domingo, 31 de julho de 2011

De volta e sem saber como estar de volta


Acho que a primeira coisa que quero dizer é que não sei o que estou sentindo...

É engraçado como, neste momento, desconfio que um dos maiores condicionamentos que tenho está atuando, mas não consigo transcendê-lo. Vou explicar.

Resolvi participar do Kyol Che novamente. Depois de todo o bem-estar e centramento que o retiro me proporcionou no ano passado, parecia impensável não retornar. A questão começou aí. Criei a expectativa de me sentir tão feliz quanto em 2010.

Isso não aconteceu. É até óbvio por que não. No ano passado, fui ao Kyol Che no meio de uma crise tal que qualquer sorriso que eu conseguisse manifestar me parecia uma vitória sobre a minha tendência à vitimização e sobre o medo que sentia do que ia enfrentar quando voltasse para o mundo. Vencer todos aqueles sentimentos e descobrir minha autossuficiência foi um presente inigualável.

Aí está minha resposta: inigualável. Não haveria outro igual, mas esperei que houvesse. Como resultado, nos primeiros dias de silêncio, involuntariamente ficava comparando a experiência Kyol Che deste ano com a do outro. Então me perdia em censurar esse ato de comparar, porque claramente aquilo me tirava do espaço de viver no aqui agora. Com isso, gerava ainda mais confusão mental.

Mas eis que, durante uma prática de meditação, me ocorreu que minha busca pela perfeição estava atuando. Lembrei que toda vez que uma coisa verdadeiramente boa não está boa o suficiente, é porque estou perdida neste meu condicionamento de querer O Perfeito. E assim relaxei. E o retiro se tornou o que foi. Foi mais sutil, uma vez que eu já estava mais experiente em meditar. Foi revelador, porque descobri o quanto não estou preparada para a mortalidade dos que amo e o quanto me falta de espiritualidade. Foi desafiador, porque tive de superar toda uma angústia e uma construção mental que surgiram ao enfrentar essa questão da mortalidade.

Assim voltei para Fortaleza.

E descobri que não estou centrada, rs. Já senti a sombra de vários condicionamentos. A boa notícia é que os sinto, mas comparados com os sentimentos de rever o Dinho, de sair com minhas amigas, de falar com a família, de finalmente ver Harry Potter!, eles bem parecem o que são: coisas da minha cabeça. Blah! A má notícia é que a comparação com o ano passado voltou. A pior notícia é que sei que é o condicionamento da busca da perfeição. A melhor notícia é que espero que esse turbilhão seja o início de uma desconstrução. É impressionante como, para sermos o que verdadeiramente somos, é necessário desconstruir e não construir.

A melhor das notícias é que, quando o Dinho voltar da prova de ciclismo que ele tem hoje, vou me permitir deitar do lado dele e ser vulnerável.

Porque, afinal, não sou perfeita.

Um comentário:

Luciana disse...

Ana, estou certa sobre sua última conclusão: é, sim, o início da desconstrução. Quando se une intenção com consciência e compromisso, não tem como dar outro resultado... :-)