sábado, 16 de outubro de 2010

Um espelho a "contrario sensu"


Ah, finalmente sentei para escrever este post, que estava martelando há tempo na minha cabeça.

Tive a oportunidade de participar de mais um Workshop de Renascimento no último fim de semana de setembro. Dessa vez, fui assistente e gostei muito da experiência. É gostoso dar suporte para as pessoas que estão experienciando a técnica, principalmente quando o fazem pela primeira vez.

No entanto, devo dizer que o mais marcante nesse trabalho foi ter estado na companhia do meu irmão, que foi à palestra, gostou do que experienciou e quis fazer parte do evento (para entender de que palestra e workshop estou falando, ver este post aqui).

Para explicar por que essa experiência foi marcante, começo falando de uma metáfora. Foi preciso vencer uma resistência antiga, mas hoje em dia gosto de trabalhos em grupo porque me proporcionam vários espelhos (e aprendi a importância disso graças à minha analista). Escuto as pessoas e percebo que muitas de suas questões são as mesmas que tenho. Essas pessoas espelham minhas dificuldades, meus sentimentos, minhas dúvidas, até meus draminhas! É enriquecedor perceber meus padrões reproduzidos em outras pessoas; isso proporciona um instrumento para análise de mim mesma. Como se trata de terceiros, fica mais fácil compreender meu comportamento porque ganho uma objetividade que nem sempre é tão aguda quando se trata de olhar somente para mim. Tendo isso em mente, estava curiosa para ver quem me serviria como espelho, e quais questões, padrões e comportamentos seriam espelhados.

No entanto, nesse workshop, o que me encantou não foi o que existia de comum entre mim e as outras pessoas, mas sim o que havia de diferente entre mim e meu irmão. Enquanto crescíamos, sempre gostei de perceber no que diferíamos. Era um modo de notar o que era próprio meu ou dele ou o que provinha da educação que recebemos.

Pois bem, durante o evento, meu irmão foi um espelho a contrario sensu. Foi importante ver o que ele tinha que eu não tinha. Foi interessante não ver um padrão meu reproduzido nele. Em síntese, o que ele não espelhou é que revelou uma imagem de mim mesma.

Percebi o quanto somos diferentes quando inseridos em um grupo. Quando estou entre várias pessoas, sinto uma certa paralisação, um desconforto. Em regra, me sinto muito bem quando interajo com pessoas, mas desde que em número limitado. Basta ter a atenção de um grupo para experimentar uma certa insegurança (embora isso não se aplique quando dava aulas). No caso de trabalhos como o Workshop de Renascimento, sempre que chega o momento de compartilhar as experiências durante a técnica, bate aquela sensação de que nada do que vou dizer vai interessar. Por essa razão, sou sempre a última a falar, na vã esperança de que se esqueçam de mim e de que não tenha de efetivamente dizer qualquer coisa.

Meu irmão, por outro lado, não só falou e interveio com desenvoltura, como se voluntariou a compartilhar! Nem consigo expressar a surpresa que foi perceber que somos diametralmente opostos nessa questão. Isso me fez perceber o quanto esse problema é só meu (no sentido de não provir da nossa formação) e me indaguei onde forjei essa insegurança. Até agora, consigo somente enxergar minha vivência no colégio. Acho que não reagi bem ao papel de melhor aluna que me impus. Criei a pressão de que sempre devia dar a resposta certa, de forma a preencher as expectativas que pensava terem de mim. Naquela época mesmo, dizia para os meus botões que ninguém se importava tanto assim se eu errasse ou acertasse, mas acho que não consegui me convencer, rs. Como consequência, preferia muitas vezes só me calar.

O problema é que isso me parece mais um sintoma do que a causa do desconforto e da insegurança, então continuo sem respostas por enquanto.

E fico por aqui.

3 comentários:

Unknown disse...

Hum... mas nos tempos de colégio você não extamanete respondia ao professor. Fica ali, meio quieta, calada, com o segredo da resposta no caderno, hahahaha.

Luciana disse...

Deve ser muito legal perceber isso em um irmão. Acho que deve dar uma sensação de identificação, não? Por mais que pareça que vocês são diferentes nesse ponto... Acho que nossos irmãos e parentes podem guardar nossas chaves. Como eles tiveram a nossa criação, podem nos ajudar a desvendar nossos mistérios.

Anônimo disse...

Oi, Raquel. Estive na JF e tive vontade de te cumprimentar pelo blog, mas fiquei com vergonha. Tenho vontade de fazer um, mas ainda tenho muitos 'senões'. Bela experiência :) Henrique.