sexta-feira, 2 de julho de 2010

Em reverência à vida

Começou quando soube pelo blog da Lu, que a amiga dela, também chamada Luciana, havia falecido aos 33 anos de idade. Luciana descobriu que tinha câncer pulmonar quando estava no quarto mês de gravidez. O bebê (Helena) nasceu em fevereiro deste ano.

É impossível não se comover com a história de Luciana. Lendo o blog que ela e o marido mantinham, fico impressionada com a força de vontade e a fé que moveram os dois. Os posts dão a dimensão do quanto o câncer de Luciana era assustador (imagine não conseguir respirar) e da luta que eles travaram. É também muito comovente ver o quanto se amavam. São lindas essas palavras de Woltony (dentre tantas outras palavras lindas):
A outra coisa foi que, quando a Luciana estava indo dormir, a gente sentou junto na cama e ficamos bem abraçadinhos. Por mais que algum de nós tentasse falar alguma coisa, nada falava tanto quanto estarmos ali juntos, abraçados. Ela brincou comigo dizendo que se eu soubesse que ela ficaria doente, eu não teria casado com ela. O que me deixa muito feliz é que eu sei que mesmo que eu soubesse, eu não teria feito nada de diferente na minha vida e que todo dia eu peço a Deus que me ajude e que me ensine a ser um bom marido para ela. Ser chamado de marido da Luciana é um motivo de muito orgulho para mim. (Vivendo um dia de cada vez)
Retomando o que dizia no primeiro parágrafo, começou quando li a notícia. Senti um pesar muito grande, que não se compara ao daqueles que conheciam a Luciana. Mas outra coisa me inquietou de uma forma que fiquei pensando durante esses dias "quero escrever, quero escrever". Sei o que despertou isso. No post do Just breathe, a Lu, ao noticiar o falecimento de Luciana, reitera o que havia escrito dias antes por ocasião do seu aniversário e relembra que estarmos vivos é uma dádiva.

Isso poderia soar como truísmo, mas você já parou para ver se realmente celebra o fato de estar vivo? Como falei no post Estar bem, às vezes confundimos a noção de estar bem com a ausência de dor. Estar bem de verdade é vibrar com as coisas que nos dão prazer, é realmente ter vontade de viver. É não passar em brancas nuvens.

Não posso falar pela maioria, mas acho que ando me perdendo demais nas preocupações do cotidiano. Constatei isso quando, dois dias atrás, lembrei do post da Lu e me deu um ímpeto de viver, e bateu a vontade de pegar a mão do Márden, puxá-lo para fora da secretaria e subir até o topo do edifício em que trabalhamos para observar a paisagem urbana e o mar que a gente vê lá de cima. Mas o senso de obrigação preponderou, continuei colada na minha cadeira e tentei voltar para os meus precatórios.

Não é que devamos sair por aí ignorando horários de expediente ou matando aula. A questão é que essa vontade de viver, que deveria ser constante, é uma exceção na maioria das vezes. É tão exceção que se torna excepcional por ser tão rara. Penso que isso acontece porque nos preocupamos mais do que nos ocupamos em viver. Quer ver? Conte nos dedos quantas vezes você se preocupou hoje. Compare com os dedos que contam as vezes em que você se ocupou em viver. O que a matemática revelou? Para mim, ela revelou que preciso viver mais. Vez e outra, tenho consciência dos presentes que a vida me deu e sinto gratidão por eles. Falta ainda sentir gratidão pela própria vida.

E fazer sempre alguma coisa em reverência a ela.

2 comentários:

b arrais disse...

Bacana! Posso dizer uma coisa? É sim para ignorar os horários de expediente e matar aulas, às vezes! Hoje você devia mesmo ter subido para ver a paisagem urbana! cinco minutos seriam suficientes... um beijo no telhado e depois você voltava para seus precatórios! Da próxima vez siga seu impulso, por favor! :D

Luciana disse...

Amiga, pelo que vc escreveu, acho que estamos mesmo em sintonia. Até já escrevi um post sobre umas "fugidas" que ando dando do trabalho, rs... Também acho que, de uma outra vez, é bom seguir o instinto - vai ser muito gratificante!

Quando eu estava indo para o meu primeiro Kyol Che, eu sabia que iria "me queimar" com o chefe (por conta do período em que iria pedir férias) e estava muito preocupada com isso... E foi aí que caiu uma ficha para mim, na forma da seguinte frase: "a maior prioridade da minha vida não é deixar meu chefe feliz".

Nossa, quase escrevi um post aqui, rs!