Aconteceu sem querer. Talvez fosse fruto de uma troca de olhares mais insistente. Provavelmente nasceu de uma admiração pelo talento de um e de outro. Possivelmente cresceu de uma empatia coestabelecida.Mais um fato verdadeiro. Fui aluna dessa professora, que não se chama Ivone, é claro, mas que nos fazia rir muito com todas as suas histórias. Infelizmente, depois de quase seis anos, essa é a única de que me lembro.
O fato é que Ivone e Carlos, professora e aluno universitários, estão apaixonados. Para falar a verdade, não sei se já se beijaram ou não. Minha mente romântica imagina que debatem esse amor: afinal, são professora e aluno, e muitos falarão e apontarão dedos. Há um risco. Ela é um pouco mais velha, e atribui a hesitação dele ao medo. Ele? Dele não sei dizer coisa alguma, porque foi Ivone quem me contou a história.
Sei que conversam muito e que há química. Sei que se escondem, sempre receosos dos olhares de quem não entende e recrimina.
E é justamente porque o idílio é secreto que Ivone se virá forçada a fazer o que fez em um dia de aula até então normal. Foi a solução mais rápida que encontrou para uma situação reveladora.
Ivone está em sala, ensinando gramática da língua inglesa para Carlos e os colegas. Falam de tempos verbais. Ivone circula em frente à lousa, enquanto seus alunos, que não somam muitos nessa disciplina, sentam todos na primeira fila.
Ivone vai e vem, escreve no quadro, lê o livro que segura aberto, faz perguntas. Soa quase como clichê, mas olha os alunos por cima dos óculos que escorregam para a ponta do nariz e os questiona. Lê mais exemplos: simple past, present perfect, past perfect, diferenças de usos, regras de formação e aplicação. Sem nem perceber, para em frente a Carlos. Ainda sem se dar conta, estende a mão e acaricia os cabelos do amado.
Um instante de pânico. Agora vão saber! Que fazer? Que fazer?
Então cada aluno se vê agraciado com a mesma carícia, pois Ivone decidiu que o melhor disfarce era fazer de conta que se tratava de uma pessoa extremante carinhosa, que corria os dedos entre os cabelos de alunos cujo nome mal sabia.
E cada aluno fica sem entender como, do nada, a professora de gramática saiu distribuindo carinhos, como se fossem ainda crianças.Tudo para que não soubessem que o amava.
Beijo para a Ivone que não se chama Ivone, se um dia ela também calhar de passar por aqui.
2 comentários:
Hehehe! Outra boa história.
Nooooossa, que situação, hehehe! Ainda bem que professor tem prática em improviso! ;-)
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