segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O primeiro post do ano tem de ser...

Em dezembro de 2007, minha inbox do e-mail guardava uma mensagem de Carlos Drummond de Andrade, e aquilo era um sussurro especial no meu ouvido. O poeta me dizia que eu era responsável por minha vida, pela maioria dos eventos que a constituem, e que o novo dependia somente de mim.

Como mortos não me enviam mensagens sequer via hotmail, obviamente que o texto, na realidade, nada mais era do que o poema que segue abaixo, repassado por um amigo (era o Thiago?) que nem desconfiava do tamanho do presente que me dava. Pesquisei e vi que está em vários blogs, e no meu vai estar também a partir deste momento:

Receita de Ano Novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.
(http://www.releituras.com/drummond_dezembro.asp)

Lindo e profundo, não? Permanece aqui como um lembrete para mim mesma de que crescer continua minha meta para este ano. Este ano que, a bem da verdade, só é marcado como algo distinto do ano que passou pelas convenções a que nos agarramos para organizar nossa vida cronologicamente. É que hoje percebi mais definidamente que ainda estou processando e completando alguns ciclos iniciados mesmo antes de 2008. No fim, o ano é uma invenção nossa, bem útil, porque, sem a passagem dele, talvez eu nem estivesse pensando em ciclos e evolução agora. Não estaria sentindo a necessidade de fazer projetos para tornar novo o meu 2009.

E só porque Drummond se garante demais, aqui está mais um dele (não sei se está completo e se o título é o correto):

Cortar o tempo
Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez,
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para diante vai ser diferente.

(http://www.pensador.info/p/cortar_o_tempo_integra_drummond/1/)


Um comentário:

Garota D disse...

Feliz Blog novo! Parabéns pela escolha da poesia do seu primeiro post. Tenho certeza que cativará muitos leitores e eu sou um deles.
Beijos.