quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O mundo não acaba amanhã, mas...


"Essa é uma das coisas mais bonitas que acontecem no fim da vida: a gente perde nossa capacidade de fingir." Ana Cláudia Arantes, geriatra especialista em Cuidados Paliativos


A frase foi pescada deste vídeo, que vale a pena ser visto não porque o mundo acaba amanhã, mas para a gente aprender a viver antes que seja tarde:



A partir dele, descobri o canal do Hospital Israelita Albert Einstein. Lá é possível acessar depoimentos e histórias de vida comoventes, mas inspiradores. 

E depois de uma pesquisazinha rápida na internet, descobri um mundo novo acerca dos Cuidados Paliativos. Que bom que há quem se preocupe com isso. Melhor ainda que essa percepção tenha se sistematizado em uma área para os profissionais de saúde.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Quinze maneiras de lembrar o seu namorado a colocar o cinto de segurança


(Porque venho concluindo que old habits die hard...)

1. De forma tradicional: "Meu amor, você esqueceu o cinto de segurança."

2. De forma tradicional, mas sintética, graças ao contexto situacional: "Cinto!"

3. Tacitamente: "..." (apontando pro bichinho onde se afivela o cinto)

4. Semi-tacitamente: "Aham." (olhando significativamente pro bichinho onde se afivela o cinto)

5. Inovando no inglês: "Someone is seatbeltless..."

6. Apelando para a pedagogia (ensino através de exemplos): "Sabe aquela cicatriz do Harrison Ford? Acredita que foi porque ele tava dirigindo sem cinto, e, quando foi colocá-lo, bateu o carro?"

7. Fazendo-se de sonsa: "Ai que susto! Achei que a gente tivesse saído sem eu ter posto o cinto de segurança, mas tô com ele!"

8. Acolhendo a doutrina espírita: "Tu acha que, na encarnação passada, tu usava cinto de segurança?"

9. Relembrando a ideologia católica: "Sente culpa por não colocar cinto de segurança?"

10. Passeando pelo zen-budismo: "Medite o uso do cinto de segurança."

11. Valendo-se de artifícios evangélicos: "Se não puser o cinto de segurança, vai encontrar Jesus literalmente!"

12. Dando vazão à criança interior: "Eu tenhoooooo, você não tem-em!" (apontando pro meu cinto afivelado)

13. Mostrando-se tecnologicamente antenada: "Existe aplicativo pra avisar que a pessoa tá sem cinto de segurança?"

14. Ah, a velha e boa ironia: "Tão bom ver que tu já colocou o cinto de segurança."

15. Ah, o velho e bom sarcasmo: "Também quero um cinto de segurança transparente!"


Pronto! Missão ligeiramente quase cumprida. É que o Betoti tinha sugerido que eu escrevesse um livro chamado 1.001 formas de dizer que seu namorado está sem cinto. Infelizmente não tenho criatividade para tanto.

Por fim, não poderia deixar de postar a gravura abaixo:

Fonte: http://frutilau.com/20047/cinto-de-seguranca

Isso NÃO é uma sugestão, viu Beto Sales?


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Ótima notícia!

Depois do último post, nada melhor do que escrever uma sequência feliz pra ele.

Foram 22 dias de internação e duas idas à UTI, mas hoje tia V. recebeu alta. A enfermeira tira os pontos agora. Testei meu sangue frio tentando contar quantos foram. Melhor deixar esse campeonato sem placar.

Diz o Betoti que a tia V. para até tsnumani, rs. De fato, ela teve muita força. Passamos por dois grandes sustos aqui, mas ela resistiu, e ainda conquistou os profissionais que a acompanharam. Também teve a lucidez de identificar os sintomas da sepsemia e de pedir a intubação quando respirar se tornou quase impossível. Sua colaboração com o próprio processo de recuperação foi importantíssima.

Agora tia V. pede que eu agradeça as orações dos familiares, amigos e Prelazia da Opus Dei, de que ela faz parte. Agradece ainda a todos os médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiras, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogas que estiveram conosco. Pede também que eu transmita um abraço especial para suas companheiras do HGF, que prestaram auxílio fundamental para sua recuperação.

Por fim, tia V. e todos nós agradecemos imensamente ao Dr. Marcelo Lopes.

Seguem aí as fotos. Na primeira, tia A. inova até com o avental sem graça que vestíamos aqui. Na segunda, tia V. e Dr. Marcelo posam para a câmera no momento da alta.

p.s. Tia A. contou os pontos. Cinquenta e três!!



sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Câncer, médicos e o propósito das coisas

Estou no hospital neste exato momento, à espera de quaisquer notícias da tia V. Tia V. foi diagnosticada com câncer de ovário no ano passado. Depois de sessões de quimioterapia e cirurgias bem sucedidas, achamos que havíamos vencido a guerra...

Não foi o caso. Por mais que uma recidiva fosse esperada (e eu nem sabia disso), o câncer voltou em bem menos tempo do que o normal. Foram apenas seis meses de uma trégua desconfiada. Dessa vez, o alvo foi o peritônio, e não se podia mais precisar a quantidade de sessões de quimio ou a viabilidade de uma cirurgia. Aparentemente, havíamos vencido somente uma batalha.

Aconteceu que uma determinada cirurgia foi possível. Desconhecia o risco e as consequências do procedimento até esta semana, quando vim ajudar a cuidar da tia V. Convivi com uma realidade braba. Tia V. sempre foi o pilar da família, e vê-la debilitada numa cama impressiona. Hoje, por causa de uma infecção, ela retornou para a UTI.

E conto o que aconteceu ontem. que ela havia apresentado febre na noite anterior, verificou que uns pontos estavam inflamados. Disse que retornaria para drená-los. Fui embora antes que ele voltasse. O problema foi que ele não voltou em tempo hábil. Quem tomou as rédeas foi o Dr. Marcelo Lopes, amigo de trabalho da tia V. Acionado pela tia J., ele veio em nosso auxílio e determinou a internação na UTI para debelar a infecção o quanto antes.

O que observei nesta semana me sugere que vários médicos estão se perdendo do propósito de sua profissão, especialmente os mais novos. Parece que se importam em se especializar ao máximo para ganhar o máximo. O marido da minha tia desembolsou mais de R$ 30.000,00 por essa cirurgia. A equipe do médico é excelente, ele foi competentíssimo durante o procedimento, mas falta algo. Falta entender o compromisso que ele assumiu com a preservação da vida. Falta humanização. Se esses profissionais escolheram medicina por vocação, esqueceram-se dela.

Escrevi este post inteiro no iPhone. Foi minha terapia de hoje.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Quem sou eu sem um vilão?


(porque ainda tenho apego à vitimização que me corrói, me fiz essa pergunta)

Quem sou eu sem um vilão?

Parece nem que existe alguém pra contar a história. E se eu não tivesse baixado a cabeça tantas vezes diante de tantas pessoas, quem eu seria? E se eu não amargo e carrego, quem eu sou? Resta o que quando só tem eu?

Resto eu, que ando com as próprias pernas. Manufaturo minha alegria. Levanto quando caio. Vida passa, e eu pego, que ela é minha. Dispo a capa e surpreendo. Tiro o peso sobre minha cabeça, desato a corda nos meus pés. Deixo fazer gol, porque não seguro mais bolas e solto as que agarrei. Rasgo a sabotagem, porque, dá licença, estou mais do que justificada na minha felicidade. Acho o poder que não enxergo. Ponho a criança pra dormir. Digo nãos sem culpa. Não manipulo; pulo um monte de bobagem.

Eu quebro. E sobra tanta coisa.

Eu reescrevo a história. Sem mocinha e sem vilões.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Polina Semionova

Acho que acabei de encontrar um ídolo.



Linda, não?

Polina Semionova tinha somente dezoito anos quando gravou esse vídeo. Descobri que, na realidade, trata-se de um clipe musical de um artista pop germânico. Quem quiser assistir de novo ouvindo a música em alemão, clica aqui.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

That's Vegas, baby!

Continuando...

No quinto dia de viagem, deixamos Los Angeles de manhãzinha rumo a Las Vegas. Ficamos hospedados no Circus Circus Manor Motor Lodge (um anexo do hotel Circus Circus que oferece, por essa razão, tarifa mais em conta). Quartos enormes e confortáveis e estacionamento gratuito. Para quem se interessar, fica somente a ressalva de que inicialmente o banheiro deixou a desejar, mas que a situação foi solucionada mais tarde (a água do banho não escoava direito ralo abaixo).

Nosso primeiro evento em Vegas foi a feira do Mr. Olympia, campeonato internacional de fisiculturismo. Acompanhei a galera da Mega Gym, que estava promovendo a academia e fazendo contatos por lá.

Vestindo a camisa da Mega Gym!


A experiência da feira foi bem interessante. A gente passou o dia se entupindo de amostras grátis de barrinha de proteína e termogênico, rs. E vi cada coisa que não posso postar... ;o)
 

Jay Cutler, quatro vezes campeão do Mr. Olympia.

Não fui no segundo dia de feira, e por isso perdi a presença do Jon Jones lá:


Minha foto favorita. Kk e a gaiatice do Jon Jones.

Não fui no segundo dia de feira, porque estava guiando este pequeno carro por Las Vegas. Venci o medo de dirigir no exterior! O maior aprendizado do ano passado, o de que o medo da coisa é maior do que a coisa em si, se provou verdadeiro mais uma vez.


Foi um festival de freadas bruscas (quase dou de presente um traumatismo craniano para minha passageira), voltas desnecessárias e um leve vexame na hora de abastecer, mas deu tudo certo.

Fomos ainda a mais um espetáculo do Cirque de Soleil: LOVE. Imperdível para qualquer fã dos Beatles. AMEI!


O espetáculo acontece no The Mirage.

E caminhamos pela noite megalomaníaca de Las Vegas. Hotéis gigantescos e magníficos.


Luzes, luzes, luzes.



E eu ia perder a chance de fazer check-in no Caesar's Palace?
Flamingo.

Joguei U$1.00. Perdi U$1.00.
Depois foi pegar o caminho de volta para Los Angeles e embarcar para o Brasil. Muito bom voltar pra casa e matar a saudade de quem ficou. :o)

E é isso. Acho que encerrei o ciclo de viagens internacionais por enquanto. Afinal, foram quatro em dois anos, e o bolso já não suporta mais. Próximo ano é momento de eleger outras pioridades e de me organizar financeiramente para pôr o pé na estrada de novo em 2014.

Afinal, ainda tem tanta coisa para conhecer, aprender e viver, né?

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Viajando e aprendendo: Decolar.com nunca mais e Los Angeles!

Ando constatando uma obviedade: cada viagem é única. No meu caso, quando saio da terrinha por um período razoável de tempo, há sempre aprendizados e, na maioria das vezes, certas quebras. 

Hoje não vou falar dessas rupturas, mas de algo que aprendi antes mesmo de embarcar. 

NUNCA compre passagem aérea pela Decolar.com ou por empresas congêneres!

Gente, vocês não têm ideia da aflição... Zarpei daqui para os EUA sabendo que perderia a minha conexão na volta para o Brasil. A Delta fez uma alteração no primeiro voo, e eu só teria quarenta minutos para sair de um avião em Detroit e embarcar em outro para São Paulo. Liguei para a companhia para solucionar a situação, mas eles não podiam fazer nada, porque o dono da reserva era a Decolar.com. Eu devia entrar em contato primeiro com eles e solicitar urgência na modificação da reserva. Depois de várias tentativas, consegui falar com alguém da empresa, que me garantiu que meu voo seria alterado.

Ledo engano, desavergonhado engodo. Cheguei em solo norte americano e nada. No terceiro dia da viagem, desisti de esperar e liguei para a própria Delta nos EUA. A experiência foi um leve e divertido sufoco. Descobri: a) que minha pronúncia não deve ser esse balaio todo porque a atendente eletrônica, para meu desespero e impaciência, repetiu diversas vezes "Sorry, I did not understand"; b) é bem mais difícil falar inglês com um indiano se for por telefone (quando finalmente um representative de carne e osso me atendeu). O funcionário da Delta podia agora alterar meu voo porque, uma vez completado todo o trajeto da ida, a administração da reserva cabia à própria companhia aérea a partir daquele momento. Resolvi o problema (ufa!).

Agora, mitigo o terceiro parágrafo deste texto. Digo que EU nunca mais compro passagem pela Decolar.com ou por empresas congêneres. Meus amigos de viagem que adquiriram bilhetes aéreos do mesmo modo tiveram seus voos alterados antes de sairem do Brasil. Acho que dei azar. Mas aprendi que, quando se obtém passagem por meio de revendedoras aéreas online, cria-se um intermediário (distante) que dificulta todo o processo de qualquer alteração necessária. Como tudo na vida exige um custo, esse é o preço que você paga por adquirir tão felizmente voos mais baratos (os trechos ida e volta me saíram pouco mais de R$ 1.600,00 na época). Decidi que esse barato sai caro. Mas a cada um cabe fazer suas escolhas. 

Bom, compartilhada a lição, vamos às fotos!

A primeira parte da viagem foi a Califórnia. Ficamos em Los Angeles, demos um pulinho em Venice Beach e chegamos até Anaheim para conhecer a Disneyland

Esta foi a galera que embarcou na aventura da vez:

No aeroporto de Atlanta, enquanto aguardávamos nossa conexão para Los Angeles. A bandeira é da Mega Gym.

No segundo dia de viagem, fizemos um passeio show de bola demais. Quem é fã de seriados e filmes, vai adorar o Vip Tour da Warner. Compramos online, pelo preço de U$ 52.00. A gente entra nos sets de gravação, fica admirado de como eles são pequenos na vida real, rs, descobre uns segredos de bastidores e outras coisas mais. Muito legal conhecer os detalhes do processo de criação das séries. Soube, por exemplo, que, se uma determinada cena não arranca muitos risos da plateia, o roteiro é reescrito in loco, e os atores aprendem as novas falas naquele exato momento.

Visitamos os sets de The Big Bang Theory, Two and a half Men, Two Broke Girls e The Ellen Degeneres Show. Infelizmente fotos só são permitidas na parte externa.

Percebam que até na Califórnia sinto frio.

Também é muito divertida a cidade cenográfica que abriga os diversos estúdios. Esse verde aí atrás de nós é um pedacinho do Central Park fake da Warner. Foi nele que Rachel and Phoebe correram desajeitadamente num dos episódios de Friends. A foto abaixo é uma homenagem a isso . :o)

Carreira desembestada.

Então... então veio Friends... Como a série não está mais em produção, é permitido tirar fotos. Ainda bem. Foi um dos momentos mais felizes do tour!

O famoso sofá.

Os Gunthers!

Depois conhecemos também Venice Beach, enquanto a parte malhadona do grupo treinava na academia Gold's Gym de lá.

Mar de um azul de céu. Lindo.

Nesse dia, esticamos até Malibu, com direito a foto dentro do Mustang do R.!

Adicionar legenda
E então chegou a vez de conhecer a Disneyland, com direito a uma passadinha pela Rodeo Drive e por Bervely Hills antes.

Beverly Hills

O Disney Resort de lá comporta dois parques que concentram as principais atrações dos quatro parques temáticos da Disney World de Orlando. O Disneyland Park da Califórnia corresponde ao Magic Kingdom da Flórida. É sempre mágico porque é Disney, mas minha sugestão é que, se você quiser conhecer, visite o de Orlando. Mais shows, mais paradas, mais encanto ao se chegar no parque de ferryboat.  




Castelo da Bela Adormecida.
Ah, ainda curtimos também o espetáculo Iris do Cirque du Soleil em Los Angeles, apresentado no Dolby Theatre, aquele que abriga a cerimônia do Oscar (aham). Adorei sentar na segunda fila e pensar que uma celebridade já esteve no mesmo local.

Por último, quanto à hospedagem, ficamos no Days Inn Near Universal Studios. Os quartos são pequenos (e possuem um cheiro esquisito), o estacionamento é pago, o café da manhã é simples, um dos recepcionistas tem perda de memória seletiva, mas a localização é massa! Ficamos a três quadras da Calçada da Fama. Mais uma vez: a cada um cabe fazer suas escolhas.

Por enquanto é isso... Detesto fazer posts longos, mas achei que este pedia esse comprimento. Mais tarde, escrevo sobre Las Vegas.

:o)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Um admirável mundo (nem tão) novo (assim)

Olha só: primeiro post do Reflexos escrito no meu mais novo smartphone! Entrei tarde nesse mundo, mas o faço com o fascínio de uma criança. Gente, isso é bom (e viciante) demais!

Cá estou eu no meu intervalo de almoço, sentada na minha mesa cativa, escrevendo no meu blog graças ao aplicativo do blogger. Muito massa.

Falando em aplicativos, estou me divertindo à beça com o ToonCamera, que permite transformar fotografias em desenhos.

P.s.: Por fim, agradeço mais uma vez ao meu Betotitoti lindo pelo presente que me deu e pelo segundo mundo que me apresenta. O primeiro foi o seu. E ele sim é novo e colorido e divertido e humano. Bjo bjo

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

As viagens de agosto

Sei que todo mundo diz que o tempo anda voando. Janeiro estava bem ali, e, mal a gente espera, setembro bate à porta.

Compartilhei desse sentimento até agosto.

Agosto se enlargueceu tanto que pareceu não ter fim. Sério. Era como se, em cada final de semana, coubessem mais sete dias.

É que, quando a gente viaja, parece que a gente acumula mais vida dentro de um ínterim. Quem já não experimentou a sensação? "Parece que a gente tá aqui há uma semana", quando só se passaram, na verdade, dois dias.

Agosto foi o mês das viagens. Iniciamos com Canoa Quebrada. Muito lindo o litoral leste. Parece que a natureza tem mais força por lá.

 

 


Então veio Natal, que eu tinha que conhecer o cunhado, a corujinha & CIA. :o)


E hoje a gente encerra o mês revisitando Lagoinha. A história dessa revisita até que é curta, mas não carece de contar aqui.


Sem falar que, no último final de semana de julho, estávamos em Sobral. Teve uma festa espetacular, teve a mulher do Washington no meio do caminho - digo, avenida -, teve uma turma pra lá de legal. Era o esquenta para o mês que vinha.


Aí repito e desenvolvo: com viagens a gente põe mais vida dentro da vida. Erros e desencontros viram histórias para contar. Acertos e encontros viram momentos para rememorar. A gente aprende um pouquinho de si e do outro em cada viagem. A gente cultiva e colhe.

A gente vive.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A princesa e os bichinhos de esgoto

Querido diário, 

Sinceramente, não sei o que está acontecendo com o pessoal lá da Vara. Só neste mês, vi dois processos despachados errado (e tive de corrigir os dois!), e outros localizados em escaninhos que não tinham nada a ver com a movimentação processual. Acho que o pessoal está muito desmotivado. Fico pensando no que falar com o S., porque alguma coisa deve ser feita para mudar a situação. 
Caso escrevesse diário, esse seria o texto de cerca de duas semanas atrás. Se ainda me encontrasse na adolescência, tudo o que é pano de fundo psicológico dessa passagem até que seria compreensível. No entanto, já carrego meus trinta anos nas costas, e o tempo que me separa da Ana Raquel adolescente não deu conta de me fazer diferente em um aspecto.

Percebi que, com essa visão da realidade, me coloquei na posição de A Única competente no meu ambiente de trabalho. Ao constatar os despachos inadequados, não repassei os processos para as pessoas que haviam se enganado; pelo contrário, corrigi os erros em silêncio. Desse modo, privei meus colegas, tão capazes quanto eu, da oportunidade de refazer sua análise e reparar o equívoco. Agi como se tudo estivesse nas minhas mãos.

O problema com essa postura foi evidenciado quando uma emoção que raramente sinto porque frequentemente a contenho chegou abalando as estruturas. Raiva. Muita raiva. Desmedida e desproporcional. Até quis colocar a culpa na TPM, mas não deu. A raiva estava ali, naquela dimensão desarrazoada, porque minha prepotência falava mais alto. Sentia que somente eu levava o trabalho a sério. Apenas eu  investia nele apesar da chatice da rotina. Senti muito além do que devia porque me senti muito além do que sou.

Subi num pedestal em alguma época da minha vida e esqueci de descer. Neste exato momento, minha dificuldade em delegar tarefas me vem à mente, e me pergunto quanto dela existe porque penso que somente eu dou conta do recado. Lembro de como assumia os trabalhos em grupo no colégio, de como distribuía meio pesarosa as tarefas entre os colegas, pensando que eu devia ser mesmo a mártir e fazer tudo sozinha pelos outros. Caraca. E cheguei a acreditar que não tinha questões de controle, rs.

Sabe o que é o bom nisso tudo? A vida é uma baita professora. Gostaria muito de aprender lições sem precisar que ela me ensinasse, mas isso raramente ocorre. No caso em particular, além de já estar lidando com a percepção do que se passava, aconteceu que EU errei feio também no trabalho. Então minha colega veio muito tranquila me mostrar o erro, e discutimos qual seria a solução. Simples assim. 

Por último, explico o título da postagem. No segundo ano do ensino médio, assistíamos a uma aula de História quando a professora fez uma pergunta. Bodejei a resposta. A professora, que devia ter curso de leitura labial, entendeu e pediu que eu falasse mais alto. Recusei sorrindo e sem graça. Ela perdeu a paciência e exclamou que não sabia quando eu ia perceber que não era uma princesinha, e o resto da sala, uns bichinhos de esgoto.

Pense numa sacada. Só vim entender quatorze anos depois. 

p.s.: O jeito como comecei esta postagem me lembou este post, que também remete à minha adolescência.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Nós não sabemos ter


Está em todo lugar. Depois de uma tentativa frustrada de relacionamento à distância, uma amiga reencontra, quase um ano depois, o rapaz que a rejeitou. Ela não está mais apaixonada, então evade as investidas súbitas dele. Em virtude disso, eles se desentendem. Ele vai embora para a cidade dele, mas gasta semanas enviando mensagens para minha amiga. Ela própria me escreve uma, dizendo mais ou menos assim: "Homem gosta de mulher ruim mesmo, viu? O fulano agora tá todo apaixonado."

Em outra oportunidade, conversando com uma conhecida, sou apresentada a uma faceta oposta. "Mulher não gosta de homem bonzinho demais," ela sentencia ao me relatar que tinha cansado de uma relação em que o namorado, morto de apaixonado, fazia o que ela queria. Ela terminou, curtiu a vida, mas descobriu  que era com quem ele que queria dividir o futuro. Casaram-se então.

Eis que leio este texto do Ivan Martins, que saiu na semana passada. Depois de descrever pequenos prazeres a dois, ele emenda:

A gente não aproveita o suficiente essas coisas, eu acho. Um tempo enorme do nosso convívio é gasto ralhando com o outro sobre que ele ou ela fez de errado, ou se queixando do que o mundo lá fora fez com cada um de nós. Outra parte imensa do nosso tempo é perdida em tristezas sem razão, em suspeitas sem fundamento, em angústias de origem desconhecida, em culpas que nos perseguem como assombrações sem solução. A gente não gasta tempo suficiente com o corpo do outro, com o coração doce do outro, com a mente inquieta e criativa do outro. A gente não aproveita o outro como poderia, eu acho.     Noites de Inverno, Ivan Martins, Revista Época, atualizado em 1/8/2012.

E aí chego numa conversa que tive com a Pessoa Inteligente há quase dois anos talvez. Porque atravessava outra crise de relacionamento, reclamei da natureza humana quando, injuriada com essa nossa necessidade de caos, perguntei a ela por que cargas d'água a gente precisa sentir Falta. Ela ponderou que o problema não era a Falta. Se parássemos para ver, a Falta move a humanidade. Por causa dEla, saímos do lugar para suprir o que não está lá. A questão naquele momento era outra. A questão é que as pessoas não possuem maturidade para manter o que têm.

A questão é que nós não sabemos ter.

Essa é a verdade por trás da crença popular de que a gente precisa perder para dar valor. Talvez esse pensamento até tenha cruzado sua mente ao ler o exemplo da minha amiga e da conhecida. É claro que há, nesses dois episódios, mais aspectos a ser considerados, como, por exemplo, as relações de poder que foram estabelecidas dentro do relacionamento amoroso dessas pessoas. Mas, lá no fundo, existe também esse problema, esse nosso defeito congênito (nas palavras da Pessoa Inteligente) de não sabermos ter. O carinha não soube ter minha amiga. A conhecida não soube ter o namorado. O carinha e a conhecida sucumbiram a inseguranças, dúvidas e insatisfações em vez de transcenderem a confusão mental e emocional e administrarem o que tinham.

Posso confessar uma coisa? Morro de medo de não saber ter. Morro de medo de desperdiçar uma coisa boa porque não soube administrar o que tinha. Minha estratégia é apreender, nos meus momentos de maior lucidez (que acontecem mesmo é no divã da minha psicanalista), tudo o que me é caro e querido e valoroso. Quando as tormentas chegam, isso me serve de bússola. Tenho a lembrança do que quero manter e vou atravessando a tempestade. Um dia, o céu se abre. Aí a gente curte o Sol que a gente tem.




p.s.: O título desta postagem é também uma adaptação do nome da obra de Marcelo Cândido, Eu não sei ter, editora Virgiliae. Comprei esse livro no ano passado, justamente por causa do título que levava. É uma incursão interessante ao universo masculino.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Valente


Gosto tanto da Pixar, que já se tornou um princípio meu assistir às suas animações. Como um comando inexorável, se estreou um filme da companhia, lá estarei euzinha no cinema para conferir. A humanidade e a ternura em filmes como Up e Ratatouille endossam minha crença de que há sempre uma lição sobre nossa natureza nos longas da equipe Pixar. Que eles transmitam essas mensagens com humor e excelência gráfica é ainda mais um fator para justificar minha admiração.

Foi essa fé na Pixar que me fez assistir a Valente. O trailer havia me sugerido uma história clichê. O longa me confirmou isso. No entanto, há algo mais em Valente que supera o lugar comum e que abriga todo o valor do filme. E somente percebi isso quando li a resenha de Isabela Boscov na Veja.

Minha cegueira se deveu muito a um costume bem corriqueiro: perder o foco (sabe aquela miopia, rs?). Em Valente, me detive tanto na relação entre mãe e filha, que julguei rasa em comparação com a explorada em Enrolados, que não percebi a mudança de paradigma que o filme oferece às meninas.

É que, pela primeira vez em uma animação que trata de reis e rainhas e sua linha sucessória, encontramos uma princesa sem príncipe. Aliás, o melhor: uma princesa que não quer ter um príncipe. Valente não contribui com o imaginário feminino de que a felicidade somente se encontra em par (sem falar que esse par é ainda um ser perfeito, idealizado) ou que nosso objetivo último é a construção de uma família.

Aqui faço uma digressão. Enquanto escrevia o parágrafo acima, lembrei de um episódio que aconteceu há alguns meses. Reencontrei uma conhecida que não via há mais de onze anos. Jurava que ela era mais nova do que eu, mas na conversa descobri que tínhamos a mesma idade. Quando a ouvi falar da filha e do esposo, o sentimento de demérito foi instantâneo: me achei fracassada por não ter o mesmo. Quase ganhei mais dois anos de psicanálise por causa disso, rs, mas foi interessante ver como essa crença está enraizada, por mais que racionalmente a gente saiba que não faz sentido. Aí fica visível que é nesse momento que somos produto do meio. É nesse instante que o elemento cultural que nos compõe se evidencia.

Pois bem, voltando à Valente, acho imensamente salutar que exista um novo exemplo para nossas meninas. Quem sabe assim elas cresçam sabendo escolher o que desejam de verdade. Que bom que um filme protagonizado por uma princesa reafirme a importância de sermos fiéis a nós mesmos na busca de nossa felicidade. Com ou sem príncipe.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Escolhas

 (Não, não é sequência de A loja de experiências. Este é um texto que ficou engavetado por muito tempo, mas que agora o presente me permite arrematar.)




Sentada na areia, observou o garotinho que se aproximava. Ultimamente percebia uma mudança. Sempre quisera uma menina: já havia escolhido até o nome. Se fosse menino, e ela nunca pensou que seria um, havia uma opção de que gostava, mas a cunhada se antecipara. Tinha de pensar em outro.

A criança chegou mais perto, mas ainda assim não soube adivinhar a idade dela. Qualquer coisa que dependesse dos seus olhos restava mal avaliada. Seu olhar era mais que míope para tantas coisas e detalhes. Parecia que sempre apreendia uma visão geral e inexata das coisas.

O menininho a alcançou e parou meio desconfiado. Ela usou seu melhor sorriso, mas ele ainda a espiava como se não entendesse. Quando acenou com os dedos, ele gargalhou, rodopiou e correu na ponta dos pés em direção aos pais, num desafio à gravidade que só as crianças sabem propor.

Percebeu a mudança de novo, a intuição de que o primeiro filho seria homem. Em regra, não acreditava em intuição. Recendia a palpite romantizado. No entanto, era bom sentir que acolhia também a possibilidade de um menino. E o nome?

Suspirou, levantou-se, sacudiu a areia da roupa e lançou a última olhada para o mar. Estava adiantando as coisas. Nem grávida estava, nem casada estava. Na realidade, nem feliz estava. Permanecia imobilizada num status quo de sentimentos que suspeitava não serem correspondidos pelo parceiro. Como o olhar era mais que míope, não enxergava o tamanho da desproporção que havia, mas sentia o vazio mal disfarçado do outro.

"Graça começou um novo caminho", Séfora anunciou sem palavras. As outras duas duvidaram do prognóstico. Graça costumava insistir teimosamente. Devia ser aquele olhar meio míope.

"Você diz isso porque ela se sente triste? Ela nunca desistiu por causa disso", questionou Sílfide enquanto observava inúmeros fios etéreos enlaçarem-se e desenlaçarem-se. A todo momento, milhões de humanos faziam escolhas que transformavam suas vidas. Cada opção descartada era um fio que se desembaraçava de uns para se juntar a outros. Cada nova possibilidade era um fio em um novo arranjo. Ali, num lugar que não era espaço, vidas se constituíam continuamente, e a dança dos fios mostrava os caminhos que seriam trilhados.

"Ela pressentiu que o primeiro filho será homem. Isso não faz parte do caminho atual", retorquiu Séfora. "Essa possibilidade só é tangível se ela abandonar o caminho atual. Está em outro fio."

"O parceiro dela também mudou de caminho", observou Sofia. Apontou com o dedo de estrelas. Um fio se desvinculava de outro, que estremeceu, estremeceu, e depois se imobilizou.

"Parece que Graça finalmente desistiu", sorriu Séfora, e os dentes eram sóis.

O fato inédito estancou as três momentaneamente, suspensas na curiosidade de como Graça procederia.

Quatro fios se aproximaram como se para formar um novo arranjo. Ondulavam cheios de promessas, mas nenhum se cingiu a outro.

"Ah, que bom. Ela percebeu. Ela reencontrou o poder de seguir sozinha," observou Sofia.

Lentamente outros fios se juntaram aos quatro, mas também não se uniram. Resplandeciam de possibilidades. Sílfide aprovou. "Vejam só quantos caminhos. Que pontencialidade."

É nessas horas que a Existência se encanta consigo. Vida é bonita demais, as três sabem. Entendem a beleza da vontade e o palpitar da superação. A prova é esse reluzir de segundas e terceiras e enésimas chances de felicidade.

Oniscientes, Séfora, Sílfide e Sofia captaram o nascimento de uma mudança.

Em algum lugar que era espaço, uma decisão tomada.

Um fio enlaçou outros dois, como se um único intento se houvesse cumprido.

Os dois fios se aproximaram.

"Olha, olha a serenidade dela. Olha as escolhas feitas pelos motivos certos. Pela verdade de si mesma," admirou-se Sofia.

Os dois fios se entrelaçaram. Um novo caminho constituído, que pincelou um sorriso de aprovação nas três e fez o cosmos cintilar milionesimamente.

Num lugar que era espaço, no tempo dos mortais, Graça segurava a mão de alguém, sentindo a novidade da situação. Sentados à beira de uma lagoa, olhavam o ondular das águas, quando ela confidenciou:

"Você era tudo o que eu queria."

Ele respondeu:

"Você era tudo o que eu precisava."

E o Universo ensinou-lhes o significado da leveza de ser dois.



Obs.: Séfora, Sílfide e Sofia foram inspiradas nas Moiras da mitologia grega, mas preferi não utilizar essas personagens míticas porque me pareceram bem sinistras, rs. Então somente aproveitei a ideia dos fios e das deusas... e como vocês podem ver, Séfora, Sílfide e Sofia, ao contrário das Moiras, não intervêm na vida dos humanos. Isso fica mais próximo também de qualquer conceito que o meu ceticismo possa ter de divindade.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A loja de experiências (parte II)

(parte I aqui)

(continuando...)




Um frasquinho guardava uma nuvenzinha tão vermelha e nervosa que chamou sua atenção. Ficou na ponta dos pés para ler a etiqueta:

Experiência 127846

X relata sua conduta em um ambiente de trabalho hostil e de que como foi traída por pessoas em que confiava. Motivo indicado por X para a venda desta experiência: “Quero que as pessoas aprendam a não ser ingênua como fui e que consigam vencer na vida.”

Especulou se o fornecedor dessa experiência conseguiu afinal vencer na vida. Aquela era uma lição provida por alguém que amarga derrotas até hoje ou que colhe os frutos do seu aprendizado?

Sentiu um certo incômodo e o lampejo de um pensamento por demais fugaz para se fazer concreto em sua mente. Restou a certeza de que era uma dúvida sobre o que viera fazer ali, mas o raciocínio se perdeu antes de tornar-se claro.

A terceira etiqueta que leu falava de como o fornecedor enfrentara a morte de um ente querido. Essa lhe pareceu mais útil. A inevitabilidade da morte assegurava que aquela era uma experiência válida de ser experimentada por mais desagradável que fosse. Desistiu, no entanto, quando estendeu a mão para pegar o frasco em que a fumaça negra era quase líquida. Não parecia certo comprar essa experiência. Havia um motivo por trás dessa hesitação, mas não soube precisá-lo porque de novo o pensamento lhe escapara antes de totalmente formulado.  

Algumas etiquetas depois, percebeu que não vira ainda alguma experiência boa, feliz e salutar para vender. Havia desilusões amorosas, decepções, conflitos familiares. Aos montes. Colocou as mãos na cintura e balançou a cabeça. Sentia-se ligeiramente frustrada.

– E aí? Já escolheu o que vai levar?

Era a moça que tinha voltado e que a aguardava com um ar também ligeiramente impaciente.

– Não tem nenhuma experiência alegre? – perguntou sem esperanças.

– Bom, tem aquela ali.

A moça apontou para um frasco que ficava na prateleira mais próxima ao chão, perto da porta de saída. Dentro dele, uma fumacinha dourada cintilava.

– Ah, finalmente um raio de luz em meio às trevas – brincou sério enquanto se agachava para ler a etiqueta.

Experiência 561493

X relata certos obstáculos que enfrentou e venceu. Motivo indicado por X para a venda desta experiência: “Quero mostrar que somos responsáveis pelas dádivas que recebemos na vida.”

O lampejo de novo, mas desta vez agarrou o pensamento antes que fosse, e ele tomou forma e fez sentido. Não adiantava comprar aquelas experiências em busca de sapiência e fuga da dor cotidiana. Em primeiro lugar, nada garantia que não cometesse os mesmos erros que os fornecedores caso deparasse com alguma situação semelhante. A equação era até simples: ela era diferente daquelas pessoas, logo não carregava consigo as mesmas variáveis que influenciaram nas escolhas que os fornecedores fizeram – ou que continuavam a fazer, mesmo depois de engarrafar suas memórias e sentimentos. Quem poderia assegurar que os fornecedores aprenderam com seus erros? Quem poderia assegurar que ela aprenderia? Pelo modo como apresentavam seus motivos para a venda das experiências, todos pareciam derrotados que se esforçam para revelar erros em batalhas que desistiram de travar. 

Todos exceto o fornecedor da única experiência alegre.

Em segundo lugar, talvez nada substituísse o valor de uma experiência unicamente sua. Ou talvez nada acolchoasse golpes inevitáveis da vida tais como a morte. Talvez erros devessem ser cometidos. Talvez todos tivessem de aprender a conviver com uma ausência. Ninguém ali incentivava os compradores a realmente viver.

Ninguém exceto o fornecedor da única experiência alegre.

Ninguém exceto o fornecedor da única experiência alegre e ela.

– Eu decidi o que eu quero – anunciou à moça.

– Você vai levar essa aí? – indagou a moça enquanto se aproximava da prateleira perto da porta.

­– Não. Quero vender a minha experiência de ter vindo aqui hoje.

Sentiu uma enorme satisfação em ver a moça atônita.

– Eu posso vender, não posso? – perguntou doce e sonsamente.

­– Claro, claro – respondeu a moça enquanto se encaminhava para um minúsculo balcão no canto da salinha. – A senhora vai preencher primeiro uma ficha dizendo por que a senhora quer vender essa experiência. Depois a senhora me acompanha ali pra dentro e a gente faz o procedimento e descreve a experiência para constar na etiqueta – explicou a moça ao vasculhar uma gaveta, achar um bloquinho de papel e destacar uma folha. 

– Aqui está – a moça foi solícita e entregou uma caneta juntamente com a ficha.

– Obrigada – disse enquanto preenchia o campo indicado entre aspas.

Motivo indicado por X para a venda desta experiência:

“Quero que as pessoas vivam.”

E seguiu a moça para além da outra porta do recinto. 



Obs.: Prontinho! Agora é colocar a cachola pra funcionar e revisitar a loja de experiências. Bora ver se o texto sai logo, né? :o)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A loja de experiências (parte I)


Finalmente encontrara o número 36 da travessa Michelin, invisível até no Google Maps. Receou tocar a campainha porque não encontrou placa alguma que anunciasse a loja procurada, mas, a bem da verdade, o produto comercializado era absurdamente incomum para ser compreensivelmente resumido em um nome ou frase. Afinal, quem entraria em uma casa onde se lesse “Vendem-se experiências”?

Uma pessoa que viveu eternamente dentro de uma redoma, respondeu a si mesma e absolutamente consciente de que era ela o espécime em questão. Um sorriso de autodepreciação acompanhou o movimento de pressionar o interruptor. Um segundo antes de a porta abrir-se, percebeu que não sabia sequer como perguntar se aquele realmente era o lugar.

Inquietação inútil, porque a moça que acabara de girar a maçaneta e de oferecer-lhe a visão de um cômodo cheio de prateleiras com frasquinhos de geleia, perguntou solícita se ela estava ali para comprar experiências.

– É.

­– Pode entrar. Fique à vontade.

Ela sorriu apertado e ajustou a alça da bolsa que trazia a tiracolo. Enquanto a moça fechava a porta, percebeu que os recipientes não continham geleia, mas uma névoa que se distinguia em cor e densidade em todos os potinhos que seus olhos checavam.

A moça foi providencialmente solícita mais uma vez:

– Você vai perceber que nenhum frasco contém a mesma coisa.

Ou talvez nem tão providencialmente assim.

– É, percebi. Essa fumacinha aí dentro é a experiência?

­– É sim. Na prateleira tem uma etiqueta indicando a experiência que cada frasco contém. Você já sabe o que quer?

­– Ainda não. Vou só dar uma olhadinha, tá?

– Fique à vontade.

Demorou um minuto para perceber que não ficaria à vontade enquanto a moça estivesse ali, de mãos para trás, observando-a ler as etiquetas. Sentiu um ímpeto de sair e voltar quando tivesse a certeza do que precisava.

Um telefone tocou atrás da outra porta do recinto, e a moça finalmente a deixou. Ressentiu-se com o serviço oferecido pela funcionária: era de esperar-se que soubesse tratar melhor alguém tão inapto que precisava comprar experiências alheias para ver se funcionava melhor na vida.

Aproveitando sua liberdade temporária, aproximou-se mais das prateleiras. Em frente a um frasco no qual um vapor acinzentado espiralava, leu a seguinte informação:

Experiência 012659

X relata que ela e Y eram amigas até se interessarem por Z. Z escolheu Y. X tentou continuar amiga de ambos, mas percebeu que era doloroso demais. Motivo indicado por X para a venda desta experiência: “Quero mostrar os erros que cometi quando tentei preservar minha amizade com Y, mas que me levaram a perder Z.”

Entortou o nariz para esse recipiente. Era tão clichê. No entanto, intrigante observar de perto como o comércio de experiências funcionava. Quando descobriu o site da loja na internet, leu as informações constantes na página, mas nada comparava a ver as experiências condensadas e descritas em termos impessoais para preservar a privacidade dos seus fornecedores.

A loja comprava e revendia as experiências de vida de quem as desejava vender. Não foi informado no texto da homepage se os ditos fornecedores, as pessoas que haviam experienciado eventos em suas vidas que julgavam úteis para o aprendizado dos outros, perdiam ou não a memória daquilo que vivenciaram ao vendê-lo. Mas estava bem esclarecido que quem comprasse a experiência de um determinado fornecedor teria acesso às memórias dele, seus sentimentos, suas conclusões e observações acerca do que se passara. O grande lance era que o comprador adquiriria de uma só vez a sabedoria obtida por outro através de um longo processo de encontros e desencontros. Com esse conhecimento, era muito mais provável que o comprador não cometesse os mesmos erros que o fornecedor cometera caso a vida ironicamente lhe apresentasse uma situação semelhante. Era melhor do que receber conselhos, porque, ao experimentar algo de outrem, o comprador sentiria na pele tudo o que fora vivido. Era, portanto, didaticamente mais eficiente.

E, de qualquer forma, ninguém segue conselhos até levar uma bordoada na cabeça. 

(continua no próximo post)



Obs.: Esse texto foi escrito em julho de 2008 e foi postado aqui no início do blog. Há várias coisas de que não gosto nele, especialmente essa grande explicação do penúltimo parágrafo, mas, por preguiça ou apego, não consigo reescrevê-lo. Ao comentar esse fato com a Pessoa Inteligente, ela lançou o desafio de que eu escrevesse um novo texto em que eu revisitasse a loja de experiências. Pois bem. Então eis a primeira ida à loja (dividida em duas partes - a II está aqui) para dar o fio da meada caso consiga ir lá uma segunda vez.

Ah, e é claro que a protagonista sou eu, rs, desde a bolsa a tiracolo (companheira dos tempos em que eu não tinha carro) até os melindres com a vendedora. Vai perdoando aí, que eu estava iniciando minha mutação nesse tempo.

:o)

terça-feira, 12 de junho de 2012

A hora das coisas

Porque meu caminho ainda não havia cruzado o seu, você me perguntou um dia:

- Onde é que tu tava?

A resposta que escondi por trás do meu sorriso:

- Tava me transformando na pessoa que você merece.

                                                                                                           tua Kel, 
                                                                                                           bjo bjo

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Onde está Wally?


Me deixa sacudir a poeira que cai sobre o blog sendo ligeiramente fútil? É que é a primeira vez que apareço no jornal, rs. 



Esse casamento aconteceu no dia 28 de abril e foi tão lindo. Quase escrevi sobre ele, mas as reflexões que fiz por lá ou eram de ordem muito íntima ou poderiam expor outras pessoas, então fiquei quietinha. Digamos somente que ele me ajudou a enxergar o que quero para minha vida em certos aspectos. Isso foi muito importante para eu abraçar um presente que o casamento de outra amiga me daria duas semanas depois.

E eu tô me sentindo, ó. ;o)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ô coisa linda

É só para a gente sorrir, que é impossível não fazer isso no 1:18 do vídeo.



Um certo amigo diria que Tan Hong Ming está em estado de graça.

:o)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

E aqui se encerra essa conversa de 30


É só pra postar as fotos, juro. Não tem mais chororô, nem lista, nem reflexão.

Bolo da festa 1.  Taí, meninas, mais uma foto em que sorri demais.
Compacto da festa 1. Faltou a vovó, que estava doente.
Foto preferida da festa 1.
Bolo da festa 2. Sorri demais. De novo.
Compacto da festa 2. Dá pra ver minha concentração ao cortar o bolo?
Prestes a cometer um bolocídio. 
:o)