sexta-feira, 1 de abril de 2011

Em defesa do movimento

Tive um professor de balé que dizia para fazermos resistência ao movimento. Estranhei quando o ouvi pela primeira vez. Ao fazermos plié, que é basicamente dobrar os joelhos, no momento em que começávamos a voltar para a posição inicial, ele advertia: "oferece resistência". A ordem significava exercer uma força contrária ao movimento que executávamos para esticar os joelhos. No final da aula, percebia que isso trabalhava mais os músculos e era um ótimo conselho para uma bailarina.

Um ótimo conselho somente para uma bailarina.

Hoje me dei conta de que fazer resistência ao movimento, pelo menos na minha vida, é sinônimo de ficar inerte. E, até onde sei, ficar inerte só me fez mal. Com base no que ouço de amigos, acho que ficar parado também lhes faz mal. Parece que o que nos causa esse mal-estar é sabermos que podemos agir em nosso bem e permanecermos no mesmo lugar, oferecendo resistência ao movimento natural de explorar nossa potencialidade.

Daí vem uma questão. Acho que somos feitos para evoluir. Nascemos com tendência ao movimento. Naturalmente, temos ímpetos de vencer nossos limites. Acabei de escrever essa frase e me lembro da L., minha sobrinha de coração. Dinho e eu a levamos para o Iguatemi uma vez. Aquela área em frente à Riachuelo estava vazia, e crianças aproveitavam para correr e rolar no carpete verde. Ingenuamente recomendei à L. para ficar só na parte verde. Depois de umas três voltas, vi-a subir os degraus para sair dali. Ia chamá-la quando o Dinho me interrompeu: "Deixa. Ela só tá querendo testar os limites." Se isso está presente em uma criança, ainda livre de medos e recalques, provavelmente está em nosso âmago.

Tendemos ao movimento, mas infelizmente amarras e condicionamentos nos prendem. Exercem também resistência. Quando sucumbimos a eles, nos sentimos mal. E se não fizermos nada para vencê-los, se deixarmos o peso deles impedir nossa caminhada, nos sentimos pior, porque estamos indo contra a nossa natureza, estamos oferecendo resistência ao movimento.

E esse conselho só é bom para bailarina.

E lembro que nem fui uma bailarina feliz.

2 comentários:

Luciana disse...

É a tal da lei do mínimo esforço, né? Just go with the flow... ;-)

Anônimo disse...

Lindo o post! (Só vi agora e por causa do link no post atual)
Bjão. ICL