terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A importância de ressignificar


Anos atrás, o colega R. M. me falava de Kant dentro da salinha de um projeto de extensão de que fazíamos parte na faculdade.

"Aí, pra Kant, é como se víssemos o mundo através de uma lente. Tudo depende da lente com a qual vemos o mundo. Já pensou? Se uso uma lente cor-de-rosa, vejo o mundo assim, cor-de-rosa. Troco por uma lente azul, e vejo o mundo diferente."

De que cor serão as minhas lentes?

Mais importante, quando vou trocá-las?

E essa pergunta surge, porque, faz um tempinho, queria escrever sobre a importância de ressignificar nossas crenças e os acontecimentos de nossas vidas.

Começo com os meus fracassos.

Demorou um ano e várias sessões de análise, mas um dia finalmente entendi que, porque uma experiência não terminou com o êxito que almejava, ela não deve ser descartada. A razão para tanto é bem simples: sou o que sou neste momento graças àquela experiência. Aquele evento faz parte de mim, e o futuro à minha frente ganha algumas possibilidades mais em virtude do que conheci com aquela experiência.

O grande problema é o fardo que o insucesso adiciona a essa experiência, peso que não deveria existir. Há uma crença fortíssima em nossa sociedade que vincula felicidade a obter o que se quer ou a acertar - sim, porque cometer erros é um suplício para mim e acredito que para a maioria também. Particularmente, com isso perco a perspectiva das coisas, perco a noção do que realmente importa, esqueço que é sempre melhor buscar se enriquecer com o que acontece, esqueço que é mais salutar ser grata pelo que vivi.

É nesse sentido que importa ressignificar. Há tantos, tantos padrões e formas pré-concebidas de encarar situações que causam sofrimento desnecessário. Permeiam nossa educação familiar e escolar, nossos ambientes de lazer e de trabalho, nossas leituras e passatempos multimidiáticos. Imprimem em nossas mentes a necessidade do sucesso, propagam a meta de se conseguir tudo de primeira, disseminam o dever de ser o melhor de todos. E engolimos tudo isso. É impressionante como não sabemos lidar com frustrações, mas, ao mesmo tempo, continuamos criando e perpetuando interpretações e modos de ver as coisas que só ensejam exatamente isso: frustração. De certa forma, que seres masoquistas nós somos!

Falta-nos olhar os acontecimentos de nossas vidas com outras lentes, desta vez lentes que não foram coloridas por esses padrões e formas pré-concebidas. Ouvi em algum lugar, acho que em um DVD do Eckhart Toller, que não existem erros, mas experiências. Isso é ressignificar. É colocar entre aspas o "fracassos" que escrevi ali em cima. A vida fica tão mais simples assim.

Para mim, o desafio maior é ser uma pessoa que ressignifica. Digo isso porque é comum me sentir chateada quando as coisas não dão certo. Aí tento dar o passo seguinte e entender que essa chateação só tem lugar em um contexto antigo, quando ainda interpretava fracassos como fracassos sem aspas. Se dissesse que consigo melhorar só com isso, estaria mentindo. Mas quero acreditar que, um dia, não precisarei seguir passos: estarei tão centrada, tão certa do que a vida é, que naturalmente aceitarei os "fracassos" como parte dela. Sem sofrimento. Com gratidão.

Porque aí já terei ressignificado de verdade.

Já estarei usando minhas novas lentes multicoloridas. :o)

2 comentários:

Luciana disse...

E viva as lentes multicoloridas!!

Flalbert Cecconato disse...

Ótimo texto, ótima experiencia!