quarta-feira, 6 de julho de 2011

A caixinha, o querer e o errado

Ontem vi uma caixinha de madeira linda. Aliás, como é uma questão de gosto, digo que era linda pra mim, que adoro caixinhas de madeira. Essa não tinha pintura nem decoupage, mas sua tampa imitava uma vitrine. Por trás do vidro, havia botões, uma blusinha de tecido xadrez, uma miniatura de máquina de costurar que nem a da minha avó (aquela Singer preta e esbelta), um carretel de linha.

Quis muito comprar a caixinha. Contra esse querer, vieram tantos motivos... Eram muitos reais a menos no meu bolso por uma coisa de que não precisava, faltava uma penteadeira para ter onde colocá-la, talvez houvesse uma mais bonita em outra loja...

Por outro lado, sentia que a queria. Até enxergava minhas pulseiras e brincos dentro dela, devidamente separados pela divisória que ela continha.

Mas terminei deixando a caixinha na loja. O argumento que me venceu foi o mais estúpido de todos os argumentos que poderiam servir de desculpa para não a comprar. Não a levei porque pensei "Mas ela deve ser para guardar coisas de costura. Eu não vou guardar coisas de costura nela."

Em outras palavras, desisti porque seria "errado" guardar brincos e pulseiras em uma caixinha de costura. Apesar de querer a caixinha, não a comprei porque seria "errado".

Hoje minha analista me chamou a atenção de como esse cartesianismo, essa minha divisão das coisas em certas e erradas, rouba o lugar do meu querer, da minha vontade. Naquele momento da sessão, nem me recordei da caixinha, mas, ao caminhar do consultório para minha casa (um longo percurso de meio quarteirão), lembrei do episódio e me dei conta de como é um exemplo emblemático dessa minha questão.

E aqui faço um desabafo. Confesso que ainda não sei mudar isso. Confesso que, principalmente desde a semana passada, desejei ter outra forma de ver as coisas, ter outro jeito de funcionar, ter outra história de vida.

Preciso mandar Descartes passear.

De modo que, da próxima vez que vir uma caixinha, o querer apareça sem a interferência do errado, e prevaleça e reine sozinho e eu fique feliz.

5 comentários:

Anônimo disse...

É impressionante como, qdo estamos abertos, consiguimos enxergar nossos questões a partir de situações triviais, mesmo q não consigamos imediatamente nos livrar dessas limitações.
To revendo os filmes do Harry Potter - vi o 3º hj - antes de assistir ao q vai estrear, e percebi, a partir de metáforas óbvias da série, questões minhas q não consigo desatar.
Engraçado q qdo vi os 4 primeiros filmes (q vc me emprestou!) achei todos eles até legaisinhos apesar de bem infantis...
Mas o mundo dá voltas, querida!
Ainda bem!
ICL

b arrais disse...

Decartes era um cara muito do chato! Pronto, falei!! :P

Henrique disse...

Muito bom! Abçs, Henrique.

Luciana disse...

Muito legal o post. Tantas coisas que a gente quer mudar e não consegue, né? Mas dizem que perceber é o primeiro passo. Em breve, só quem mandará em você será o coração... :-)

Nilton Jr. disse...

Bem interessante mesmo, eu costumo dividir a vida não pelo que acho certo ou errado mas pelo que prejudica e o que não.