quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Melancolia

Mais do que nunca, só leia este post se já houver assistido ao filme. Além de spoilers, não consegui costurar uma sinopse dentro do meu texto. Quem quiser saber mais, clique aqui.

Melancolia terminou e tive dificuldade de me levantar da cadeira do cinema. A inércia se devia em parte, reconheço, à náusea que me ameaçou o tempo inteiro durante a projeção. Se aquele é o estilo usual de Lars von Trier de filmar, suas obras deveriam conter um aviso para prevenir quem, assim como eu, enjoa até em viagem de carro.

Mas é claro que fiquei paralisada também pela força do filme. Houve um diálogo entre Justine e o noivo que me deixou suspensa durante todo o longa e me assombrou o resto do final de semana. De resto, o filme inteiro me foi tão impactante quanto o próprio planeta Melancolia.

Porque, no fim, acredito que é disso que trata o filme: de deixar-se impactar pela melancolia. Desconfiei um pouco de minha conclusão, pois me parece ligeiramente simplista, mas a ameaça de colisão de Melancolia com a Terra nada mais é do que a metáfora para a sujeição a esse sentimento que nos acomete. Enquanto assistia ao filme, sempre me vinha à mente como, na língua inglesa, o verbo strike é empregado tanto para se referir literalmente a uma colisão (para aproveitar o enredo do longa, The planet Melancholia will strike the Earth) quanto a ser atingido por uma emoção (e.g. Melancholia struck Justine the minute her mother opened her mouth).

E eis que a melancolia realmente atinge todos. Justine e ela já são velhas conhecidas. Espíritos afins, como me pareceu sugerir aquela cena em que a personagem de Dunst se banha da luz do planeta. É curioso ver que, a partir do momento em que Melancolia se aproxima da Terra, os outros saem de suas órbitas ao se renderem ao medo, mas é Justine que permanece centrada. Ela já conhece aquele mundo; somos nós que trepidamos ao sermos apresentados a ele.

Aparentemente, nada resiste à melancolia. Não é de forma alguma um prognóstico animador, mas não deixa de ser uma realidade, pelo menos enquanto estamos imersos no sentimento. Pelo pouco que li de von Triers, foi a realidade que ele viveu por algum tempo. Não o culpo por tentar dar vazão à sua angústia. Li uma resenha que comparava os filmes Melancolia e Árvore da Vida, e terminava por julgar este superior por não ser, digamos, niilista como aquele. Sinceramente, é uma questão de escolha sobre a que se atribui sentido. Podemos ter uma experiência positiva se entendemos, por exemplo, que a lição está em se fazer exatamente o contrário do que é mostrado na tela. Neste aspecto, Melancolia pode até ser pedagógico se compreendermos que não devemos agir como suas personagens.

O filme me pareceu quase um thriller. Fiquei impressionada como algo tão intimista pudesse me causar suspense. Durante a primeira parte, uma vez que acreditei fosse verdadeira a alegria em que Justine se encontrava no início da projeção, fiquei intrigada com as falas das personagens e com aquelas pequenas pistas. Quando Justine começa a sucumbir à tristeza, os diálogos sugerem algo que já estava lá, mas que não víamos, e pouco a pouco a depressão crônica de Justine é revelada. Kirsten Dunst é maravilhosa ao demonstrar isso apenas com o olhar.

Às vezes, a maioria das vezes na verdade, reluto muito em recomendar qualquer filme. É sempre uma questão de gosto e de história de vida, que tem de achar alguma ressonância naquilo que é projetado na tela de cinema para justificar a simpatia por uma obra. Não recomendo o filme de Lars von Trier sob hipótese alguma. Quem quiser vê-lo, faça por sua conta e risco. Por outro lado, ao contrário do que aconteceu com Árvore da Vida, pelo menos soube que gostei de Melancolia. Assistiria de novo se não fosse o medo da náusea... se bem que tenho sempre uma caixa de Dramin à mão. ;o)

Um comentário:

Anônimo disse...

É, ARM, o filme é pesado, denso, tenso... E Kirsten Dunst está fenomenal, mais q mereceu o premio de Cannes.
Vi o filme pela primeira vez há mais de um mês e saí 'apenas' muito pensativo. Na 3a feira vi de novo e o mal-estar tomou conta de mim (o q, como sabemos, em psicoterapia é excelente!). Talvez isso tenha ocorrido pq na véspera tinha visto o novo do Almodovar...
Tente ler a resenha do Pablo Villaça.
Bjo.
ICL