sábado, 31 de janeiro de 2009

A loja de experiências

No ano passado, voltava de uma sessão de psicanálise quando pensei o quanto seria bom poder encapsular aquele estado de espírito em que me encontrava para poder usá-lo toda vez que a tristeza me envolvesse.

Imediatamente isso me pareceu a ideia que esperava ter para escrever um conto. Há anos não redigia (pelo menos em português) porque, quando conheci o Mestre Rodrigo Marques (sua poesia ainda terá um post aqui), coloquei-me no meu humilde lugar: melhor só ler o trabalho dos outros mesmo. Naquele tempo, não percebia que escrever pode ser um fim em si mesmo - escrever por escrever, inobstante juízos de valor.

Uma vez que minha analista me incentivava a escrever, decidi tentar.

O resultado ficou distante do conceito original. Permaneceu somente o ato de armazenar algo abstrato. Esse escrito tem um valor especial para mim porque significa uma tentativa de adotar uma nova postura diante da vida. Agora que tenho blog, posso compartilhá-lho:

A loja de experiências.

p.s. geral: O texto não foi escrito de acordo com a nova reforma ortográfica e deu preguiça de revisá-lo.

p.s. para Garota_D: Não consegui ver onde poderia fazer um corte no texto, então coloquei inteiro mesmo.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Toques para celular

Pareceu legal, para não dizer generoso ;o), compartilhar os ringtones que baixei ou criei no site Audiko. Tenho os seguintes toques para oferecer:

- Trilha sonora de Amélie Poulain:
A valsa em piano
A introdução da valsa instrumental

- Alanis Morissette:
Not As We

- Coldplay:
Yellow

- Keane:
Everybody's changing (1)
Everybody's changing (2)

- Marisa Monte:
Carnavália (1)
Carnavália (2)
Vilarejo

- Madonna:
Ray of light

- Snow Patrol:
Run

- Pachelbel:
Cânon no piano

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

My Playlist

Fiquei empolgada com o site Playlist e resolvi fazer uma lista para mim, com as músicas que adoro ouvir no rádio ou que estão constantemente tocando no computador do trabalho ou daqui de casa.






Standalone player

domingo, 25 de janeiro de 2009

Alanis Morissette

Três letrinhas:

UAU!

Fui ontem ao show da Alanis. Pela primeira vez na vida, estava no frontstage, coladinha à grade, em meio a muitos fãs alucinados.

UAU!

Ela canta muito, muito mesmo. Depois que ouvi meus amigos comentarem foi que percebi: ela não desafina em momento algum. A voz não falha nunca. Combinando isso com as letras de suas músicas (não conheço muitas, mas essas poucas me convenceram de sua inteligência) e sua interpretação à flor da pele, não há como negar o talento dessa mulher.

UAU!

Espero ansiosamente o post do Aluízio no Galera_D. Como fã, somente ele poderá falar da emoção de ver um ídolo tão de pertinho.

Finalizando, aí vai minha música preferida neste momento, Not as we:








domingo, 18 de janeiro de 2009

Marley & Eu e outros devaneios de fim de noite


Aparentemente, hoje é o dia para escrever sobre coisas não tão novas assim.

Terminei Marley & Eu agorinha. Acho que o livro deve ter um apelo especial para aqueles que são donos de animais, mas não há nada mais de marcante nele enquanto obra literária.

Por outro lado, enquanto história de vida, Marley & Eu é um testemunho de que o cotidiano de cada um de nós é tão rico quanto qualquer cânone da literatura. Há alguns meses, percebi o valor único de cada vida quando parei no meio do meu ambiente de trabalho e lembrei de confidências dos amigos que me rodeavam. Cada um de nós vivencia vários dramas internos, arquiva várias crônicas vividas, tem causos auto-estrelados para contar. Às vezes, imagino o que deve ser a profissão de um psicólogo - ter acesso a tantas vidas desnudas. Pode ser cansativo, mas deve ser intrigante.

Voltando ao livro, é claro que Marley me cativou, mas quem me ganhou de verdade foi John Grogan, o Eu do título. Se John Grogan é o que escreve, ele é gente muito boa. Bom marido, bom pai, bom dono de cão. Adorei a relação dele com a esposa, o amor pelos filhos, sua presença na vida deles, sua paciência e cuidado com Marley. Seus valores são simples, sólidos e bons. Seu novo livro, The Longest Trip Home, é um relato da sua vida a.M. (antes Marley), e desconfio que será minha nova aquisição.

Além de uma leve paixonite pelo autor, o livro me trouxe memórias do Fluf, meu cachorro que morreu em dezembro de 2007. Também comia as coisas mais inadequadas possíveis, desde sabão a borboletas vivas. Tinha o péssimo hábito de se esfregar em qualquer coisa mal cheirosa (lama, etc. etc. etc.) e depois vir com a cara mais sonsa do mundo querendo colo. No sítio da minha avó, adorava correr dentro do açude seco, embrenhava-se no capim alto e surgia aos saltos, ora aqui, ora ali. Na velhice, também ficou surdo, lento e cansado. Diferentemente de Marley, era pequeno, então eu podia carregá-lo quando voltávamos de alguma caminhada. Morreu antes de perder a visão, e por isso fui grata.

Animais de estimação são o tipo de posse que vem com prazo de vida útil. Ao adquirirmos um, sabemos que nos apegaremos a ele, que cuidaremos dele, e que um dia ele morrerá. É irremediável e simples assim. Depois que o Fluf morreu, cogitei não ter mais bichinho algum.

Uma frase no livro, porém, parece ser a moral da história para qualquer relacionamento com um bicho de estimação. É uma frase no livro, porque John Grogan somente repetiu o que o senso comum já ensina: o que vale é a jornada, não o destino. Hoje temos uma calopsita aqui em casa. O destino será a morte. A jornada é vê-la seguir a gente pelos cômodos, assoviar agudamente Atirei o pau no gato, emitir grunhidos que parecem "Bate o pé" e "Raquel", escorregar mechas do meu cabelo entre o bico, esticar-se do ombro do meu pai para se pendurar na armação dos óculos dele, beliscar nossos pés até que a coloquemos na mesa, de onde ela adora derrubar canetas.


Aliás, a frase é uma moral para nossa história de vida também. Quando estive em Teresópolis, um dia resolvi andar pela trilha que conduzia ao início da cachoeira que havia na propriedade. O amigo F. me acompanhou. Logo percebi a diferença no ritmo da nossa caminhada; embora ele tivesse as pernas bem maiores que as minhas, eu ia sempre à frente. Depois vi que ele parava constantemente para observar e comentar a flora, enquanto eu, de cabeça baixa, olhava apenas o chão que se estendia sob meus pés. Se não fosse F. me mostrar que eu tinha de aproveitar também o trajeto até chegar à cachoeira, eu teria seguido sem ver os bambus que ladeavam a trilha e se entrecruzavam acima de nós, um túnel improvisado pela natureza. E F. disse a mesma frase para mim, repetindo sem saber o que amigo H. tinha me dito dias antes.

O que vale é a jornada, não o destino. A jornada implica como chegamos ao destino. A jornada depende da pessoa que queremos ser e das escolhas que fazemos para alcançar esse modo de SER. A jornada significa viver o momento, um dia de cada vez. Venho refletindo que, no meu caso, a jornada mudará quando me destituir de certos reflexos que impedem a visão da coisa em si.

Mas isso é assunto meu e da minha analista.

Enfim, carpe diem.

p.s.
: John Grogan em http://www.johngroganbooks.com/index.cgi

Efeito Borboleta

Certo dia, fui ao cinema. Não lembro qual filme esperava começar quando surgiu na tela o trailer do Efeito Borboleta 3. Alguns anos atrás, havia me arriscado a assistir o segundo filme dessa desavisada "trilogia" e saí decepcionada e indignada. Aquilo era uma ofensa ao primeiro filme, que deveria ser o único Efeito Borboleta que existe. Esse tinha ficado na minha memória como um excelente trabalho, que só não revi até recentemente porque a romântica aqui se incomodou ao ver Evan (Ashton Kutcher) e Kayleigh (Amy Smart) seguindo caminhos opostos no fim.

O curioso é que havia alugado num impulso o Efeito Borboleta dias antes de ver o trailer do terceiro. Confesso que agora não me pareceu mais o filme espetacular de antes. Evidente que certas impressões não poderiam mais se repetir pelo simples fato de que já sabia o que aconteceria. Foi o caso da surpresa inicial em ver temas como abuso infantil e incesto sendo retratados e expostos pelas cicatrizes que deixaram nas personagens. Também não consegui achar o Ashton Kutcher o bom ator que outrora pensei ser.

No entanto, o que mais me incomodou enquanto revia o filme foi perceber que o roteito limitou demais as realidades alternativas nascidas a partir da intervenção de Evan no passado. Por que sempre as mesmas pessoas estavam presentes, apenas cumprindo papéis diferentes? Evan não poderia ter tido outra namorada mesmo salvando Kayleigh dos abusos do pai? Kayleigh namoraria mesmo Lenny se ele tivesse crescido mentalmente são enquanto Evan circulava em um cadeira de rodas? Por que era sempre o mesmo círculo de amigos/inimigos?

Então a mesma pessoa inteligente do post Estar bem me chamou a atenção de que a grande sacada desse filme é mostrar o nível de responsabilidade que temos ao fazer nossas escolhas, que sempre afetarão os outros. É o caso de Evan e sua mãe, que desenvolve um câncer por fumar demais ao ter de lidar com a realidade de um filho sem braços e sem uso das pernas. Se ele não tivesse ousado se aproximar da dinamite, não teria sofrido o acidente, e ela não teria tragado maços e maços. O interessante, no entanto, é que foi ela quem optou por fumar em demasia, e o resultado, sua doença, impele Evan a tentar mudar de novo o passado que os levara àquela situação. Isso mostra como uma escolha nossa desencadeia outra série de possibilidades de escolhas e assim por diante.

Entendi que não foi o roteiro que limitou as realidades alternativas. O roteiro foi limitado pelas circunstâncias: para transmitir aquela mensagem, um punhado de personagens era o suficiente. Aliás, o efeito seria mais forte, já que estaríamos nos familiriazando com cada um deles. Haver mais pessoas envolvidas diluiria o filme.

Eis que Efeito Borboleta se redimiu perante meus olhos. Claro que a queda não tinha sido tão grande assim. Ainda gosto dos efeitos especiais quando ele tenta voltar no tempo, levei o mesmo susto em ver o Evan criança segurando aquela enorme faca na cozinha, e a última cena ainda tem o efeito de sempre. Aliás, agora me conquistou porque vi dois finais alternativos e felizes nos extras do DVD e percebi que o melhor desfecho é o que ficou, embalado ao som de Oasis.

Pronto, encerro minha quase resenha muito anacrônica por aqui.

p.s.: Quanto à terceira sequência, li um comentário positivo em http://www.imdb.com/title/tt1234541/

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Estar bem

Uma pessoa muito inteligente me disse que há uma concepção errada do que significa estar bem. Em regra, as pessoas pensam nos termos da equação estar sem dor = estar bem. Na realidade, estar bem verdadeiramente é mais do que não sentir dor: é sentir o prazer de viver.

O prazer de viver.

Só em escrever isso, dá vontade de sentir também. Hoje me peguei refletindo sobre o que gosto na vida. Olhei minhas fotos no Orkut e vi meus queridos amigos lá comigo. Sim, gosto imensamente deles. Tenho o privilégio de trabalhar com amigos, não colegas (a maioria, pelo menos). No semestre passado, graças ao amigo hoje Procurador, nós nos unimos muito, saímos muito, rimos muito. Fizemos até sarau! (Em outras palavras, cantamos e desafinamos muito também). Em determinados momentos dessas reuniões, sentia um bem estar enorme e entendia o que era felicidade naquele instante. E há os amigos de outros tempos, nunca distantes, mesmo os que residem em outros estados ou países.

Também gosto imensamente de dançar. Fechar os olhos e dançar. Bater o pé no tablado e fingir que danço flamenco também vale. É sinal de que estou contente quando passo da sala para a cozinha fazendo um grand jeté como se ainda fosse bailarina.

Ouvir música é tudo de bom. Faz o começo da semana ser tolerável: segundas feiras são mais bem humoradas se me preparo para o trabalho cantando a plenos pulmões com a música que está tocando.

E filmes!!! Filmes como Amélie Poulain, Little Miss Sunshine, Juno me fazem sorrir sempre e esquecer o mundo. Mas nem precisa ser dessa categoria de filme que qualifico como filmes ternos para me fazer feliz. Estar no cinema é sempre muito bom. Rever as películas em DVD de novo e de novo é tão bom quanto. Aliás, comprar DVD é um vício meu, admito.

Ler e escrever. Descobri há muito tempo que não tenho o gosto apurado que desejava ter (na época que minha nerdice era mais pronunciada). Há vários, vários clássicos que nunca li e, se os ler, acho que será mais por obrigação do que qualquer coisa. Mas não resisto a um Harry Potter, a um Crepúsculo & CIA (esses dois merecem um post algum dia). Posso intercalar esses com uma leitura mais séria, do porte de On Chesil Beach, mas tudo sem compromisso: se despertou a curiosidade, é lido. Caso contrário, é lido pela metade (que o diga Crime e castigo). Escrever é muito bom também. Estou sorrindo neste exato momento em que teclo estas palavras. Isso já diz tudo.

Criar. Isso foi uma surpresa do fim do ano passado. Ter ideias criativas me empolga! Quando comecei a elaborar os vídeos para a festa de fim de ano, percebi que adoro todo o processo criativo, adoro ter um resultado que é meu ou nosso, se o trabalho for de equipe.

Adoro a filha da minha amiga. Adoro ouvir o tia Quel dela. Adoro cantar com ela no meu colo, vê-la dançar sacudindo os bracinhos, simplesmente vê-la.

Gosto de tantas outras coisas. Um dia desses, duvidei se gostava de olhar para o mar. Gosto mesmo, ou gosto porque todo mundo diz gostar? Tentei ser indiferente. Humpf. Quando percebi, estava com um sorrisinho satisfeito nos lábios. Gosto do mar e da praia. Gosto da noite, do climazinho de uma manhã nascente, do pôr do Sol (se for em Floripa, nem se fala). Gosto de andar a pé nas cidades em que sou turista.

Olha só, olha só... gosto de muitas coisas. Essas coisas me dão o prazer de viver.

E não é que estou me sentindo bem?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

On Chesil Beach

Esse foi o primeiro livro que li neste ano. A história de sua descoberta é bem simples. Em 2007, assisti ao Desejo e reparação, filme baseado na obra Atonement de Ian McEwan. Fascinada pela trama, comprei o livro, e nele havia o anúncio do trabalho seguinte, On Chesil Beach. Desde então, tentei sem sucesso encontrá-lo nas livrarias daqui. Cheguei a comprar o romance pelo site da Saraiva, mas passou o tempo hábil para postagem do produto e cancelei o pedido passado em brancas nuvens.

Aí descobri a Fnac.

E em uma estante da Fnac, havia um Chesil Beach à espera.

Virei fã de Ian McEwan. Quando era criança, sonhava em escrever um livro. Hoje minha principal desculpa para nem tentar é dizer que não tenho imaginação suficiente para compor uma história interessante, plena de eventos, transbordando de fatos e aventuras e emoções. No entanto, Ian McEwan me mostrou que basta um dia na vida de duas personagens para se escrever um romance. Nesse dia, não há mortes, guerras, vilões ou surpresas mirabolantes. Nesse dia, só existem dois recém-casados, virgens ainda, preparando-se para sua noite de núpcias enquanto desastrosamente alheios aos anseios e medos de cada um. Nesse dia, um drama mundano se desenvolve e envolve o leitor precisamente em virtude dessa despretensão de ser épico.

Enquanto lia, o que mais me chamava a atenção era a ausência de comunicação entre os noivos. Não é que não se falavam; simplesmente não falavam o que deveria ser dito. Pressupunham e interpretavam erradamente os gestos de cada um. O trágico é que isso se torna cômico. Cômico que retorna a ser trágico em virtude das consequências desses mal-entendidos. Trágico que se torna incômodo por causa do espelho que nos fornece de nossas próprias relações: afinal quem nunca presumiu e interpretou errado o que o outro queria? Incômodo que se transforma em trágico novamente, pois calar quando se deveria falar pode afetar o curso de uma vida inteira.

E no fim, o fim não é trágico. É apenas a vida, no sentido mais resignado de C'est la vie. Permanece somente um aviso sobre o preço que se paga ao não se lutar contra a inércia, ao se resistir contra um movimento que poderia salvar tudo ou alguma coisa naquele momento.

Mais tarde, descobri que o livro saiu em português com o título Na Praia. A sinopse que encontrei é a seguinte:

Inglaterra, 1962. As profundas mudanças na moral e no comportamento sexual que abalariam o mundo ao longo daquela década ainda estão em estado de gestação. Edward Mayhew e Florence Ponting, ambos virgens, se instalam num hotel na praia de Chesil, perto do Canal da Mancha, para celebrar sua noite de núpcias. Ele é um rapaz recém-formado em história, de origem provinciana; sua mãe tem problemas mentais, e o pai é professor secundário. A noiva é uma violinista promissora, líder de seu próprio quarteto de cordas, filha de um industrial e de uma professora universitária de Oxford. O desajeitado encontro íntimo desses dois jovens ainda marcados pelos resquícios da repressiva moral vitoriana é repleto de lances cômicos e comoventes, configurando uma autêntica tragicomédia de erros. Na praia, entretanto, vai além disso. Por conta da refinada arte narrativa de Ian McEwan, o drama dos recém-casados transcende o registro particular e o retrato de época para alcançar a dimensão de uma obra universal sobre o momento da perda da inocência, essa expulsão do paraíso que é um ponto de inflexão na vida de todo indivíduo.

A homepage do autor Ian McEwan pode ser acessada em http://www.ianmcewan.com/

Devaneio à la post scriptum.: Embora o evento principal seja a noite de núpcias, há flashbacks que revelam a formação de Florence e Edward. Será que me enganei ao ver indícios de que Florence foi vítima de uma relação incestuosa no passado?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O primeiro post do ano tem de ser...

Em dezembro de 2007, minha inbox do e-mail guardava uma mensagem de Carlos Drummond de Andrade, e aquilo era um sussurro especial no meu ouvido. O poeta me dizia que eu era responsável por minha vida, pela maioria dos eventos que a constituem, e que o novo dependia somente de mim.

Como mortos não me enviam mensagens sequer via hotmail, obviamente que o texto, na realidade, nada mais era do que o poema que segue abaixo, repassado por um amigo (era o Thiago?) que nem desconfiava do tamanho do presente que me dava. Pesquisei e vi que está em vários blogs, e no meu vai estar também a partir deste momento:

Receita de Ano Novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.
(http://www.releituras.com/drummond_dezembro.asp)

Lindo e profundo, não? Permanece aqui como um lembrete para mim mesma de que crescer continua minha meta para este ano. Este ano que, a bem da verdade, só é marcado como algo distinto do ano que passou pelas convenções a que nos agarramos para organizar nossa vida cronologicamente. É que hoje percebi mais definidamente que ainda estou processando e completando alguns ciclos iniciados mesmo antes de 2008. No fim, o ano é uma invenção nossa, bem útil, porque, sem a passagem dele, talvez eu nem estivesse pensando em ciclos e evolução agora. Não estaria sentindo a necessidade de fazer projetos para tornar novo o meu 2009.

E só porque Drummond se garante demais, aqui está mais um dele (não sei se está completo e se o título é o correto):

Cortar o tempo
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para diante vai ser diferente.

(http://www.pensador.info/p/cortar_o_tempo_integra_drummond/1/)