domingo, 18 de janeiro de 2009

Efeito Borboleta

Certo dia, fui ao cinema. Não lembro qual filme esperava começar quando surgiu na tela o trailer do Efeito Borboleta 3. Alguns anos atrás, havia me arriscado a assistir o segundo filme dessa desavisada "trilogia" e saí decepcionada e indignada. Aquilo era uma ofensa ao primeiro filme, que deveria ser o único Efeito Borboleta que existe. Esse tinha ficado na minha memória como um excelente trabalho, que só não revi até recentemente porque a romântica aqui se incomodou ao ver Evan (Ashton Kutcher) e Kayleigh (Amy Smart) seguindo caminhos opostos no fim.

O curioso é que havia alugado num impulso o Efeito Borboleta dias antes de ver o trailer do terceiro. Confesso que agora não me pareceu mais o filme espetacular de antes. Evidente que certas impressões não poderiam mais se repetir pelo simples fato de que já sabia o que aconteceria. Foi o caso da surpresa inicial em ver temas como abuso infantil e incesto sendo retratados e expostos pelas cicatrizes que deixaram nas personagens. Também não consegui achar o Ashton Kutcher o bom ator que outrora pensei ser.

No entanto, o que mais me incomodou enquanto revia o filme foi perceber que o roteito limitou demais as realidades alternativas nascidas a partir da intervenção de Evan no passado. Por que sempre as mesmas pessoas estavam presentes, apenas cumprindo papéis diferentes? Evan não poderia ter tido outra namorada mesmo salvando Kayleigh dos abusos do pai? Kayleigh namoraria mesmo Lenny se ele tivesse crescido mentalmente são enquanto Evan circulava em um cadeira de rodas? Por que era sempre o mesmo círculo de amigos/inimigos?

Então a mesma pessoa inteligente do post Estar bem me chamou a atenção de que a grande sacada desse filme é mostrar o nível de responsabilidade que temos ao fazer nossas escolhas, que sempre afetarão os outros. É o caso de Evan e sua mãe, que desenvolve um câncer por fumar demais ao ter de lidar com a realidade de um filho sem braços e sem uso das pernas. Se ele não tivesse ousado se aproximar da dinamite, não teria sofrido o acidente, e ela não teria tragado maços e maços. O interessante, no entanto, é que foi ela quem optou por fumar em demasia, e o resultado, sua doença, impele Evan a tentar mudar de novo o passado que os levara àquela situação. Isso mostra como uma escolha nossa desencadeia outra série de possibilidades de escolhas e assim por diante.

Entendi que não foi o roteiro que limitou as realidades alternativas. O roteiro foi limitado pelas circunstâncias: para transmitir aquela mensagem, um punhado de personagens era o suficiente. Aliás, o efeito seria mais forte, já que estaríamos nos familiriazando com cada um deles. Haver mais pessoas envolvidas diluiria o filme.

Eis que Efeito Borboleta se redimiu perante meus olhos. Claro que a queda não tinha sido tão grande assim. Ainda gosto dos efeitos especiais quando ele tenta voltar no tempo, levei o mesmo susto em ver o Evan criança segurando aquela enorme faca na cozinha, e a última cena ainda tem o efeito de sempre. Aliás, agora me conquistou porque vi dois finais alternativos e felizes nos extras do DVD e percebi que o melhor desfecho é o que ficou, embalado ao som de Oasis.

Pronto, encerro minha quase resenha muito anacrônica por aqui.

p.s.: Quanto à terceira sequência, li um comentário positivo em http://www.imdb.com/title/tt1234541/

2 comentários:

Aluízio Loureiro disse...

Oi, Raquel! Vejo esse filme exatamente com essa mesma perspectiva: a da responsabilidade. Me lembro uma vez, eu estava no ônibus e um cara discutiu com o cobrador e a briga terminou com o cara sendo xingado de burro e outros adjetivos que o fizessem se sentir na mais baixa posição da cadeia alimentar. O fato é que, minha imaginação (que é monstruosa) me levou a visualizar esse cara chegando em casa e brigando com a esposa, betendo no filho, aí o filho tomaria uma atitude rancorosa contra o pai a partir daí... Viajo, né? Mas também isso não é tão inverossímil, né? Quantos dos nossos bons ou maus momentos foram só um elo de uma cadeia de fatos? O afago que uma mãe deu pq estava feliz e fez com que o filho se sentisse seguro ou o sermão que ela fez pq estava frustrada e que acabou deixando algum tipo de complexo até hoje. Infinitas possibildades. E todas imprevisíveis pq vão depender de como o receptor vai interpretar e lidar com aquilo. Mas o mais seguro é sempre passar a corrente do bem, ela é a menos arriscada.
Valha!!! O meu comentário ficou quase maior que o teu texto! Aff, falo demais! Beijo!

Garota D disse...

Presos ao tempo que somos, nossas escolhas nos colocam em caminhos, que seriam diferentes se as escolhas fossem outras. Às vezes, me divirto imaginando, trocando pequenos detalhes de um dia e percebendo que ele teria um desfecho diferente. E às vezes me assusto, quando alguma coisa te alerta e você deixa de fazer certa coisa e se salva de um desastre (que dramático), mas pelo menos de uma situação desagradável. Mas o que eu sempre procuro manter em mente, é que apesar de o tempo ser rígido, ainda estamos falando de escolhas. O cara que brigou com o cobrador, se bater no filho ou na mulher, escolheu fazê-lo e deve assumir a responsabilidade de seus atos.
Beijos! Obrigada pela reflexão de hoje.