quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Finalmente Benjamin Button

Há tempos queria ver O Curioso Caso de Benjamin Button. Consegui ontem.


Meus amigos tinham opiniões bem divergentes acerca do filme. Um destestou, outro foi quase indiferente, e a maioria gostou. Faço parte desse grupo agora.

Durante o filme, queria sempre vislumbrar uma razão de ser para Benjamin Button. Por que nascer externamente velho e internamente jovem? O que a história de Benjamin Button me ensina?

Penso que a tensão entre o físico e o não físico está mais presente em Benjamin Button do que em nós. Na infância, seu corpo é uma prisão para seu espírito. Benjamin é uma criança que não pode correr, subir em árvores ou brincar. Na velhice, sua mente se desconecta do vigor de seu corpo. Button, já senil, não possui motivos ou discernimento para aproveitar o que sua constituição física oferece. Essas foram as cenas de impacto para mim, aquelas em que sua condição física o impede ou o castiga (suas mãos feridas pelas muletas após caminhar de volta para casa), ou em que sua mente o deserta (quando não reconhece mais Daisy).

É interessante notar como, nesse jogo de inversos, o equilíbrio é alcançado, perdoando a obviedade, no meio. Apenas na metade de sua trajetória é que físico e não físico se coadunam. O externo reflete o interno.

Interessante ainda como esse meio é também o único espaço de possibilidade para sua relação com Daisy. As personagens são humanas demais para desconsiderar a direção irreversível que suas vidas tomam. Seria irreal Daisy não se incomodar com seu envelhecimento em frente ao rejuvenescimento de Benjamin. Seria superficial Benjamin não experimentar o medo de ser insuficiente como marido e pai ao avançar rumo à sua juventude física. Não é necessário conhecer o início do filme - Daisy moribunda ouvindo a filha ler o diário de Benjamin - para saber que aquela será uma relação com prazo de validade.


Percebi que falei em "relação" e não sentimento. Mesmo distantes, o sentimento perdurou. Até onde pôde perdurar. Foi tão forte que o último momento lúcido de Benjamin é a visão do rosto de Daisy. Será essa a velha lição de Benjamin Button, ensinada de forma diferente porque brinca com a implausibilidade de uma criança-idosa e um idoso-criança? As imperfeições humanas e as circunstâncias findam relações e não o amor?

Para quem acredita nO Amor, talvez aí esteja uma resposta. Não é a minha.

Li algumas resenhas em que se destaca a inexorabilidade do tempo como a síntese do filme. A história do relojoeiro cego e seu relógio da estação de trem parece confirmar isso. Porém, para mim, o maior destaque foi como somente nascimento e morte permaneceram inalterados, a coisa em si. Começo e fim são paradoxalmente semelhantes seja qual for o sentido tomado. No primeiríssimo momento e no derradeiro instante, nem físico e não físico se opõem: é apenas nascer e morrer.

O filme não foi perfeito. Incomodei-me com o velho recurso do flashback; aliás, não com o recurso em si, mas com o modo como foi utilizado. Confesso que tinha criado a expectativa de ver a história contada de uma forma menos tradicional. Desavergonhadamente assumo que não tenho a menor ideia de como ela poderia ser narrada de outra forma, mas os gênios criativos são eles - os hollywoodyanos - e não eu. A história do furacão Katrina não somente foi irritante como despropositada; isso se o único propósito for dar ensejo à cena final, em que se entende que o relógio será submergido em decorrência da catástrofe que abalou Nova Orleans. O beija-flor primeiro me pareceu até bonitinho, fez-me cogitar se o filme também não tratava de pequenos milagres (Benjamin nascer, Queenie conseguir engravidar, beija-flor voar em lugares impossíveis e condições adversas). Depois restou somente a impressão de ser uma tentativa de o filme ter mais um momento bonitinho, e aí o bonitinho caiu por terra e só ficou absurdo mesmo.

Não entendo muito de atuação, mas Cate Blanchett sempre foi uma favorita. Está radiante como Daisy. Brad Pitt, por outro lado, tem um trejeitos mínimos ao atuar que me incomodam, mas gostei imensamente dele neste filme. Com muito pouco além do olhar, demonstra a dor ao ver Daisy nos braços de outro homem ou sua resignação com a morte de Queenie.

Sem falar que continua lindo.

:o)

7 comentários:

Garota D disse...

O enredo do filme foi o que mais me chamou a atenção, e quando fui assistir já esperava firmemente que a lição que aprenderia era sobre a implacabilidade do tempo, como não importa para que lado ele corra, nós sempre corremos atrás dele. No livro "O valor do amanhã" é citado um trecho que diz que um homem enlouquece tentanto economizar inutilmente o tempo, e frustra-se por vê-lo correr entre os dedos a cada segundo que passa. Enquanto as viagens no tempo e os "buracos de minhoca" são ainda mero fruto de imaginação, nos resta apenas aproveitar os nossos míseros minutos nesta Terra e tentar fazer pelo menos alguns deles inesquecíveis. Como na propaganda "Andróide" de Johnny Walker, "você pode alcançar a imortalidade realizando uma grande ato".
Beijos.

Maddie Anni Vercelli disse...

Gracinha de post Fofurette... Não ia assistir o filme, mas até que gostei depois disso? Um abração

Rafael Montenegro Assunção disse...

Eita. muito bom teka, mas ainda acho que o furacão não atrapalhou o filme. Eu gostei da parte do Beija-flor.

Carol Arêas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Adorei esse filme. Foram cenas muitos emocionantes. Ri,também,com o velhinho que contava a mesma história de que já tinha sido atingido sete vezes por um raio.
Beijos! Parabéns p/ seu blog.

Aluízio Loureiro disse...

Raquel, sou um dos que engrossam a lista dos que gostaram. E acho que vc avaliou muito bem os porquês de gostar do filme. Ele é daqueles que vc sai do cinema, começa a pensar e se dar conta da riqueza de mensagens que o cinema às vezes não consegue transmitir, o que não tira a beleza e brilhantismo do filme e roteiro.
Beijo!

Giovanna disse...

Sim, também adorei esse filme, e, mais uma vez, você captou e comentou bem! Se garantiu! Ah se eu escrevesse assim... Não é puxa-saco não, e nem inveja, mas é que eu gosto da forma como você escreve e para mim é ótimo ler seus comentários! E os do Aluízio e da Karol tb! Reconheço minhas limitações, por isso não faço um blog, tá vendo!! hehe...