi embalar as personagens ao som de La Valse d'Amélie. A beleza da valsa de Yann Tiersen é indescritível. A melhor definição que encontrei para essa melodia veio nas palavras da amiga Bb.: "Essa música fala pra mim." E como fala. Exprime o amor e o belo. É contagiante.

domingo, 15 de março de 2009

Respire - Mickey 3D

Na última aula de francês, a professora apresentou este clipe da banda Mickey 3D. O nosso não tinha legendas em inglês, é claro.



Para quem entende francês (o que ainda não consigo), aí vai a parole:

Approche-toi petit, écoute-moi gamin,
Je vais te raconter l'histoire de l'être humain
Au début y avait rien au début c'était bien
La nature avançait y avait pas de chemin
Puis l'homme a débarqué avec ses gros souliers
Des coups d'pieds dans la gueule pour se faire respecter
Des routes à sens unique il s'est mis à tracer
Les flèches dans la plaine se sont multipliées
Et tous les éléments se sont vus maîtrisés
En 2 temps 3 mouvements l'histoire était pliée
C'est pas demain la veille qu'on fera marche arrière
On a même commencé à polluer le désert

Il faut que tu respires, et ça c'est rien de le dire
Tu vas pas mourir de rire, et c'est pas rien de le dire

D'ici quelques années on aura bouffé la feuille
Et tes petits-enfants ils n'auront plus qu'un oeil
En plein milieu du front ils te demanderont
Pourquoi toi t'en as 2 tu passeras pour un con
Ils te diront comment t'as pu laisser faire ça
T'auras beau te défendre leur expliquer tout bas
C'est pas ma faute à moi, c'est la faute aux anciens
Mais y aura plus personne pour te laver les mains
Tu leur raconteras l'époque où tu pouvais
Manger des fruits dans l'herbe allongé dans les prés
Y avait des animaux partout dans la forêt,
Au début du printemps, les oiseaux revenaient

Il faut que tu respires, et ça c'est rien de le dire
Tu vas pas mourir de rire, et c'est pas rien de le dire
Il faut que tu respires, c'est demain que tout empire
Tu vas pas mourir de rire, et c'est pas rien de le dire

Le pire dans cette histoire c'est qu'on est des esclaves
Quelque part assassin, ici bien incapable
De regarder les arbres sans se sentir coupable
A moitié défroqués, 100 pour cent misérables
Alors voilà petit, l'histoire de l'être humain
C'est pas joli joli, et j'connais pas la fin
T'es pas né dans un chou mais plutôt dans un trou
Qu'on remplit tous les jours comme une fosse à purin

Il faut que tu respires, et ça c'est rien de le dire
Tu vas pas mourir de rire, et c'est pas rien de le dire
Il faut que tu respires, c'est demain que tout empire
Tu vas pas mourir de rire et ça c'est rien de le dire

Il faut que tu respires

sexta-feira, 6 de março de 2009

Modo, final, esperança e alguém que nem queria ser milionário

Obs: Este post contém spoilers.


Modo, final, esperança.

Posso analisar o que o filme Quem quer ser um milionário? significa para mim a partir dessas três palavras.

Se pararmos para pensar, o enredo do filme é formulaico. Enxugando tudo, temos os seguintes elementos:

a) um rapaz;
b) uma moça;
c) um único amor por toda a vida (ou até os créditos finais);
d) um único amor que encontra obstáculos nas circunstâncias cruéis em que o rapaz e a moça vivem;
e) um único amor que resulta vitorioso afinal.

Deve ser essa a razão por que Isabela Boscov (Veja) e Pablo Villaça (Cinema em Cena) caracterizaram o filme como fábula ou conto de fadas - nomes que nos remetem a histórias de estrutura e conteúdo consagrados e repetidos. De fato, Quem quer ser um milionário? é o resultado de uma fórmula. Contém os elementos ditos acima assim como muitos outros filmes mais bestinhas que estão por aí.

Então, o que o diferenciou para mim? O que o tornou diferente das comédias românticas de que admito gostar?

O modo como a fórmula foi contada. Jamal, nosso herói, participa de um programa de perguntas e respostas no mesmo modelo do Show do Milhão chamado Quem quer ser um milionário? A sabedoria de Jamal, um mero servente em um centro de telemarketing, é questionada. Como pode um favelado chegar à pergunta final do jogo? O pobre Jamal é torturado para que confesse a fraude que outros o acusam de ser. Mas não há engodo algum. Jamal conseguiu responder as perguntas porque realmente sabia as respostas. E as sabia graças às experiências que viveu, reveladas em flashbacks, e que contam a história de uma vida horrivelmente sofrida. Nesses flashes, conhecemos Latika, nossa donzela em perigo, que é, obviamente, o amor de Jamal.


Interessante ainda como o programa Quem quer ser um milionário? é o recurso perfeito para mostrar a determinação e coragem de Jamal de uma forma menos brutal. É um jogo em que, a cada escolha, arrisca-se ganhar ou perder tudo. E foi isso que Jamal fez durante toda sua existência: arriscar tudo em busca do que queria. Desde cedo, sua obstinação é ilustrada ao público em uma cena na qual o ainda menino Jamal se esforça, por meios nada sanitários, para conseguir o autógrafo de um ídolo seu. Assim como, a cada pergunta, ele constrói sua trajetória rumo aos milhões de rúpias, em sua vida cada passo que arriscou o conduziu ao destino que construiu para si mesmo no caminho até então percorrido.

O final desse caminho é empolgante. Uma vez que o filme não era uma dessas comédias românticas de que admito gostar, confesso que ainda senti uma leve apreensão: será que Jamal vai conseguir tudo o que quer? O filme tem desses finais que fazem esquecer a violência e a miséria mostradas e que simplesmente nos fazem feliz. Para mim, só o final já fez valer a pena.

Assim o fez em virtude da esperança dentro de mim. Tenho um ponto fraco, que suspeito compartilhado por muitas pessoas, de adorar ver alguém que foi subestimado surpreender todos. É o sentimento de ver alguém ser gratificado pelo que suportou na vida. É a esperança de ter um final feliz na vida real também.

Não há como não ser cativado por Jamal, por mais irreal que esse herói seja. Possui três características que se complementam no filme: é inteligente, apaixonado e despretensioso. Sua inteligência o fez absorver o necessário da vida para responder aquelas perguntas. Sua paixão o moveu a vida toda. Sua despretensão o fez ganhar um jogo que deveria ser apenas sobre dinheiro, mas que, para ele, significa uma chance de encontrar Latika. Participou de um show chamado Quem quer ser um milionário?, mas nem queria sê-lo.