domingo, 5 de fevereiro de 2012

Aconteceu na vida real - As almofadas e o mico

Imagine.

Imagine a Valeska. Valeska é dessas pessoas bem finas, que nunca descem do salto, e, se descer, é porque calçou o pé numa sapatilha Jorge Bischoff. Jamais está menos do que bem vestida, nunca é mais do que comedida em seus atos e comentários. Preocupa-se imensamente com a arte do bem conduzir-se e ocupa-se em seguir suas regras com fidelidade. O mundo é sua passarela e seu palco.

Imagine o Marcos. Marcos, como dizem, perde o amigo, mas não perde a piada. Conta com um repertório de histórias surreais, em que figuram deputados e suas esposas de mandíbulas deslocadas, dondocas que não pagam a consulta, casais flagrados em hospitais. Relata os causos com o timing de um humorista, e por isso já pensei que ele está na profissão errada. Acrescente-se a isso um prazer enorme em fazer graça com a cara dos outros, e conclua comigo seu talento para o mundo do entretenimento.

Imagine a Joana. Joana, uma doçura de pessoa, ama rir de si mesma tanto quanto ama rir. À toa. Sério. Joana ri muito, mas é isso, dentre tantas outras coisas, que a torna tão querida. Possui um jeito simples de se portar, que deve ter passado despercebido pelo Marcos, mas adianto a carroça na frente dos bois. Sigamos com a história.

Essas três pessoas, imagine, têm em comum a amizade com uma quarta, que é a Isadora. Isa adora fazer festas em sua casa, com ou sem motivo. Oportunidade de agregar gente e tornar a vida mais bonita. Nos seus festejos, a ordem da noite é curtir sem preocupação com códigos de etiqueta ou de moda. Os comes e bebes ficam à disposição de quem queira servir-se. Os convidados se misturam nas conversas e nas risadas. A anfitriã circula sem compromisso. Modelo relax de confraternização.

Num desses saraus, Marcos e Joana se conheceram. Casou a veia humorística dele com a boa vontade dela em não se levar a sério. Foi uma noite de piadas, muitas às expensas de Joana, mas ela só ria. Foi tanta gargalhada que Marcos chegou a questionar a sanidade mental de Joana. Em voz alta e na frente dela. Outra piada.

Aí o tempo passou. Isadora ficou ocupada demais para organizar outras festinhas. Só que, em janeiro de 2010, chegou a data dos seus trinta anos, e isso merecia ser celebrado. Planejou uma comemoração ao seu jeito, em que todos os cômodos da casa fossem ambiente de festa, onde todos deveriam estar de pés descalços e sentar confortavelmente em almofadas. No convite, ficava a dica: traga a sua.

Como se tratava de uma ocasião especial, essa festa Valeska não pensou em dispensar. É bem verdade que seu estilo colidia com o de Isadora, no entanto, em consideração à amiga, desceria do salto e da sapatilha Jorge Bischoff. A bem da verdade, naquela noite, caprichava no seu pé um Manolo Blahnik, que ela deixou ornamentando outro pé, o da porta da sala, local onde os convidados deixavam seus sapatos.

Meia hora mais tarde, Marcos chegou com suas almofadas, seguindo à risca a orientação do convite. Após tirar os mocassins e entrar, vasculhou a sala em busca da aniversariante, mas não a encontrou. Viu, porém, um rosto que julgou conhecido, dirigiu-se à mulher e anunciou-lhe as almofadas que trazia, levantando-as no ar como se fossem a prova do que falava. A resposta que obteve de sua interlocutora foi um silêncio amarelo. Ele, que não é de se preocupar com coisa alguma, notou o sorriso sem graça, mas seguiu em frente em direção ao quintal.

Alcançando o último cômodo da casa, surpreendeu-se ao ver Joana, já sentandinha em seu assento acolchoado. Naquele momento, percebeu que havia cometido um erro. Após cumprimentar todos e sentar-se, perguntou a um conhecido quem era aquela mulher loura que estava lá na sala.

"Ah, é a Valeska."

Ele riu, divertindo-se imensamente com a situação.

"Pensei que ela fosse a Joana", disse.

Continuou sorrindo como o gato que engoliu o canário.

"Pensei que ela fosse a Joana, mostrei minhas almofadas pra ela e disse:

Olha o que eu trouxe pras tuas hemorroidas!"

O riso mais alto foi o da Joana.



Outra história que a licença poética enfeitou. ;o) Exagerei muito na Valeska, que, até onde sei, não tem Jorge Bischoff e muito menos Manolo Blahnik, mas era necessário para que vocês compreendessem o tamanho da gafe do Marcos.

4 comentários:

Luciana disse...

Kkkkkk!! Ótima!!

Anônimo disse...

Não lembro disso. Amnésia pelo uso abusivo de drogas no dia do acontecido. Mas deve ter sido legal. Eu nem conhecia a Valeska... Parece que o cão adivinha e escolhe a dedo.
O Marcos da história da hemorróida da Valeska.

Raquel disse...

Adorei!!!

Giovanna disse...

Hahahaha... Essa história é memorável! Pena que a Valeska não sabe até hoje que foi só um engano... ;)
Adorei sua narração! Se prepare para transcrever outras historinhas do pescador!
Giovanna