terça-feira, 31 de março de 2009

Rise and Shine

O livro gira em torno da vida de duas irmãs de personalidades radicalmente distintas. Bridget, a mais nova, é assistente social e tem um desses namoros despojados com um cara bem mais velho. Meghan é uma apresentadora de TV influente, casada e mãe de um filho. As duas estão presas em papéis que elas próprias escolheram e deixaram que as circunstâncias os perpetuassem.

Em uma manhã de segunda-feira, Meghan comete um erro grave enquanto apresenta seu programa Rise and Shine. A partir daí, eventos se desencadeiam e ameaçam o mundo das duas irmãs.



Posso dizer que gostei muito desse livro, cuja autora é Anna Quindlen. Ele é anunciado como um bestseller, mas aparentemente todos os livros são bestsellers nos Estados Unidos, então isso não assegura uma boa leitura. Meus motivos para arriscar a recomendar esse romance são os que seguem abaixo.

Primeiramente, acho que Anna Quindlen é uma escritora inteligente. Adorei seu trabalho não porque a autora experimenta com a linguagem ou algo do gênero. Apreciei-o porque sua prosa é enxuta, e principalmente porque Quindlen tem ideias originais ao descrever uma personagem ou ao comentar um costume e utiliza-se de uma linguagem sem adornos para isso.

Outro aspecto de valor no livro é que as personagens parecem ser de carne e osso em razão da maneira honesta como são retratadas. A maioria delas é cativante.

Penso que esse é o primeiro livro que li de uma autora americana não-canônica que realmente apresenta crítica social. Claro que isso não quer dizer nada em face dos poucos outros livros que li até hoje, mas é que se tornou comum nesse gênero de romance ver algum resenhista declarar algo do tipo "fulana critica a sociedade nova iorquina com humor impiedoso e blá blá blá". Há comentários assim acerca de The Devil Wears Prada e Sex and the City. Se existe crítica nessas obras, então Rise and Shine é um tratado sobre a sociedade de Nova York. Isso configura um exagero de minha parte, é claro. Mas assim o faço para ressaltar que, em Rise and Shine, há o que considero crítica social. Foi por meio desse livro que descobri a desigualdade social em Nova York, que confirmei, a partir de uma autora norteamericana, a hipocrisia da sociedade, das emissoras de TV e do órgão que as supervisiona.

No entanto, como nada é perfeito, Rise and Shine teve lá suas falhas no meu humilíssimo ponto de vista que, a despeito de uma formação em Letras, é leigo. Enquanto lia, percebi que minha leitura simplesmente não fluía. Atribuo isso a uma certa prolixidade da autora. Não é que Quindlen utilize mais palavras do que deve, mas é que apresenta ao leitor mais do que se espera. A escritora empregou uma estrutura que se repete em muitos capítulos: há frequentemente uma rememoração de um evento ou uma exposição de um posicionamento da narradora (Bridget) antes de os fatos pertinentes àquele capítulo se desenrolarem em meio a mais algumas digressões. Da metade do livro para o final, eu já pensava "Ai, que saco."

Defeito à parte, acho que Rise and Shine vale a pena. Tentei encontrar alguma frase que mostrasse a criatividade de Quindlen, mas é claro que agora folheio e folheio e não acho. Por outro lado, havia dobrado a pontinha da página 203 (Garota_D não me mate!) porque há uma verdade contundente que Bridget anuncia neste diálogo com Meghan:
"There's something so satisfying," Meghan said, "about living a life like this. You get up and you run a couple of miles. You come home and you eat. There are three bathing suits, and you put one on. There are three pairs of shorts, and you change into one of them. There are ten books, and you choose one. You read, you swim, you eat, you drink. You sleep. No one needs you to do more. Maybe that was her [mãe da Meghan e da Bridget] deal."
"Except for one thing. She had children. Two daughters."

"Maybe she thought we didn't need her. Maybe she thought we had lives of our own and we didn't need her."

"Are you nuts? We were little kids. Of course we needed her."
"Did we? We were at school. Nelly made our meals. What did we need her to do?"

"You don't need a mother to do anything.
A mother doesn't prove anything by being there. She proves something by not being there!" (grifei)

Um comentário:

Garota D disse...

Fiquei curiosa para saber o que ela fez de errado! Da próxima vez que eu for à JF, você me conta. Quem sabe eu enfrento outro livro em inglês?
Quanto à dobrar a pontinha da página... tenho que confessar uma coisa: quando estou sem marca texto e encontro uma frase muito impactante, eu dobro a pontinha bem pouquinho só para saber onde é. Mas se me perguntar eu nego até a morte.