segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O esporte e a mente


Até que o Dinho já havia me explicado uma vez. Entendi, mas não soube enxergar a real importância. Nesses últimos dias, acho que comecei a compreender melhor.

Falo da dimensão psicológica que compõe a prática esportiva. Por engano, reduzi esporte a treino e força física. Não me passava pela cabeça incluir a cabeça do atleta nessa equação. Para mim, a dificuldade e as provações se encontravam somente no nível físico.

A ficha começou a cair quando os treinos do Dinho para o Piocerá (dizem ser o maior rally do Nordeste) aumentaram em dificuldade. Vi-o chegar de um treino que durou nove horas e meia. Nove horas e meia sobre uma bicicleta, percorrendo trechos de areia e subidas sob o Sol fortíssimo da nossa terrinha.

Já pensaram na agonia (desculpem o cearês) que deve ser pedalar horas e horas debaixo de Sol quente seguindo trilhas desafiadoras? Quantas vezes não devem surgir pela mente do ciclista pensamentos tais como "não vou conseguir"? Quantas vezes esses pensamentos não podem convencer o esportista a desistir antes da hora?

Duvidam que pensamentos possam fazer isso? Para ilustrar o poder que damos a eles, sigo na direção contrária e conto das pulseirinhas Power Balance. Meu mundo caiu quando li esta postagem no Repare o Tempo. Embora não a tivesse experimentado, vi o Dinho quase virar homem elástico quando testou uma. Soube que era a febre dos triatletas. E depois lá veio o fabricante do produto dizer que aquilo era balela. Então, todas as manifestações de maior flexibilidade e equilíbrio provinham somente da crença dos usuários da Power Balance. Os atletas pensavam que podiam; logo, conseguiam.

Refletindo sobre isso, confesso que, de certa forma, esse aspecto positivo da mente me deixou meio confusa hoje, rs. É que, segundo o que aprendo em trabalhos como Renascimento e Kyol Che, a mente é uma coisa sem futuro que nos rouba de nossa verdadeira essência. É sempre egoica. Dentro dessa perspectiva, como conciliar essa concepção com o efeito placebo que a mente produziu no caso das pulserinhas?

Acolhendo a possibilidade de que posso ter entendido errado tudo o que me ensinaram, mesmo assim matutei, matutei e matutei. Cheguei à conclusão de que nada é melhor do que a coisa como ela realmente é. Tudo aquilo que é baseado em algo falso não se sustenta quando a inverdade é exposta. Por exemplo, será que agora os usuários da Power Balance conseguirão as mesmas proezas de outrora? Hoje, pedi a pulserinha do estagiário emprestada, ensaiei um retiré e não obtive resultado diferente do normal. Será que se houvesse tentado antes de ler o post, eu não teria ficado facilmente horas e horas em um pé só? Provavelmente sim. Isso não seria bom? Não, porque não é a verdade. No momento em que perdesse a fé naquilo, não funcionaria mais. No final das contas, crenças são precárias e pensamentos são instáveis. Quando nos identificamos com eles, somos tão precários e instáveis quanto.

Fechando o círculo e voltando para a dimensão psicológica dos atletas, será que alguém os lembra de estar sempre um passo à frente de suas mentes? Vencer os pensamentos durante uma prova desgastante deve ser tão difícil quanto enfrentar vento, areia e subida. Mas eles conseguem e nos deixam a lição de fazer o mesmo.

p.s.: Dinho estava programando atualizar o Ciclismo, Música & Other Stuff com posts sobre as provas do Piocerá e os lugares que estão percorrendo. Tomara que ela tenha condições de fazer isso. Quem quiser acompanhar, é só seguir o link.

p.p.s.: Este post acabou resumindo-se ao ciclismo porque é a realidade com que tenho contato através do Dinho. Na verdade, tiro o chapéu para todos aqueles que são atletas.

5 comentários:

b arrais disse...

Intrigante, né?

Luciana disse...

Sempre achei que as pulseirinhas tinham jeito de placebo... Mas o pessoal da Power Balance admite apenas que não há "comprovação científica", viu? Eles não admitiram que o treco é ineficaz, não.

Então, for whatever matters, fica a dúvida... ;-)

Henrique disse...

Nem sei o que dizer, Raquel (de aparecer aqui). Dá vergonha e dá alegria :) Quanto ao poder da mente, de concentração, de crença e de vencer o limite (aquilo que você acha que é o seu), isso é fantástico. É o que nos move, no esporte e na vida. O problema - no esporte - é quando o corpo já não reage como há 10 anos, rs. abçs!

Mariana disse...

raquel, acho que a saúde física importa, claro, mas como você disse aí vendo o esforço do dinho, tem muito mais a ver com a cabeça.

principalmente para os que somos atletas (?) amadores, comparar nossa perfomance física com outros é perda, pra mim, óbvio, de tempo.

com a yoga aprendi muitas coisas. uma delas foi a tentar JAMAIS olhar pro resto da sala, a não ser que seja pra tirar alguma dúvida. foi dificilimo não pensar: meu deus, como é que essa menina fica de cabeça pra baixo, eu nunca vou conseguir isso.... enfim.

meu professor querido me disse um dia (com uma cara de quem estava quase desconfiando da sua própria frase) que ao nos imaginarmos na postura perfeitinha é mais fácil chegarmos a ela. tenho tentado. tem dias que estou melhor e acontece. tem dias que não consigo fazer nem meia aula.

essa profundeza do corpo (e não só da mente, porque eu não sei separar as duas coisas, nunca soube) me encanta mais um pouquinho a cada dia.

beijo grande.

*so nao gostei do DESCULPE O CEARÊS. :) acho que não tem que pedir desculpa. mas isso sou só eu sendo chata.

Raquel disse...

Ih, Mari foi mal com o "O desculpe o cearês". Quando escrevi, pensei que minha motivação fosse advertir os leitores que não são daqui que estava falando meu dialeto, rs. Mas como boa frequentadora de divã de analista, agora me pergunto se não há mesmo um preconceito ou um complexo por trás da frase... Afinal, eu poderia executado a mesma intenção de várias outras formas...
Adoro quando você passa aqui.
bjo