segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Do fundo do baú

Esta é do fundo do baú. Redescobri uma pastinha no meu computador com textos que escrevi no colégio e na faculdade. Um dia desses, conversando com meu amigão Euclides, me surpreendi com o fato de que ele ainda se lembrava desta redação, escrita no terceiro ano do Ensino Médio. Acho que a redigi no período em que estudávamos para a segunda fase do vestibular, porque não me parece que tenha provindo de um tema proposto pela professora. Salvo engano, foi uma ideia que tive e que quis experimentar.

Amélia queria uma vida simples, longe da cidade, ao lado do homem humilde e trabalhador. Sonhava em acordar com o Sol, colher o dia sob os raios do astro e ir repousar com o marido depois da labuta honesta.

Era realista, porém, a Amélia. Sabia dos defeitos de seu companheiro da mesma forma como conhecia a si própria. Embora não se iludisse, entendesse que o casamento fora por conveniência, alimentava uma certa esperança de ser amada como achava de seu direito. Agarrava-se aos mimos que o homem lhe fazia e, nessas horas, permitia que a vil vaidade feminina a enganasse, fazendo-a crer no amor inexistente.

Um dia, flagrou o marido e a empregada enlaçados em êxtase. O homem não resistira ao corpo quente da mulata e rendera-se ao instinto que lhe fazia uma criatura como todas as outras. Amélia sentiu o ódio bombear a adrenalina nas suas veias. Ah, que ela matava aqueles dois!

Não os matou, porém. Quis foi sair correndo, trôpega, o busto arfante, as lágrimas como cristais lançados ao vento. Elevaria seus olhos ao firmamento, a alma soluçando despedaçada, e pediria forças para viver. Nunca estaria tão bela como naquele momento de súplica.

Amélia, entretanto, nem deu os três primeiros passos da tal corrida romântica. Aconteceu que, ao olhar para o céu, não viu a pedra e tropeçou. Tropeçou naquela mesma pedra encontrada pelo poeta no meio do caminho.


Nesse texto, resolvi abordar escolas literárias em cada parágrafo. No primeiro, exponho o ideal de vida simples e bucólica, próprio do Arcadismo. No segundo, entro no Realismo trazendo o tema do casamento por conveniência e tentando fazer uma abordagem mais "psicológica" da personagem. No terceiro, fiz presente um certo determinismo e fisiologismo característicos do Naturalismo. O quarto parágrafo é aquele sentimentalismo eloquente do Romantismo. Por fim, no último parágrafo, tentei ilustrar o Modernismo fazendo uma sátira do romantismo anterior.

Escrevendo este post, me dei conta de que não posso deixar de mencionar o blog da Silmara Franco, porque foi de lá que veio minha ideia de postar essa redação. A Silmara postou dois textos belíssimos escritos por ela ainda na adolescência. Recomendo muito a leitura de O fio da antiga meada e O fio da antiga meada - II. Está certo que não sou uma Silmara Franco, mas quis compartilhar com vocês essa Ana Raquel de onze anos atrás.

E agora vou embora que o trabalho me espera.

:o)

4 comentários:

b arrais disse...

Gostei do seu texto, Raquel. Muito bem escrita essa redação. :D

Anônimo disse...

Muito boa a redação (deve ter tirado nota máxima no vest2000!) e o comentário explicando as escolas literárias... Excelente!
Fui no parque do Harry Potter em Orlando semana passada e lembrei demais de ti. Vc tem de ir logo conhecer!
Beijão.
ICL

Raquel disse...

Que legal, ICL! Estou tirando o visto para viajar no próximo ano.

bjo

Anônimo disse...

Como diz um amigo, "né querendo agravar niguém não" (ele não é do Direito), mas gostei mais da sua redação. Você escreve bem desde cedo. Bom fim de semana! Henrique.