sexta-feira, 11 de março de 2011

Cisne Negro em pedaços


Acabei de assistir ao Cisne Negro. Entendo como esse filme pode ser banal para muitas pessoas, mas devo dizer que ele me tocou. É que tenho uma Nina dentro de mim, e foi ligeiramente incômodo ver esse reflexo no longa. Assim como acontece com a personagem de Natalie Portman, a menininha que há em mim está fortemente ligada ao ideal de perfeição. Sinceramente, não sei explicar a relação de causalidade entre esses dois elementos, mas o fato é que só busco a perfeição enquanto a menininha está no comando. Aí tudo me frusta e me fere, porque nada é perfeito (óbvio!).

No mais, nem sei o que dizer do filme. Comentários e ideias vêm e vão sem coesão alguma. Por causa disso, e porque hoje vou tentar não escrever um texto perfeito, minhas observações seguem em tópicos:

- Adorei o paradoxo que o filme demonstrou ao retratar a realidade da casa de Nina. Lá portas sem trancas significam prisão.

- O sadismo do coreógrafo responsável pela montagem dO Lago dos Cisnes é demonstrado na primeira cena em que aparece. Thomas entra na sala de aula, enquanto bailarinas e bailarinos fazem aula, e sai tocando o ombro de algumas delas enquanto discursa sobre sua próxima produção. Naturalmente somos levados a pensar, assim como as próprias dançarinas, que aquelas serão as futuras concorrentes ao papel principal. Somente depois ele faz o favor de explicar que aquelas farão parte do corpo de baile e que as outras é que deverão comparecer à sala de ensaio para concorrer ao papel de Odette/Odile.

- Por mais que saiba que foi uma escolha do diretor a dualidade preto e branco/rosa para retratar o contraste entre mãe e filha, achei meio forçado ver a mãe de Nina sempre vestida de preto.

- As alucinações de Nina me pareceram uma hipérbole de nossas próprias paranóias. Se pararmos para pensar, as fantasias da bailarina se iniciam a partir de um dado real e depois extrapolam para o fantástico. Suas costas arranhadas são um fato, tanto que sua mãe também as enxerga, mas a mente de Nina constrói e nos sugere (já que partilhamos de sua perspectiva) o nascimento de asas. Não sei quanto a vocês, mas eu já fiz muita tempestade em copo d'água por causa de uma fatozinho de nada sobre o qual minha cabeça ficou fazendo mil conjecturas.

- Natalie Portman está de parabéns por seu trabalho como bailarina. Soube que poucas cenas são de sua dublê. Em alguns momentos, é visível que naquela sapatilha não está o pé de uma profissional, mas é uma questão de estrutura física mesmo: não há como a atriz ter a linha de uma bailarina que dança há anos.

- Depois de ler várias resenhas no Rotten Tomatoes, tenho orgulho de puxar a brasa para nossa sardinha e dizer que a crítica que mais captou a densidade do filme e de seu simbolismo foi a de Pablo Villaça. Shame on you, American Critics!

- Gostei muito desta entrevista com Natalie e Darren Aronofsky. Foi interessante ver a impressão da atriz de que o mundo do balé impõe uma infantilização às bailarinas. Durante sua preparação, Natalie percebeu que as bailarinas falavam com voz de menina, e foi dela a sugestão de que Nina falasse do mesmo modo.

Não pensei em como terminar o post, então fico por aqui.

5 comentários:

Anônimo disse...

Estava verdadeiramente ansioso pra ver teus coments sobre o Cisne; pensei até em te mandar um email pedindo.
Tbm saí tocado do filme, por alguns dos motivos q vc listou, em especial pelo lance da busca de uma perfeição inalcançável...
Mais um txt seu excelente!
Beijo.
ICL

Xica Inbox disse...

O filme é maravilhoso mesmo, Raquel! Só achei sexualmente muito apelativo... só por isso dei uma nota baixa pra ele. Mas em termos de produção, de roteiro e elenco... \O/... Nota 10,0... Beijossssssss

Carlos Eduardo Bacellar disse...

Olá, Raquel! Tudo bem?
Depois, se tiver um tempinho, passe no @doidoscine e leia nossa resenha sobre a produção do Aronofsky. Que filme!
Abraços!

Karol_Vale disse...

Ao terminar de ver o filme senti: estranhamento e identificação. A busca pela perfeição é ao mesmo tempo um motor e uma âncora que impele e impede de ir em frente.
Quanto às cenas sexualmente apelativas, usando as palavras da Márcia, elas não me incomodaram porque não foram despropositadas.
O que posso dizer é vemos o mundo do balé ao mesmo tempo como belo e assustador por seus efeitos em seus habitantes.
Parabéns pelo texto, Raquel.
=D

Luciana disse...

Vi o filme na sexta passada, fiquei de boca aberta. Gostei bastante.

Acho que todas a mulheres passam, de uma maneira ou outra, por uma fase em que há uma certa "briga" entre a mulher que quer se mostrar e a menina que quer controlar, tem medo da mudança. No caso de Nina, o medo e o controle eram tão grandes que deu naquilo, rs.

Nota 10.